segunda-feira, 6 de maio de 2013

O vice-presidente do Banco Mundial: "Portugal tem muito potencial” - Dinheiro Vivo

O vice-presidente do Banco Mundial: "Portugal tem muito potencial” - Dinheiro Vivo


Cyrill Muller é um otimista. “Chego à Europa e só se fala em crise. Mas do outro lado do mundo há países em crescimento, há economias a explodir. Temos de ver os problemas em perspetiva. E perceber que são transitórios.” Até Portugal, que vive hoje a pior recessão de que há memória, deve ter calma, garante o vice-presidente do Banco Mundial para as relações externas. Até porque “Portugal está entre os países da Europa com maior potencial de crescimento a longo prazo”, diz. “As medidas que estão a ser tomadas são extremamente dolorosas, mas não tenho dúvidas de que irão funcionar. Temos de garantir mecanismos que, a prazo, assegurem que a economia é capaz de criar empregos e gerar crescimento.” 
Muller esteve esta semana em Portugal para debater as perspetivas para a economia mundial, mas serviu de moderador num painel das Conferências do Estoril. Com Morgan Stanley e FMI sentados ao lado, perguntou: “Onde é que querem estar daqui a seis anos? O que será um resultado positivo para o mundo?” Muller não tinha resposta, mas sugeriu um caminho: mais organização internacional, menos barreiras ao comércio, melhores políticas de emprego. “Esta crise só poderá ser ultrapassada com mais coordenação. O mundo está interligado. Uma crise na Europa sente-se em África. E os problemas no Sudoeste Asiático sentem-se na zona euro.” 
A Europa. Na lista de preocupações do Banco Mundial, o Velho Mundo está no topo. “Temos acompanhado os esforços para a criação de uma união bancária. Se há uma união monetária sem uma união bancária, é natural que existam tensões. Temos esperança que as discussões tenham sucesso”. E o Chipre? Foi um erro abrir o precedente e permitir que depósitos bancários sirvam para salvar um banco, pergunto? Muller foge. Volta à união bancária. “A principal questão é se o Chipre teria acontecido se houvesse já uma união entre bancos. Se existisse, esses depósitos teriam sido cobertos.” E os depósitos externos também não teriam sido permitidos, pelo menos assim”, acrescenta. “Mas claro que é um jogo muito perigoso”, taxar depósitos, admite. 
Em janeiro, o Banco Mundial aterrou nos jornais quando foi arrastado, de repente, para a reforma do Estado. Com o Fundo Monetário Internacional a apresentar sugestões agressivas no relatório Repensando o Estado - com cortes na função pública, mais impostos e menos pensões -, o Banco Mundial estava também entre as instituições consultadas pelo governo. A área era típica do Banco Mundial - a reforma da burocracia imposta sobre as empresas - mas a instituição não apresentou um relatório formal. 
Quatro meses depois, Muller está mais distante. “Não estamos ativos na Europa do Sul. A única coisa que nos podem pedir é ajuda técnica, nomeadamente na área do Doing Business”. Em outubro, o Banco Mundial revelou que Portugal era, entre os periféricos, o que mais reformas tinha feito nos últimos oito anos para facilitar negócios. Mesmo assim, no Doing Business era trigésimo e com margem para melhorar.
O mundo está mais seguro?
Antes da vice-presidência, Muller liderou o departamento de banca e dívida no Tesouro do Banco Mundial. Quando pergunto se, depois da crise financeira, o mundo está hoje menos exposto a instrumentos complexos, a resposta só podia ser tranquilizadora. “Em termos globais, há pontos positivos. Por um lado, esta crise mostrou uma autêntica resiliência em alguns países que historicamente tinham tendência para falhar. E também aprendemos muito com esta crise, mesmo que nunca possamos saber - e isso é o que aprendemos como economistas - onde é que a próxima pode acontecer. Mas os mecanismos foram criados.”
Cyrill Muller também acompanha muito o Brasil, um país que, “como nenhum outro”, foi capaz de reduzir as desigualdades sociais em muito pouco tempo. “O sucesso do Brasil foi captar a riqueza do seu povo, o que impulsionou um crescimento económico que tem bases sociais alargadas.” E esse, garante, também tem de ser o segredo para Portugal. “O crescimento só é sustentável se não houver uma parte da sociedade que é privilegiada em detrimento de outra. Devemos garantir que, a longo prazo, a economia de qualquer país é competitiva, aberta e suficientemente diversa para poder dar oportunidades a todos. E é olhando para tudo isso que estou, a prazo, bastante otimista sobre o futuro de Portugal.”

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