quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Apresentado o primeiro biobanco humano português - Ciências - PUBLICO.PT

Apresentado o primeiro biobanco humano português - Ciências - PUBLICO.PT

É o primeiro repositório nacional para todas as áreas médicas e que, segundo os seus responsáveis, “cumpre todos os requisitos éticos, legais e de certificação para ser classificado como biobanco”.

Quase 21 mil amostras biológicas estão já congeladas no biobanco de Lisboa 
  Quase 21 mil amostras biológicas estão já congeladas no biobanco de Lisboa (João Vasco)


O Biobanco-IMM começou a ser instalado em Maio de 2011 no Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, e as primeiras amostras biológicas começaram a chegar em Janeiro 2012. Em Setembro, quase 3000 doentes já tinham contribuído para este repositório (após terem dado o seu consentimento informado) – um total de quase 21 mil amostras de saliva, sangue, urina, osso e tecido tumoral, acompanhadas da informação clínica correspondente (devidamente despida de qualquer elemento de identificação pessoal).

“É um projecto em curso, mas achámos que já o podíamos apresentar”, disse ao PÚBLICO o director da nova estrutura, o médico João Eurico da Fonseca. O que vai ser feito na manhã desta quarta-feira, em sessão pública no Grande Auditório da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

“Já existem em Portugal bancos de tumores, mas são exclusivamente dedicados ao cancro”, explica ainda o cientista. “A nível internacional, há muitos biobancos temáticos, mas muito menos biobancos genéricos.” Em Portugal o Biobanco-IMM é o único que “cumpre todos os requisitos éticos, legais e de certificação para ser classificado como biobanco”. Estes são mais frequentes nos países do Norte da Europa e “nós queremos competir com eles”, acrescenta. Por enquanto, a maioria das amostras do novo biobanco vieram do Hospital de Santa Maria, da Faculdade de Medicina e do próprio IMM – dos serviços de oncologia, de neurocirurgia, reumatologia, cardiologia, etc. –, mas espera-se que os doentes de outros hospitais venham também a doar material no futuro.

O biobanco é neste momento composto por 20 “colecções” de amostras: de ossos, de tumores, de artrite reumatóide, de AVC, de doenças motoras, por exemplo. Cada uma tem um investigador responsável a quem cabe criar projectos com os cientistas interessados em utilizar as amostras nas suas pesquisas. “Qualquer investigador, em qualquer lugar do mundo”, que esteja interessado nas amostras de uma colecção, explica João Eurico da Fonseca, tem de entrar em contacto com esse responsável. Daí surgirá (ou não) uma parceria, após avaliação ética e científica.

Os cientistas que usam as amostras só pagam os “custos de processamento”, como a extracção de ADN ou as culturas celulares – e ao fim de dois anos têm de apresentar um relatório do trabalho e referir o Biobanco-IMM se publicarem resultados. Já há pedidos internacionais: “Temos um projecto em curso com a Universidade de São Paulo”, diz o médico, “e um pedido de uma universidade italiana”. A “ficha” do biobanco está no site www.bbmriportal.eu, o catálogo dos biobancos europeus.

Não é preciso ser doente para participar: qualquer pessoa pode doar sangue, contactando para tal com o IMM. O grande interesse aqui é a recolha de amostras de pessoas que não estão doentes e cujo ADN pode, por exemplo, servir de grupo de controlo nos estudos sobre as bases genéticas das doenças.

A instalação do biobanco custou uns 150 mil euros e a manutenção (salários dos sete elementos da equipa, consumíveis, vigilância 24 horas por dia, arcas de reserva, geradores eléctricos, intervenção em caso de avarias...) ronda os 100 mil euros por ano. A parcimónia da despesa deve-se ao facto de que o IMM já dispunha de salas pré-equipadas – e de a nova estrutura “ser gerida com enorme rigor”, explica o responsável.

Além das arcas congeladoras, onde as amostras são criopreservadas, há um biobanco virtual, que implicou a compra de um software de gestão especializado, indispensável à organização de um repositório como este. “O biobanco virtual permite-nos saber exactamente onde está cada amostra, conhecer o seu volume” e aceder à informação clínica associada, diz João Eurico da Fonseca.

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