segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Zona Euro. O que inglaterra sempre soube | iOnline - Notícias de Portugal, Mundo, Economia, Desporto, Boa Vida, Opinião e muito mais.

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Cameron emerge como líder nos tempos que correm e aposta no crescimento, mesmo sem a UE

"Nevoeiro no canal. Continente isolado" - a frase foi manchete de um jornal britânico no final do século xix nos tempos áureos do Império Britânico e da revolução industrial. À falta de provas históricas, tornou-se uma espécie de mito urbano, símbolo do afastamento entre a Europa e o reino de Sua Majestade. Actualmente, com a crise económica, o nevoeiro ganhou outro tipo de contornos.
Os britânicos, conservadores e precavidos, mantiveram a sua moeda, a sua soberania e até o seu sistema métrico, perante um protagonismo da Alemanha, na União Europeia (UE) que acabou por se traduzir numa machadada na coesão social continental. A construção europeia, em que a própria Grã-Bretanha participou desde o pós-Segunda Grande Guerra, vive uma crise nunca vista. Apesar de começarem a aparecer alguns sinais frágeis de retoma em alguns estados-membros, à excepção da Grécia.
Todo este quadro, em particular na zona euro, leva a que surjam algumas perguntas inevitáveis: teve a Inglaterra razão em manter a sua individualidade? Será o euro um erro? As opiniões dividem-se. Se é certo que a união monetária trouxe uma moeda forte e baixou os juros nos países da zona euro, também é certo que lhes retirou o instrumento da política cambial, diminuindo a sua soberania. E, sobretudo, é muito difícil sem mecanismos de compensação orçamental ter uma moeda que sirva da mesma maneira a Alemanha e os países da periferia europeia. Por outro lado, a manutenção de uma libra independente e forte, que encarece as exportações, também pode explicar parte do ano negro na economia do Reino Unido, em recessão técnica no primeiro semestre, que viu o seu défice comercial aumentar.
No próximo ano podem melhorar as economias dos países periféricos e da Grã-Bretanha. Para a moeda única, pode ser tarde de mais para voltar atrás.
PIB. Unidos pela tendência, afastados pelos valores
A tendência de crescimento da zona euro acompanha a tendência de crescimento no Reino Unido. Porque os grandes parceiros comerciais ingleses partilham a moeda única e porque, apesar de tudo, a Inglaterra é europeia – geográfica e economicamente.
Com eleições marcadas para 2015, o primeiro-ministro inglês David Cameron parece ter conseguido acalmar os medos do ano passado, virando a economia para caminhos mais auspiciosos, com os dois últimos trimestres a mostrarem um crescimento de 0,3% e 0,6%, respectivamente. Cameron conseguiu diminuir para um terço o maior défice orçamental europeu desde a Segunda Guerra Mundial e agora pode estar a liderar a maior recuperação económica que a União Europeia verá este ano.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), as perspectivas para os 17 países da zona euro são de um crescimento de 1,5% do PIB para o segundo semestre de 2015. Segundo um relatório da PWC, espera-se para o Reino Unido um crescimento de 4% para o ano de 2016.
Desemprego. Inglaterra está melhor mas não o suficiente
Há actualmente 2,51 milhões de pessoas sem emprego. Segundo o ONS (Office for National Statistics), este ano registou uma subida de 307 mil novos empregados em comparação com o ano passado.
As notícias são animadoras, mas a taxa de desemprego permanece nos 7,8%, bem acima do desejado. Para o governador do Banco de Inglaterra, o ideal seria a taxa estabilizar nos 7% e, enquanto isso não for conseguido, prometeu não aumentar taxas de juro.
Para alguns analistas, o aumento do número de empregados “não é sinónimo de qualidade”. John Philpott, economista do The Jobs Economist, diz que “os números podem continuar a mostrar-se positivos, mas, se mergulharmos mais nas estatísticas, percebemos que milhares de pessoas continuam a ser prejudicadas por uma combinação de falta de emprego e emprego mal pago”. Ainda assim, os números mostram-se bem mais animadores que as perspectivas na zona euro.
Inflação, confiança e serviços. Até quando?
O que foi em tempos uma potência industrial é cada vez mais uma economia de serviços. Segundo o relatório de Julho da PWC sobre
o crescimento britânico para os próximos anos, “os serviços manter--se-ão o principal motor de crescimento, apesar de se esperar uma melhoria nas indústrias manufactureiras e da construção nos próximos 18 meses”.
Os últimos inquéritos à confiança dos consumidores mostram uma ligeira recuperação, sinais muito positivos para uma economia em que o consumo são dois terços dos gastos.
No entanto, a inflação nos índices de preços no consumidor vai manter-se alta, rondando os 2,7% em 2013 e os 2,4% em 2014.
A PWC prevê uma inversão de tendência para o ano de 2017, ainda que sobre riscos de um crescimento global que aumente os preços das matérias-primas. Dependentes destes factores estão os ganhos reais dos consumidores, que podem aumentar a partir de 2017 – comportamento que não se verifica há mais de seis anos.
Política Monetária. Libra acompanha crescimento
Em 2012 as manchetes económicas britânicas gritavam em uníssono “Libra: pior performance monetária do ano”. A queda na valorização da moeda inglesa vinha a reboque da recessão económica e de um ano negro para as exportações.
A semana passada, a libra esteve a valorizar face ao dólar e ao euro, reflectindo mais uma vez sinais positivos da recuperação económica na Grã-Bretanha. O aumento da libra a semana passada foi o maior em mais de oito semanas e aconteceu quando os investidores apostavam que o  governador do banco central de Inglaterra, Mark Carney, ia recuar no seu anúncio de manter a taxa de juro baixa até 2016 – altura em que se espera uma descida significativa na taxa de desemprego.
Apesar dos altos e baixos, a libra esterlina parece sempre recuperar face a um euro manchado por problemas estruturais e por uma crise que, apesar dos sinais de melhoramento, permanece mais dependente do ambiente político do que do económico.

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