sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Quando a austeridade rasteira a lógica política | iOnline

Quando a austeridade rasteira a lógica política | iOnline

Nos Açores, o fim do ciclo de César trazia esperança ao PSD. Mas Berta Cabral acabou por escorregar nas medidas ditadas por Lisboa.

Nos Açores tem sido assim: presidente do governo regional que sai de cena dá lugar a cara nova e do outro campo político. Uma espécie de rotatividade que na realidade conheceu apenas dois protagonistas eleitos (ver ao lado), mas que levava a acreditar numa sequência idêntica. Era aqui que entrava a social-democrata Berta Cabral, não fosse o mês de Setembro trazer duas intervenções fatídicas de Lisboa que fizeram recuar a intenção de voto dos açorianos. Berta sofreu o embate da austeridade ditada do continente e Passos Coelho prepara-se para assistir, nas eleições de domingo, ao primeiro cartão amarelo eleitoral, ainda que regional, à sua acção governativa.
A relação directa entre a austeridade e o recuo nas intenções de voto na candidata social-democrata é detectada por um açoriano bem entendido naquelas lides. Mota Amaral admite ao i que Berta Cabral sofre com “o impacto das últimas medidas e o seu reflexo ao nível nacional. O PS considerava-se derrotado e renasceu”, analisa. O ex-presidente do governo regional faz devida distinção com o seu tempo na liderança do executivo (de 1976-1995), mas por uma razão: “Há mais canais de informação a debitar notícias. Há maior permeabilidade e as questões nacionais têm maior impacto na opinião dos eleitores regionais.”
Visto da outra região autónoma, a Madeira, o castigo eleitoral a Berta tem outra leitura. O social-democrata Guilherme Silva diz que tudo depende do discurso a que os PSD regionais habituam quem os ouve. Na Madeira, que representa no parlamento, o deputado diz que “não se tem o discurso da independência e da autonomia apenas quando se está em eleições”. “Se a estratégia do PSD-Açores fosse afirmativa ao longo do tempo, porventura agora o contágio seria menor”, admite ao i.
Mas o presente envenenado que Passos Coelho e Vítor Gaspar ofereceram a Berta Cabral – um novo embrulho de austeridade de um Orçamento do Estado novamente duro – terá resposta açoriana amarga? A primeira chegou ainda durante a campanha, com a candidata do PSD regional a demarcar-se de forma evidente de Passos, depois o presidente do PSD destacou-se por ser o único líder partidário a não marcar presença na região em tempo eleitoral e, por fim, as últimas sondagens mostram o PS a liderar na região, ocupando o lugar que já foi de Berta nestes estudos de opinião. Os socialistas preparam-se para manter o poder regional, com Vasco Cordeiro a suceder a Carlos César, deitando por terra a ambição social-democrata de voltar a ocupar um posto onde já esteve por 20 anos.
Ao PSD de Berta não valeu sequer a estratégia de comunicação que viajou do continente, levada por uma agência que pertence a Rodrigo Moita de Deus, que também é membro da Comissão Política Nacional social-democrata, que nas últimas semanas tem marcado presença em solo açoriano para acompanhar de perto a candidata.
Em termos de estratégia, o ponteiro de Berta tem estado muito virado para o PS, que governa a região desde 1996, mas do outro lado a resposta é colar a candidata social-democrata ao que se passa no plano nacional. Uma relação de campanha evidente, a que Berta tem respondido com a sua autonomia face ao PSD nacional. Pelo meio houve apoios de peso, caso dos ex-líderes Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Marques Mendes, mas a visita dos número dois do PSD, Jorge Moreira da Silva, acabou por só evidenciar a ausência do número um, Passos Coelho, marcando o dia com um rol de explicações da candidata e apoiante nacional.
A verdade é que a lição política dos resultados deste domingo também vai ser tirada na sede nacional do PSD, na Lapa. “Vai haver um esforço de leitura nacional dos resultados”, diz Mota Amaral. Guilherme Silva considera que essa análise “é uma extrapolação”. Os Açores são “um universo demasiado restrito para permitir essa leitura”, diz o deputado apoiado pelo seu colega de bancada Luís Menezes que avisa que uma “eleição regional deve ser vista apenas assim”.
Os sociais-democratas conservam a esperança de virarem as sondagens – com Mota Amaral a avisar que “o meio é muito difícil de sondar” – e ainda acreditam “que o bom senso dos açorianos está bem desperto face ao que o PS deixa de herança nos Açores”.

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