segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Internacionalização. Uma questão de moda ou uma fuga à crise? | iOnline

Internacionalização. Uma questão de moda ou uma fuga à crise? | iOnline

É preciso fazer um trabalho de casa rigoroso antes de investir. Dar um passo em falso pode levar à “morte” do negócio.

Apostar em outros mercados é uma das estratégias encontradas por muitas empresas portuguesas para contornar a economia nacional que está cada vez mais asfixiada. O i contactou alguns empresários para saber qual o peso e a importância da internacionalização para o seu negócio e quais os riscos desta operação.
A verdade é que a expressão diplomacia económica está cada vez mais na moda e já faz hoje parte da realidade de muitas empresas nacionais que procuram afirmar a sua marca no mercado estrangeiro e cimentar a credibilidade de Portugal a nível global.
A estratégia é simples: há uma tentativa de ficarem menos dependentes do Estado e de se integrarem no circuito da economia global. A redução da procura interna e a instabilidade financeira têm sido as principais causas impulsionadoras das exportações protagonizadas pelas empresas nacionais, no sentido de garantirem o seu crescimento económico.
Para alguns dos responsáveis contactados pelo i, mais do que uma alternativa, esta é “a consequência de uma estratégia”, como afirma João Corga, director-geral da MBM Mobile, empresa especializada no sector automóvel.
Cláudia Gomes, directora de marketing da Sika Portugal, empresa especializada na área da construção, refere que a internacionalização da empresa foi “por um lado uma opção natural, por outro o usufruir de uma oportunidade”.
Eduardo Rangel, presidente do Grupo Rangel, admite que a introdução da empresa em novos mercados aconteceu depois de uma “reflexão estratégica” que levou os responsáveis do grupo a concluir que a empresa tinha “atingido uma confortável quota de mercado” no nosso país. “Crescer em Portugal ano após ano a dois dígitos ia começar a ser difícil pela dimensão do mercado”, acrescenta.
Já Henrique Lehrfeld, director-geral do grupo Hörmann, empresa do segmento da construção, cuja aposta na internacionalização representa 30% do volume de negócios, refere que um dos principais motivos para apostar no exterior esteve relacionado com o desejo de “contribuir para o desenvolvimento da marca” nos países receptores. A Hörmann está presente em todos os continentes e tem cerca de 50 filiais em todo o mundo.
África, Ásia, América do Sul e alguns países do Leste Europeu são, na actualidade, os principais destinos de exportação destas empresas. Por serem mercados em expansão, e “pela maior facilidade de integração com a língua portuguesa” (sobretudo os PALOP), como afirma Eduardo Rangel, têm-se revelado como os mais atractivos para receber as empresas investidoras.
O retorno parece estar assegurado e o balanço feito pelas empresas é positivo. A MBM Mobile espera fechar “o ano com um turnover de seis milhões dentro do grupo”, o que corresponde a um “volume de tesouraria na ordem dos 20 milhões de euros”. E acrescenta que, “no seu todo, o valor rondará cerca de 30%. Neste momento, as previsões são revistas em alta diariamente”, diz João Corga.
A Sika, que está presente em mais de 80 países, produziu no ano passado 18 473 toneladas, sendo que “11% dessa produção foi direccionada para o mercado externo”, disse Cláudia Gomes. Em 2012, a empresa espera atingir os 15%.
Já o grupo Rangel facturou em 2011 milhões de euros e espera “crescer este ano 10%, fruto sobretudo da nossa aposta externa”, refere o responsável. A Solidal tem um volume de negócios de “118 milhões de euros, dos quais mais de 70% provêm de clientes internacionais”, diz Pedro Lima, presidente do conselho de administração da Solidal.
LINHAS DE CRÉDITO Quando questionados sobre os suportes financeiros às empresas neste processo, os responsáveis dividem-se. Com a crise financeira instalada em Portugal, os bancos têm restringido cada vez mais o acesso ao crédito, pelo que as empresas, em muitos casos, só podem contar consigo próprias nesta “aventura”.
“Até à data, não tivemos qualquer apoio a não ser os próprios meios. Quando se fala de apoios à internacionalização, devo dizer que são instrumentos de longo termo e que para accionar esses mecanismos é preciso ter bons indicadores e acima de tudo ter já massa crítica sob o ponto de vista de análise económica e financeira”, explica João Corga da MBM Mobile. Também o grupo Hörmann Portugal não conta com apoios financeiros. Henrique Lehrfeld afirma que “os custos da internacionalização são suportados somente pelo grupo, nem pedimos apoio à casa-mãe, na Alemanha”, diz.
A contrariar esta tendência está o grupo Rangel e a Solidal ao garantirem que contam com um apoio financeiro nestas operações. “Não negociámos nenhuma linha de crédito específica para o investimento estrangeiro, suportámos os investimentos em recursos próprios e no crédito obtido em Portugal para o grupo Rangel, sendo que desse crédito utilizamos cerca de dois milhões nos investimentos externos”.
A Solidal refere que “os apoios à internacionalização são, essencialmente, canalizados através da AICEP, e consistem em apoio financeiro e logístico à participação em feiras e roadshows”.
Neste aspecto, Pedro Lima diz que a empresa pode contar ainda com a ajuda do Ministério dos Negócios Estrangeiros que se tem revelado muto útil no estabelecimento de “contactos relevantes”, além de ajudar a “identificar potenciais oportunidades de exportação”.
BUROCRACIAS Apesar de reconhecerem que o processo de internacionalização tem sido um sucesso, tendo em conta a conjuntura actual, os empresários admitem que têm alguma cautela no que diz respeito ao alargamento do negócio a novos mercados estrangeiros.
A opinião é unânime junto dos empre sários contactados pelo i: é preciso fazer uma análise ao tipo de economia do país onde se pretendem instalar, à situação política e às condições de crédito e financiamento. Estes elementos são considerados fundamentais para verificarem a viabilidade do investimento. A explicação é simples: dar um passo em falso pode “matar” o negócio. João Corga afirma que “o tempo é o pior inimigo” e que “o que se compreende é que o investimento não é acompanhado à mesma velocidade que a política”.
Sem terem enunciado grandes problemas, os responsáveis pelas empresas admitem que as questões relacionadas com os licenciamentos, com a situação política do país de destino e com a oferta constituem-se como maiores preocupações.
Henrique Lehrfeld refere que durante o processo de internacionalização da Hörmann Portugal, a única medida que a empresa teve de tomar foi “adaptar as ofertas aos diferentes mercados”. Eduardo Rangel sugere que “o governo português deve intensificar ainda mais o bom relacionamento com as autoridades desses países, para ajudar em aspectos muito relevantes, como vistos de trabalho e facilidades na burocracia associada ao investimento estrangeiro”.

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