segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Vias sem portagem são as preferidas dos condutores e dos criminosos | iOnline

Vias sem portagem são as preferidas dos condutores e dos criminosos | iOnline

Vias sem portagens estão a ser mais procuradas por condutores. Grupos criminosos atacam mais à noite.

A. S. tinha o Mercedes há menos de um mês. Numa sexta-feira, depois de uma reunião de trabalho, circulava na Estrada Nacional (EN) 3, nos arredores da Póvoa de Santarém, quando deu com a via cortada. Estava escuro e não havia casas por perto. “Depois de fazer uma curva, percebi que estava qualquer coisa no meio da estrada”, conta. Mesmo assim, o empresário continuou a marcha, longe de imaginar que em menos de um minuto iria ficar sem o carro: “Aproximei-me e só no último momento é que percebi que havia uma série de troncos espalhados.”
Foi obrigado a parar e quando saiu do automóvel para tentar desbloquear o caminho, não lhe passou pela cabeça que estava no cenário de um assalto. “Havia muita vegetação à volta e pensei que tivesse caído uma árvore ou que fosse uma brincadeira de miúdos”, confessa. Como não havia iluminação, A.S. deixou as luzes ligadas e o motor a trabalhar. Assim que se afastou do carro apareceram da berma três homens de caçadeira em punho: “Não tive tempo para nada e nem falaram comigo. Um apontou-me a arma e os outros dois entraram no carro”. O empresário ficou apeado no meio do nada sem o carro, sem os dois telemóveis e a carteira – que tinha deixado dentro do automóvel.
A história de A.S., empresário da zona de Santarém – que não quer ser identificado por “medo de represálias” –, não é caso único. Nos últimos meses, têm-se repetido, nas estradas nacionais, os episódios de carjacking – roubos de automóveis, normalmente com o recurso a armas brancas ou de fogo, na presença dos respectivos donos. O fenómeno, que começou nos Estados Unidos durante a década de 1980, é recente em Portugal. Os primeiros casos, conta o tenente-coronel João Nascimento da investigação criminal da GNR, começaram a surgir em 2002. “Na altura eram casos pontuais e, por isso, nem eram tratados de forma isolada nas estatísticas”, recorda. Os assaltos só se intensificaram a partir de 2007. E se inicialmente o carjacking era um fenómeno que acontecia maioritariamente nas cidades, hoje também acontece em zonas não urbanas e, em particular, estradas nacionais – que se tornaram alvos fáceis: “São locais que reúnem um conjunto de características que favorecem este tipo de crime”, porque estas estradas são, por norma, mal iluminadas e têm pouco movimento.
De qualquer forma, a maioria dos assaltos com recurso a carjacking continua a acontecer nas cidades – especialmente em bairros residenciais. “Ainda assim, e comparativamente ao que acontecia há uns anos, verifica-se um aumento nas estradas nacionais”, admite a GNR, até porque, em tempos de crise, cada vez há mais condutores a optar pelas estradas nacionais em detrimento das vias com portagens. Só este ano, nas vias sob responsabilidade da GNR e até 30 de Setembro, já houve registo de 78 casos. No ano passado foram reportadas 96 ocorrências, enquanto que em 2010 aconteceram 101 episódios.
métodos usados Na recta do Cabo, na EN 10, entre Vila Franca de Xira e Porto Alto, já terão sido reportados às autoridades pelo menos oito assaltos este ano – o dobro das ocorrências registadas em 2011, segundo dados divulgados recentemente pelo jornal “O Mirante”. Um dos casos mais recentes aconteceu no início de Setembro, quando um condutor foi deixado na berma da estrada, depois de abordado por um grupo de homens com caçadeiras que também espalharam troncos de madeira em toda a largura da estrada.
A Polícia Judiciária (PJ) tem estado a investigar vários casos do mesmo género e suspeita de um grupo organizado que tem atacado noutras estradas – nomeadamente na EN118.
Os métodos usados pelos ladrões de carros não variam muito. Quase sempre, explica o tenente-coronel da GNR, actuam em grupos com pelo menos três elementos. Na maioria dos casos, há o recurso a armas brancas ou de fogo para intimidar os automobilistas.
É habitual também que um deles vigie os carros que passam na estrada e avise os cúmplices (escondidos mais à frente) sempre que um alvo fácil aparece. A metodologia que se segue é quase sempre a mesma. O grupo coordena- -se para obstruir a via, usando pedras, troncos de árvores ou mesmo carros atravessados no meio do caminho. Outras vezes, os ladrões apelam à boa vontade das vítimas, pedindo-lhes ajuda para mudar um pneu ou para resolver um problema mecânico. Mulheres sozinhas e idosos são as vítimas preferidas por oferecerem, à partida, menor resistência no momento da abordagem.
Carros usados para outros crimes Outra característica do carjacking, conta a GNR, é estar frequentemente associado à prática de outros crimes. Os carros roubados – a maioria de alta cilindrada – costumam ser depois usados em assaltos violentos: “Em roubos na via pública ou em caixas multibanco”, exemplifica o tenente-coronel João Nascimento.
Outras vezes são usados para abalroar montras de ourivesarias. Raramente os assaltos são cometidos na mesma zona onde os carros foram roubados, o que dificulta o trabalho de investigação das polícias. “São crimes difíceis de investigar, muito por culpa da enorme mobilidade que estes grupos têm”, admite a GNR. O que dificulta ainda mais o trabalho dos investigadores é o facto de os ladrões actuarem sempre com a cara tapada. “Normalmente as vítimas não conseguem fixar características físicas, só sotaques, o que é muito vago”, diz a GNR.
crime masculino A GNR refere que estes grupos são quase sempre compostos por homens, porque “têm mais força física e, por isso, maior facilidade na abordagem aos condutores”, explica João Nascimento. De resto, e no que diz respeito ao perfil dos ladrões, tanto há estrangeiros como portugueses.
“No caso de serem estrangeiros, dominam a língua portuguesa”. É que o carjacking – apesar de ser um tipo de assalto que dura poucos minutos e ser executado de forma muito rápida – envolve, em quase todos os casos, contacto verbal. “O assaltante precisa de dar instruções ao condutor, por isso a abordagem raramente se faz recorrendo só à comunicação gestual”, acrescenta o responsável da GNR.
confiar nos instintos O melhor a fazer para evitar ser vítima de um assalto de carjacking, recomenda João Nascimento, é confiar nos próprios instintos e circular com atenção redobrada, especialmente durante a noite. “Se o condutor for com atenção consegue perceber se há movimentações ou pessoas suspeitas”, que podem ser, por exemplo, indivíduos sozinhos que aparentem estar numa atitude “de procura ou vigilância”.
Os lugares isolados e com pouca iluminação são sempre de evitar – quer sejam em estradas, em parques de estacionamento ou perto de casa. E se alguém lhe pedir ajuda siga viagem e contacte a polícia que saberá o que fazer. Em casos de carjacking, as autoridades aconselham a seguir o lema de escutar, olhar, mas nunca parar.

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