Em maior ou menor grau, seja para melhor ou pior, existe sempre um quê de mentira num CV. Se por um lado, falar portunhol não é dominar o idioma castelhano, por outro, os seis meses que passou numa empresa como assistente não contam que de facto, estava a desempenhar funções muito acima da sua. José Quezada, 34 anos, e Vicente Caldeira Pires, 32, viram neste desfasamento uma oportunidade de negócio num mercado cada vez mais competitivo, deixaram o emprego estável e um ano depois, avançaram com um serviço de análise de currículos – o CV Dna. Falámos com o cofundador José Quezada, para saber o que é isto de certificar currículos e como estão a correr as primeiras semanas de trabalho.
Como funciona uma certificação de currículos? É uma espécie de auditoria às capacidades de um candidato?Tem semelhanças à auditoria porque analisa a informação mas por outro lado não classifica ou atesta se o profissional é bom ou mau. A nossa missão, como entidade idónea e externa é certificar a informação com base numa metodologia criada por nós, que adereça a informação que consta nos CV, incluindo formação e experiência profissional. É implementada por técnicos de Recursos Humanos, que conhecem as necessidades de informação das empresas que recrutam. Por outro lado, quisemos acrescentar valor ao serviço e fazer com que os candidatos com CV Certificado se diferenciassem ainda mais. Procurámos dar aos nossos clientes uma ferramenta que lhes permita, nessa primeira impressão que é dada pelo CV, falar das suas capacidades - e não apenas da formação e da experiência. Assim, adicionámos ao serviço de certificação um Teste de Perfil Comportamental ou behavioral assessment. Embora haja uma componente que é prestada presencialmente, a maior parte do processo funciona através do site para ser acessível a partir de qualquer lugar, a qualquer hora.
Quanto tempo demoraram da ideia à prática?A ideia surgiu há cerca de um ano, quando num curto espaço de tempo vários amigos começaram a pedir-me ajuda na elaboração dos seus CV. Eu e o meu sócio demorámos cerca de 4 meses a amadurecer o plano de negócio, mais 8 meses a desenvolver e testar a metodologia de certificação e a criar e testar a plataforma de suporte ao serviço. Foi para o ar há apenas duas semanas e ainda é cedo para fazer um balanço de clientes. Mas estamos com um número de visitas ao site e de pedidos de informação sobre o serviço bastante superior ao que tínhamos antecipado.
Quem é o alvo da vossa empresa - o candidato, quer ver o seu CV certificado, ou a empresa que quer confiar em quem recruta?O nosso serviço destina-se aos candidatos que estejam desempregados, sejam recém-licenciados ou pessoas empregadas à procura de uma mudança. Na prática, destina-se a todos os profissionais cuja empregabilidade assenta em processos de recrutamento baseados no CV e que sentem necessidade de se preparar para enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais saturado. Eu e o meu sócio, o Vicente Caldeira Pires, concordamos que a saturação que vemos acontecer no mercado de trabalho exige uma mudança na atitude por parte dos profissionais. Com os números do desemprego a atingir valores recorde, cada anúncio de emprego dá origem a centenas de candidaturas. Se querem aumentar a probabilidade de sucesso num processo de recrutamento e diferenciarem-se dos demais, porque não serem os próprios candidatos a preocuparem-se em minimizar os problemas da qualidade e confiança da informação que consta no seu CV? O nosso objetivo é ajudar o candidato que se quer diferenciar junto do seu próprio cliente, que são os empregadores.
Existem serviços semelhantes noutros países?A certificação de currículos já existe noutros países, sim. O mercado onde está mais popularizada é o Brasil. Em Portugal, embora existam “escritores de CV” e também profissionais de coaching, não encontrámos empresas com uma oferta integrada como a nossa.
A certificação é complementar ou substitui um currículo tradicional?O serviço da CV-DNA está focado em ajudar a redigir e melhorar o CV, e em dar um selo de autenticidade à informação que dele consta. Assim sendo, no final do processo, o candidato fica com um CV que substitui tudo o que até aí ele poderia utilizar numa candidatura. Traz ainda duas vantagens: o resultado do teste comportamental e o facto do CV poder ser consultado em pdf e online através da introdução de uma referência na plataforma da CV-DNA. Esta consulta para além de diferente e inovadora, facilita a comparação dos candidatos, dado que como os CV são certificados, as informações dos diversos candidatos estão sempre organizadas da mesma forma.
Qual o erro mais comum que encontram em currículos tradicionais?Quando eu trabalhava em consultoria de RH, os recrutadores queixavam-se frequentemente da desorganização da informação e da fraca qualidade dos CV, sobretudo por causa de erros ortográficos, informações irrelevantes e fotografias pouco profissionais. Também era comum ouvir queixas sobre os “exageros da realidade”. Com a certificação, tudo isso deixa de se reflectir na imagem de um candidato e deixa de ser uma preocupação dos empregadores.
Um serviço como o CV-DNA é fruto de um mercado de trabalho altamente competitivo? Ou tem mais a ver com o excesso de informação que circula sobre cada candidato?O facto de o mercado estar mais volátil certamente que nos fez identificar uma maior utilidade do nosso serviço, mas o problema de currículos com informação desadequada, em excesso ou pouco fiável sempre motivou queixas dos empregadores. O nosso serviço é fruto de uma vontade de ajudar os portugueses a conquistar mais e melhores empregos, seja em Portugal ou lá fora - e isso tornou-se uma preocupação maior para nós à medida que fomos vendo as estatísticas do desemprego subirem. Entre os jovens, os números são particularmente assustadores - e por isso temos um preço promocional para estudantes e para desempregados (98 euros). Sabemos que há oportunidades e talento disponível mas nem sempre as ferramentas e os processos de recrutamento permitem que se verifique o melhor match entre oferta e procura. Por isso, embora ambos tivéssemos empregos estáveis, quisemos correr este risco: porque acreditamos que o mercado português precisa deste serviço, agora mais do que nunca.
A certificação que emitem é valida internacionalmente ou serve apenas para o mercado interno?Neste momento, estamos preparados para certificar currículos em português e em inglês. Com a crise no mercado de trabalho nacional, cada vez mais observamos profissionais que querem posicionar-se para trabalhar noutras regiões. O serviço permite aos candidatos partilharem a sua informação online. Por questões de confidencialidade, o CV não fica público, mas damos-lhes uma palavra passe, que eles podem depois partilhar com determinado recrutador que queira consultar o CV e o relatório de perfil comportamental. Tudo isto se processa online, o que promove a acessibilidade da informação, mesmo em processos de recrutamento à distância. Quanto à validade da nossa certificação, ela reside no rigor de uma metodologia que é pública. Qualquer entidade pode consultar o nosso site e avaliar a sua consistência. No entanto, como start-up que somos, sabemos que temos um caminho a percorrer em matéria de credibilização do nosso trabalho. Temos ambições de internacionalizar a CVDNA e de fazer essa aposta maior na promoção do nosso serviço noutros mercados, com especial foco na Europa e em África.
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