sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Descobertas células na origem do mais letal cancro cerebral - Ciências - PUBLICO.PT

Descobertas células na origem do mais letal cancro cerebral - Ciências - PUBLICO.PT

Até aqui, os especialistas pensavam que o glioblastoma multiforme, o mais comum e agressivo cancro do cérebro nos seres humanos, tinha a sua origem nas células da glia, aquelas que asseguram a coesão do tecido cerebral. Mas agora, resultados obtidos pela equipa de Inder Verma, do Instituto Salk, EUA, vêm demonstrar algo de inesperado: que este tumor pode ser gerado por outros tipos de células nervosas — e nomeadamente pelos próprios neurónios —, quando elas regridem para um estado “infantil”. Os resultados, publicados esta sexta-feira na revista Science, permitem perceber o alto nível de reincidência deste cancro e sugerem novos alvos potenciais para o tratar, explica um comunicado daquela instituição californiana.

Cérebro de ratinho com um glioma (a verde)  
Cérebro de ratinho com um glioma (a verde) (Cortesia de Eric Bushong)


Apesar de relativamente raro nos países ocidentais, onde anualmente atinge duas a três pessoas em cada cem mil, o diagnóstico de glioblastoma multiforme constitui quase sempre uma sentença de morte: os doentes não sobrevivem para além de dois anos. E os tratamentos aplicados — quimioterapia, cirurgia, radioterapia — são antes de mais paliativos. Nada parece conseguir travar este cancro de crescimento rápido — e na imensa maioria dos casos não há tratamento que o impeça de voltar.

Os cancros (em geral) costumam ter origem num punhado de células — ou mesmo numa única célula — que de repente começa proliferar descontroladamente. A teoria actualmente mais consensual é a de que existem, nos tumores malignos, “células estaminais cancerígenas” ou “células iniciadoras dos tumores”. Tal como as células estaminais normais dos embriões (que são capazes de dar origem a todos os tecidos do organismo), estas células conseguem dividir-se vezes sem conta e pensa-se que é delas que descendem todas as células de um dado cancro.

Só que ninguém sabe de onde vêm estas células estaminais cancerígenas. Não é muito claro se elas resultam de uma transformação maligna de células estaminais adultas (que existem normalmente no organismo, incluindo no cérebro) ou de células já diferenciadas que regrediram e ganharam características das células estaminais.

No caso do glioblastoma, só muito recentemente (no Verão) é que a equipa de Luis Parada, da Universidade do Sudoeste do Texas, nos EUA, identificou as células estaminais cancerígenas (ver “Há cada vez mais provas de que o cancro nasce de células estaminais”, PÚBLICO de 03/08/2012).

Inder Verma e colegas quiseram determinar a origem dessas células. Para isso, utilizaram vírus modificados de forma a conseguirem inactivar dois genes ditos “supressores de tumores”, que regulam a divisão celular: o célebre p53, também conhecido como “guardião do genoma”; e um outro, o NF1. Ambos estão implicados em cancros como o glioblastoma, quando sofrem mutações que impedem o seu normal funcionamento.

Os cientistas injectaram directamente os vírus em vários tipos de células do cérebro de ratinhos, e em particular em neurónios do córtex cerebral. E descobriram que, quando estas células nervosas adultas eram alteradas pelos vírus, tornavam-se capazes de formar gliomas malignos.

“Os resultados”, diz Dinorah Friedmann-Morvinski, autora principal do trabalho, “sugerem que, quando dois genes críticos são inactivados, [vários tipos de] células maduras, diferenciadas, adquirem a capacidade de se ‘desdiferenciar’, voltando para um estado semelhante ao das células progenitoras (...) e podendo a seguir dar origem a todos os tipos de células observadas nos gliomas malignos.”

O trabalho “permite explicar a taxa de recorrência dos gliomas após o tratamento”, diz Verma. E indica ainda que não basta eliminar as células estaminais cancerígenas para conseguir travar este cancro, “porque qualquer célula do tumor que não for erradicada poderá continuar a proliferar e a induzir a formação de tumores, perpetuando o ciclo”.

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