quinta-feira, 11 de outubro de 2012

João Salgueiro: "Isto nem é uma crise, é uma derrota do modelo político" - Dinheiro Vivo

João Salgueiro: "Isto nem é uma crise, é uma derrota do modelo político" - Dinheiro Vivo

Debate Sedes / DN
João Salgueiro

A prolongada crise económica que Portugal atravessa é "uma derrota do modelo político que adotámos" e resulta do adiamento sucessivo de reformas, considera o antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos João Salgueiro.
"Isto para mim nem é uma crise. É uma derrota do modelo político que adotámos. É um desastre", disse o ministro das Finanças de Francisco Pinto Balsemão (1981-83) numa entrevista à Lusa.
"É como a descolonização. Sabíamos que tínhamos de alterar o padrão de relações com os territórios sob administração portuguesa, mas foi-se adiando, adiando, até que houve uma rutura", afirmou Salgueiro, que também foi subsecretário de Estado do Planeamento num dos governos de Marcello Caetano. "Esta [crise] foi uma coisa parecida. Não tomámos as medidas [necessárias], e depois houve uma rutura."
Para Salgueiro, Portugal ignorou as transformações na economia global decorrentes da globalização -- a integração da Europa de Leste na União Europeia, a ascensão da China e de outros mercados emergentes.
"Só nós é que não percebemos. A Alemanha fez reformas logo, e foi um governo do SPD [socialistas], do chanceler [Gerhard] Schroeder, que fez enormes reformas, cortou na segurança social, mexeu na legislação laboral, no subsídio de desemprego... [Os alemães] mantiveram quase intacta a indústria deles", afirmou.
Para lá da Alemanha, outros países do Norte da Europa "perceberam o que ia acontecer". O mesmo não ocorreu no Sul, afirma Salgueiro.
"Não percebemos nada. Agora estamos a fazer [um ajustamento] que eles fizeram quando as economias estavam a crescer, sem dor. Se tivéssemos feito isto há doze anos, não sofríamos o que agora estamos a sofrer", continua.
E de quem é a responsabilidade? "É de todos", responde Salgueiro, embora sobretudo "de quem tem mais poder".
"É difícil dizer se os portugueses foram enganados ou se queriam ser enganados", prossegue Salgueiro.
"Suponha que há eleições para uma autarquia, e um candidato diz que a câmara se está a endividar demais. O outro diz que isso é fantasia, que o que é preciso é criar mais riqueza, fazer mais estradas, mais anfiteatros, mais piscinas olímpicas... Este segundo é que ganha, de certeza. E foi esse o caso" em Portugal, conclui.

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