quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Europa. Universitários todos iguais, mas uns muito mais iguais do que outros | iOnline - Notícias de Portugal, Mundo, Economia, Desporto, Boa Vida, Opinião e muito mais.

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Estudantes nórdicos não pagam para estudar e ainda recebem. Portugueses pagam propinas elevadas com apoios sociais insuficientes

Os estudantes europeus têm mais ou menos dificuldade de acesso ao ensino superior de acordo com o país de origem, à semelhança do que se passa em quase todos os sectores da vida quotidiana do conjunto dos cidadãos dos 27 estados da União Europeia. Os dados mais recentes da UE denunciam diferenças chocantes. Os mais ricos do Norte da Europa não pagam nada para frequentar o ensino superior, ao passo que os mais pobres do Sul e do Leste da Europa são os que mais pagam para aceder ao 1.o ciclo (licenciatura) e prosseguirem os seus estudos no 2.o ciclo (mestrado integrado).
Nos países nórdicos, todos os alunos podem frequentar o ensino superior sem lhes ser exigida qualquer propina. Os estudantes da Suécia, da Dinamarca e da Finlândia chegam inclusivamente a receber bolsas de estudo de até 10 mil euros por ano. Na maioria dos outros países europeus, como Portugal, por exemplo, os custos máximos de inscrição para acesso ao 1.o ciclo podem ascender aos 1000 euros e a 631 euros no 2.o ciclo, com bolsas máximas atribuídas com base em critérios sociais de 6018 e de mérito de até 2425.
Pior que os alunos portugueses estão os estudantes da Letónia, que pagam até 3235 euros por ano para acederem ao 1.o ciclo de estudos, não podendo beneficiar de mais de 991 euros de apoio financeiro anual. Esta tendência é semelhante em quase todos os países de Leste, nomeadamente na Lituânia (propinas de inscrição de 5260 euros, bolsas de 1355 euros), Roménia (propinas de 3873 euros, ajudas não excedem os 637 euros por ano) ou ainda na Eslovénia, que pratica os preços mais elevados, na ordem dos 12 373 euros de propinas no 1.o ciclo universitário, com um máximo de apoios sociais de 2160 euros anuais. Na Polónia, o acesso à universidade custa 41 euros no máximo, e na República Checa apenas 20 euros, com bolsas de acção social de 630 e 659 euros.
São estes os dados apresentados num estudo conduzido pela Comissão Europeia, mais concretamente pela rede Eurydice, responsável pela informação dos sistemas educativos e de análise das políticas educativas na Europa. O estudo analisou dados do ano lectivo 2012-2013 e apresenta o montante das propinas de inscrição à universidade, no 1.o e no 2.o ciclos, bem como as ajudas concedidas aos estudantes, com base em critérios sociais e de mérito, em 24 dos estados da União Europeia (os dados sobre a Espanha, Luxemburgo e Holanda não estão disponíveis) para o ano lectivo de 2011-2012. Os dados enunciados na comparação do quadro mostram as disparidades existentes de país para país. A Europa dispõe de cerca de 4 mil instituições de ensino superior, com 19 milhões de estudantes e 1,5 milhões de funcionários.
Os números não mentem. Há uma enorme disparidade nos custos de acesso ao ensino superior na Europa. Bruxelas exige mais qualidade do ensino superior, pelo que deveria harmonizar ou tentar esbater a diferença abissal nos custos de acesso para que os estudantes universitários europeus tivessem condições menos desiguais à partida.
Analisar as desigualdades no acesso ao ensino superior através dos valores das propinas e das bolsas, contudo, pode conduzir a uma leitura redutora, adverte Ana Nunes de Almeida, investigadora do Instituto de Ciências Sociais. O importante é saber quem chega à universidade. E neste capítulo Portugal está entre os países da União Europeia com os sistemas mais selectivos: "Os dados mais recentes são de 2008, mas julgo que com a crise o cenário se agravou." Ou seja, são as origens sociais a determinar o percurso académico dos estudantes: "Um filho de um operário tem menos hipótese de entrar no ensino superior que o aluno oriundo de famílias com habilitações superiores", explica a socióloga.
Nem sequer se trata de falta de motivação, conta a investigadora: "Os estudos revelam também que as famílias portuguesas, mesmo as mais desfavorecidas, se mobilizam em torno do sucesso escolar dos filhos, investindo e apostando tudo na sua educação." Acontece, porém, que os mesmos estudos mostram igualmente uma relação "quase directa" entre o nível de escolaridade dos pais e o desempenho escolar dos filhos: "Não podemos explicar as desigualdades no acesso ao ensino superior sem enquadrar esta realidade com outros factores económico- -sociais."
As famílias com mais habilitações estão também mais bem preparadas para ajudar os filhos, remata a socióloga.

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