sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Tartarugas americanas ameaçam cágados portugueses - Vida - Sol

Tartarugas americanas ameaçam cágados portugueses - Vida - Sol

 
Há cada vez mais pessoas a abandonar as espécies americanas nos rios e lagos, pondo em risco a sobrevivência dos cágados. «É um flagelo», diz o Instituto de Conservação da Natureza. Tartarugas americanas abandonadas pelos donos estão a invadir as lagoas e rios portugueses e a ameaçar duas espécies de cágados nacionais, uma delas em risco de extinção.
«Há cada vez mais pessoas a abandonar estas tartarugas. Compram-nas nas lojas e nem imaginam que elas podem crescer tanto», explica ao SOL o veterinário Joel Ferraz, do Centro Veterinário de Animais Exóticos no Porto. «Acabam por libertá-las nos rios e nos lagos com muita frequência, pondo em risco as espécies de cágados autóctones».
As tartarugas abandonadas – que continuam a vender-se nas lojas de animais, apesar de algumas espécies estarem proibidas desde 1999 – estão a tornar-se um problema grave para o ecossistema, alertam os especialistas.
«A situação é muito mais grave do que se pensa, até porque a tartaruga da Flórida está na lista das 100 espécies invasoras mais perigosas», alerta a engenheira zootécnica do Parque biológico de Gaia, Ana Alves.
A sua venda foi proibida em 1999, por «risco ecológico», mas as tartarugas – que podem viver até aos 50 anos – continuam a ser comercializadas (ver texto em baixo). A sua libertação está a pôr em perigo a sobrevivência do cágado-mediterrânico e do cágado-de-carapaça-estriada, o mais ameaçado em Portugal.
As espécies americanas disputam o mesmo habitat, mas são maiores, mais agressivas, põem mais ovos e fazem posturas mais frequentes do que os cágados autóctones – explica a especialista.
Desde o ano passado que está em campo um projecto destinado à erradicação de tartarugas invasoras numa parceria entre entidades nacionais, como o Parque de Gaia, e a Comunidade de Valência, em Espanha. «O projecto provou que há fortes suspeitas de que estas tartarugas invasoras estão a reproduzir-se na natureza. Só no Algarve, foram recolhidas cerca de 100  tartarugas exóticas no ano passado», diz Ana Alves. Além de porem em risco outros cágados ameaçam, também peixes e anfíbios, dos quais se alimentam.
Crimes ambientais
O Parque de Gaia é um dos locais que aceita receber estas tartarugas. Só no ano passado foram entregues 100 tartarugas que os proprietários queriam abandonar.
Trata-se de um problema que o Instituto de Conservação da Natureza e Floresta (ICNF) conhece bem. «É um flagelo» – diz ao SOL Anabela Isidoro, daquele instituto. «A maioria das pessoas acha que está a agir correctamente ao libertar os animais na natureza, mas na realidade está a prejudicar o ambiente e a cometer um crime punível por lei», avisa.
Quase diariamente batem à porta do ICNF pessoas que querem deixar as tartarugas que tinham em casa. É o único local em Lisboa que recebe estes animais, já que o Jardim Zoológico deixou de o fazer porque o número de pedidos tornou-se «problemático». «Estas espécies encontram-se já em número excessivo», explica a responsável de comunicação do Zoo. Os animais ocupam o lago do reptilário e os lagos e cursos de água que circundam as ilhas de primatas no Jardim Zoológico. «Não podemos ultrapassar os 150 indivíduos porque começa a verificar-se competição entre cágados e destes com outras espécies», remata.

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