sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Um em cada cinco universitários à beira do colapso nervoso | iOnline

Um em cada cinco universitários à beira do colapso nervoso | iOnline

Inquérito mostra que mais de metade dos universitários de Lisboa está angustiada por não conseguir atingir os objectivos.

Os estudantes universitários portugueses trabalham em média 40 horas por semana e, mesmo assim, vivem angustiados por estarem longe de atingir as metas traçadas inicialmente. Sentem ainda que o seu esforço não vai servir de nada quando chegar a hora de procurar um emprego. O rendimento académico está a baixar, levando-os por vezes a recorrer a drogas e álcool. Os alunos universitários de Lisboa apresentam níveis elevados de exaustão física e emocional e estão também desmotivados. O estado de alma no meio académico reflecte-se no estudo do Instituto Superior de Psicologia Aplicada “Burnout em Estudantes Universitários: Determinantes e Consequências”, ontem apresentado em Lisboa.
O inquérito feito a 480 estudantes do ensino superior público e privado de Lisboa durante os anos lectivos de 2009/10 e 2010/11 mostra que mais de metade dos alunos (56%) sente-se pouco realizado com o que está a fazer e diminuiu o seu rendimento académico. “Estes são tendencialmente os alunos que têm notas baixas, que chumbam em várias cadeiras e estão frustrados por não conseguirem atingir os objectivos”, explica o coordenador desta investigação João Marôco.
Os alunos que apresentam níveis elevados de burnout atingem os 15%, segundo o inquérito do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Pode parecer uma minoria, mas segundo os autores do estudo, os valores estão três vezes acima do que seria considerado normal em profissões desgastantes. Há ainda 21% dos estudantes que demonstraram uma exaustão emocional elevada.
Traduzindo essa percentagem em emoções, significa que um em cinco alunos está convencido de que atingiu o limite e que não aguenta mais. “O principal perigo da exaustão emocional elevada é que, ao levar a uma quebra de rendimento pode igualmente conduzir ao consumo de psicotrópicos e álcool.”
O inquérito demonstra aliás que 32% dos alunos inquiridos recorrem às vezes a medicação, e 3,5% fá-lo com frequência. O fenómeno, contudo, pode assumir maiores proporções a médio ou longo prazo – avisam os autores – se o consumo persistir ao longo do tempo, criando dependências que os alunos vão mais tarde levar para a vida profissional.
O abuso de psicotrópicos entre os universitários é aliás um alerta que já foi feito em Setembro pela Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental que, após um inquérito aos universitários do Porto, concluiu que mais de 30% consomem medicamentos, tendo admitido igualmente não ter prazer nas coisas que faz no seu dia-a-dia.
Frustração. Na investigação do ISPA ontem apresentado, há também uma boa parte dos alunos (18%) a sentir que o seu esforço não tem qualquer utilidade na sua futura vida profissional. É um estado de espírito com graves consequências – alerta João Marôco – pois conduz a uma “atitude de desistência e de abandono dos estudos”.
Os resultados são preocupantes mas nem por isso surpreendem os autores do estudo, uma vez estamos perante uma crise económica: “Há um sentimento generalizado nas famílias e nos estudantes de que é cada vez mais difícil cumprir com os compromissos financeiros. As próprias universidades e politécnicos estão a cortar nas despesas e a aumentar as propinas. A subida do índice de desemprego ou a emigração de jovens qualificados são factores que ajudam a explicar este sentimento de frustração.”
A crise, contudo, não justifica por si só toda essa angústia que invadiu o meio académico de Lisboa. A carga de trabalho também subiu e a explicação mais imediata está no novo paradigma de ensino que o modelo de Bolonha trouxe a partir de 2006. Se antes o professor era o principal meio de transmissão de conhecimento, agora é essencialmente um mediador, orientando e fornecendo pistas e referências bibliográficas para os alunos pesquisarem. “Os estudantes relatam que têm em média seis trabalhos para as seis cadeiras semestrais, que consomem 40 horas de trabalho por semana.” Esta é aliás uma das razões para mais de metade dos alunos reconhecer que não consegue dar resposta ao volume de trabalho que lhe é exigido.
O burnout entre os estudantes é um fenómeno pouco conhecido ou investigado, estando sobretudo associado a profissões de ajuda como médicos, professores, polícias ou bombeiros. Foi dessa lacuna, aliás, que nasceu a necessidade de fazer este estudo, conta o investigador do ISPA que está convencido de que o esgotamento nos universitários tem consequências tão graves como as que surgem nas outras profissões desgastantes. Ou seja, mais tarde ou mais cedo surgirá a tentação de abandonar um projecto de vida ou mergulhar nas drogas e no álcool.

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