terça-feira, 23 de outubro de 2012

Famílias pedem insolvências para esquecer dívidas à banca - Dinheiro Vivo

Famílias pedem insolvências para esquecer dívidas à banca - Dinheiro Vivo

Pedir a insolvência é a última hipótese de as famílias sobre-endividadas conseguirem ver perdoadas as suas dívidas. O número de pedidos tem aumentado e a Deco, ainda que não aconselhe esta opção, tem verificado cada vez mais casos em que não há outra saída possível. Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado, criado pela Deco para encaminhar portugueses em dificuldades, explicou ao Dinheiro Vivo que as dívidas das famílias à banca têm aumentado e que agora os portugueses veem-se obrigados a escolher uma saída alternativa. O problema, diz, é que "por vezes não há outra solução senão a insolvência".Desde que a crise se instalou em Portugal, o número de pedidos de insolvência aumentou consideravelmente. Entre o primeiro trimestre de 2007 e o primeiro trimestre de 2012 houve um crescimento de 451,7% nos pedidos a darem entrada na justiça portuguesa. Os números são do Ministério da Justiça e sublinham dificuldades crescentes.
A Deco não perspetiva grandes melhorias para um futuro próximo. "Tendo por base aquilo que tem levado as famílias a entrarem em dificuldades - desemprego e cortes - e perspetivando-se tanto para o público como para o privado novos cortes, só podemos prever que o número de famílias com dívidas vá aumentar", afirma Natália Nunes.
É que, como explica, "as famílias organizaram os orçamentos com os vencimentos que tinham e não havia previsão de que a a sua situação mudasse". O orçamento estava muito contado e não admitia margem para cortes a subsídios, sobretaxas e redução dos pagamentos às horas extraordinárias, explicou a responsável.
Num contexto de dívida, o crédito à habitação é o maior problema dos portugueses e o que contribui mais para o aumento do malparado no País. Os números revelados pelo Boletim Estatístico do Banco de Portugal revelam que dos 136 017 milhões de euros emprestados às famílias portuguesas em agosto, 3,66% representam uma cobrança duvidosa. Ou seja, 4977 milhões de euros são crédito malparado. Por outro lado, e com mais 55% do que o registado em julho, a banca tem junto das empresas 6879 milhões de euros de cobrança duvidosa. Do total de 108 515 milhões emprestados às empresas, 9,8% são crédito malparado.
Este ano, as dificuldades têm sido mais visíveis. No Gabinete de Apoio ao Sobreendividado já entraram mais pessoas do que durante o ano passado inteiro. Só este mês, a Deco já recebeu mais de mil contactos telefónicos e já atendeu presencialmente mais de 300 pessoas com dificuldades para pagar as contas. O número de sessões de esclarecimento e ajuda já atinge os 4200 pedidos.
"Tem que ver com a austeridade, com o aumento do desemprego e com o não se estar a conseguir voltar ao trabalho tão rapidamente quanto se esperava", explica Natália Nunes. É necessário introduzir novos hábitos: "Os portugueses habituaram-se a ter seis créditos: o da habitação, dois cartões, dois créditos pessoais e mais um do carro", agora é necessário rever prioridades, até porque o acesso a empréstimos também tem caído a olhos vistos: menos 536 milhões de euros no mês de agosto, segundo o Banco de Portugal.

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