quinta-feira, 30 de maio de 2013

Portugal precisa de cortar 6 mil milhões por ano até 2030 | iOnline

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OCDE diz que Portugal precisa de um ajustamento anual de 3,7% do PIB para dívida ficar em níveis aceitáveis

A Organização para a Cooperação e De-senvolvimento Económico (OCDE) publicou ontem uma série de previsões para a economia portuguesa e europeia mais negras que aquelas que têm sido veiculadas pelos organismos oficiais dos resgates - e que têm falhado redondamente, sempre por excesso de optimismo.
Um dos cenários mais negros agora desenhados pela OCDE reside na dívida pública portuguesa: se o governo e a troika defendem com unhas e dentes que a economia portuguesa vai fechar 2014 com uma dívida equivalente a 123,7% do PIB, a OCDE avança com números bem mais agressivos: no final do próximo ano, o governo terá às costas uma dívida de 132,1% do PIB. Aqui convém relembrar que o governo e a troika nem há dois anos asseguravam que a dívida portuguesa não iria além dos 109% do PIB.
Partindo das previsões para a dívida pública portuguesa, e olhando a longo prazo, já que uma nova regra dos regulamentos comunitários sobre o Pacto de Estabilidade e Crescimento dita a redução da dívida face ao valor de referência de 60% do PIB em 20 anos, a OCDE avançou também com os cálculos sobre o caminho teórico que Portugal precisaria de percorrer para conseguir baixar a dívida sem uma renegociação da mesma: seis mil milhões de euros de consolidação orçamental por ano entre 2014 e 2030 - austeridade que, no total, somaria 96 mil milhões de euros.
No relatório ontem divulgado, a OCDE coloca Portugal no pequeno grupo de países que terão a dieta de dívida mais agressiva nos próximos anos, especificando então que precisa de uma consolidação média equivalente a 3,7 pontos do PIB ao ano - valor que apenas é ultrapassado pelo Japão, com 11,3 pontos, Reino Unido, com 5,9 pontos, e Estados Unidos, com 4%. E os valores até podem ser demasiado optimistas, diz mesmo a OCDE, relembrando que não estão previstos nestas contas todos os riscos que se irão apresentar nos próximos anos, como o envelhecimento da população e os gastos decorrentes desse factor.
RECESSÃO MAIS PROFUNDA Além das previsões para a dívida portuguesa, a OCDE avançou ontem também com a sua própria previsão do futuro imediato das contas portuguesas, pintando um quadro mais negro que as autoridades responsáveis pelo ajustamento: se Gaspar prevê agora uma recessão de 2,3% este ano, a OCDE estima que o recuo será de 2,7%, sendo o crescimento irrisório em 2014. A instituição não acredita que o PIB nacional expanda mais de 0,2% em 2014, valor que compara com os 0,6% prometidos pelo ministro das Finanças português. Estas previsões mais negras para a evolução da economia portuguesa resultam também numa estimativa para o desemprego ligeiramente pior que a avançada pelo executivo: a OCDE calcula que a taxa chegue aos 18,6%, mais 0,1 pontos que o governo.
Vítor Gaspar não se mostrou muito preocupado com os números de ontem da OCDE, criticando mesmo a capacidade deste organismo em acertar nas previsões. O ministro, que há dois anos previa que o desemprego não iria passar dos 13% durante o ajustamento da troika, apontou que "ao longo dos anos, a Comissão Europeia é a organização que melhores resultados apresenta [nas previsões], tendo um desempenho significativamente superior ao da OCDE, de acordo com os indicadores habituais de desempenho". Este acerto da Comissão Europeia de que Gaspar fala é, aliás, difícil de descortinar: nenhuma das previsões vindas de Bruxelas nos últimos dois anos acertou aproximadamente na realidade.
A Comissão Europeia previa inicialmente que Portugal iria chegar a 2013 com um desemprego de 12,4% e uma dívida pública de 108,6%, por exemplo, revendo depois sucessivamente esses valores para 13,6%, 15,8%, 16,4% e 18,2%, no caso do desemprego, e para 118,1%, 118,6%, 122,2% e 123% no caso da dívida pública portuguesa. O próprio ministro, aliás, também não fica nada bem no cruzamento das suas previsões com a realidade, devendo esse ser um dos seus erros [ver texto ao lado] de que falou.

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