quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Centro de Astrofísica do Porto já ajudou a descobrir mais de uma centena de planetas | iOnline

Centro de Astrofísica do Porto já ajudou a descobrir mais de uma centena de planetas | iOnline

O último achado é o Alfa do Centauro B, a 4,3 anos-luz no sistema planetário retratado no filme “Avatar”, de 2009. É o mais pequeno e o mais próximo da Terra.

Descobrir planetas de todas as formas e feitios fora do sistema solar deixou de ser motivo para grande agitação – no espaço de 15 anos são já 843 mundos completamente novos, 122 descobertos desde o início do ano. Enquanto se espera por um candidato que possa albergar vida como a conhecemos – com uma massa parecida com a da Terra e à distância certa da sua estrela para ter água – dois recordes fazem da mais recente aquisição uma boa novidade, também porque a descoberta mobilizou cientistas portugueses.
O planeta Alfa do Centauro B, apresentado esta semana nas páginas da revista “Nature”, é o planeta mais pequeno alguma vez detectado na órbita de uma estrela parecida com o Sol. É também o mais próximo da Terra, a 4,3 anos-luz, cerca de 41,5 biliões de quilómetros. Nuno Santos e Xavier Dumusque, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, representam a ciência portuguesa na equipa de 11 investigadores suíços e franceses que confirmou a descoberta. Usaram dados obtidos desde 2003 no observatório La Silla do Observatório Europeu do Sul (ESO), no deserto de Atacama, no Chile, mas foram precisos três anos de observações diárias, todas as noites e de duas em duas horas, para ter a certeza de que um pequeno sinal na luz emitida por uma estrela significava a presença de um planeta.
A tecnologia actual não permite observar os planetas fora do sistema solar directamente por isso os investigadores desenvolveram nas últimas décadas vários métodos e algoritmos que permitem perceber, por exemplo, se oscilações no brilho das estrelas reflectem variações na sua velocidade e a existência de planetas à sua volta. Para isso, é preciso o olhar de um telescópio mas também um espectrógrafo, instrumento que mede oscilações e variações de velocidade radial: a aproximação e o afastamento da estela.
A equipa portuguesa tem vindo a trabalhar com o ESO na análise dos muitos dados obtidos pelo espectógrafo instalado no Chile, conhecido por HARPS, capaz de detectar variações de velocidade das estrelas até quatro quilómetros por hora. Essa e outras colaborações resultaram já na descoberta de mais de uma centena de planetas, disse ontem ao i Nuno Santos. O investigador considera que descoberta deste novo planeta é uma das mais interessantes em que participou, também pelo desafio técnico que foi confirmá-lo: é muito pequeno – 0.0036 vezes a massa da Terra – e orbita a sua estrela a cada 3,2 dias, pelo que a influência na velocidade radial da estrela é muito pequena. “Deu imenso trabalho. É quase como tentar ouvir uma pessoa a vários metros de distância, durante a comemoração de um golo num jogo de futebol. Estamos a usar o instrumento para além dos limites até agora conhecidos.”
Mais perto de Pandora O novo planeta tem a curiosidade adicional de ser o primeiro identificado no sistema planetário Alpha Centauri. O nome será familiar a quem viu o filme “Avatar” – por ser o mais próximo da Terra torna-se um alvo fácil da ficção científica – mas pensa-se que terá sido observado pela primeira vez no século XVII. “É um sistema com três estrelas, duas parecidas com o Sol. A diferença é que o planeta do filme, onde existiria uma lua, orbita a Alfa do Centauro A e o nosso orbita a estrela Alfa do Centauro B”, explica Nuno Santos.
As evidências de novos mundos tão próximos da Terra, para já, param por aqui: embora os investigadores acreditem que possam existir outros planetas neste sistema, não há provas de que exista um gigante gasoso com um satélite rico em minérios preciosos, como é o caso da lua de Pandora no filme de James Cameron. Certo é que o novo planeta está 25 vezes mais próximo da sua estrela do que a Terra do Sol – será mais quente até do que Mercúrio, com temperaturas na casa dos 1200 graus. Sabe-se também que em Alfa do Centauro b um ano – a duração de uma órbita em torno da estrela – tem apenas 3,236 dias, ou seja 77 horas e 40 minutos.
O Observatório Europeu do Sul, com o espectógrafo HARPS, e a NASA, com a missão Kepler, têm competido saudavelmente na descoberta de novos planetas fora do sistema solar. Em comunicado, a agência norte-americana saudou a descoberta europeia mas encarregou-se de informar que tem novos projectos a caminho nesta área. A corrida pela descoberta da segunda “Terra” tem por isso tudo para aquecer nos próximos anos. Se a NASA destaca o lançamento do novo telescópio espacial James Webb, em 2018, Nuno Santos acredita que a viragem na descoberta de novos mundos chegará com o novo espectógrafo do ESO, previsto para 2016 e que irá permitir uma análise ainda mais precisa da velocidade radial das estrelas. O objectivo é conseguir detectar variações na casa dos centímetros por segundo. Só com uma tecnologia com este tipo de capacidade é que uma civilização inteligente conseguiria usar este método para perceber através do Sol que existe uma Terra a 150 milhões de quilómetros desta estrela: o nosso planeta afecta a variação do Sol em 10 centímetros por segundo, cerca de 0,36 quilómetros por hora.

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