quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ioga. Não estranhe se o médico o mandar para lá | iOnline

Ioga. Não estranhe se o médico o mandar para lá | iOnline

Cada vez há mais estudos científicos sobre os benefícios de ioga para a saúde.

Este mês a Associação de Yoga Integral de Portugal quer arrancar com práticas de ioga só para grávidas. Margarida, a professora escolhida, está em formação contínua desde 2004 e agora, por coincidência, grávida de 16 semanas. Menor desconforto muscular, o domínio de técnicas que facilitam a respiração e uma preparação integral para o parto, até ao nível hormonal e emocional, são algumas das vantagens já reconhecidas das práticas de ioga nesta fase da vida da mulher. Mas esta não é a única área em que a filosofia milenar tem mostrado benefícios para a saúde. Nos últimos anos têm aumentado os estudos científicos sobre o assunto mas também o reconhecimento dos profissionais de saúde, diz Beatriz Katchi, presidente da associação.
A responsável pela única escola de formação de professores certificada pela Federação Internacional de Ioga admite que cada vez há mais alunos encaminhados pelo médico, quer para problemas relacionados com a coluna quer por sugestão do ioga como ferramenta para aprender a gerir o stresse do dia-a-dia. Para quem entrou no universo do ioga há 20 anos, quando dominava uma conotação mais excêntrica ligada à expansão no Ocidente pelo movimento hippie, o reconhecimento é positivo, mas ainda falta divulgação. Os estudos que demonstram as mais-valias do ioga na gestão da dor crónica ou nas demências muitas vezes não chegam ao grande público e persiste a ideia de que o ioga é para “jovens e pessoas bonitas”, diz Beatriz. Há também a ideia redutora de que é uma ginástica e só funciona para quem tiver a capacidade e a flexibilidade para se aventurar nas posições à partida complicadas conhecidas por asanas. Na associação, a aluna mais velha tem 70 anos, mas na universidade sénior dos serviços sociais da Câmara de Lisboa, onde Beatriz também dá aulas, tem uma aluna com 85 anos. “Existe um esforço para adaptar as posições a cada pessoa e ao seu estado de espírito. O ioga até pode ser só meditação, não existe rigidez.”
Foi para derrubar preconceitos e oferecer um espaço e práticas integrais e adaptadas a cada aluno que surgiu em 2004 a Associação de Yoga Integral de Portugal, sedeada na Avenida de Madrid em Lisboa. Descendem de uma escola iniciada nos anos 30 no Uruguai pelo mestre Asuri Kapila, mas o conceito de ioga integral surge alguns anos antes, por iniciativa do mestre que antecedeu Kapila, Sri Aurobindo. Segundo a professora, Aurobindo procurou integrar as diferentes manifestações do ioga, que se julga ser praticado há 5 mil anos no Oriente, num único treino de concentração e descoberta interior. Sejam os exercícios físicos, mantras ou meditação, “o ioga é uma filosofia de vida cujo objectivo é a procura da felicidade”, resume Beatriz. Os exercícios em conjunto são um treino para essa procura e equilíbrio interior, e não um fim em si mesmo, pelo que a ideia não é “fazer ioga” mas aprender a “estar em ioga”. A ideia também não é vender filosofias ou misticismos, mas ensinar técnicas que permitem aprofundar a espiritualidade e a relação de cada pessoa consigo mesmo.
O impacto na saúde vem por acréscimo. A responsável defende que o próprio conhecimento do corpo ou de técnicas de relaxamento já é uma ajuda. Em áreas específicas como a dor crónica, a ansiedade ou a resposta imunitária, o efeito é mais profundo. Nesta altura do ano, os exercícios que reforçam o afluxo de sangue ao baço e ao fígado são indicados para estimular o sistema imunitário e reforçam a protecção contra males da época como a gripe. Já no caso da dor, Beatriz considera-se um exemplo acabado: há 20 anos foi-lhe diagnosticada fibromialgia, síndrome com sintomas como dores musculares e cansaço que afecta entre 2% e 5% da população. Depois de uma primeira fase em que seguiu a medicação receitada pelo médico decidiu usar os conhecimentos do ioga, filosofia optimista, para aliviar a dor física. O “desmame” não foi imediato, mas ao fim de alguns meses deixou de tomar a dose diária de comprimidos, até hoje. “Passei a fazer ioga e meditação todas as manhãs, cerca de meia hora. Quando acordo tenho os sintomas típicos de uma gripe, o corpo moído. Quando termino estou bem disposta e consigo ter uma vida normal.”
Em 2010, um estudo publicado pela Universidade de Ciências e Saúde do Oregon mostrou o potencial do ioga para reduzir os sintomas associados à fibromialgia. Os cientistas dividiram 53 mulheres diagnosticadas com esta síndrome em dois grupos: um que faria sessões de ioga ao longo de oito semanas e o outro a medicação convencional. Os resultados, publicados na revista “Pain”, revelaram que prática poderia ter um impacto positivo no dia-a--dia: o grupo de ioga registava uma redução da dor de 24%, da fadiga de 30% e dos sintomas depressivos de 42%.
Segundo o repositório de literatura científica “Science Direct”, nos últimos anos 5571 estudos abordaram os benefícios do ioga. O número de artigos tem vindo a crescer, de 415 em 2009 para 575 este ano. O impacto na dor é dos temas mais recorrentes mas outra área em que existe alguma evidência é na melhoria do bem-estar das sobreviventes de cancro da mama, ainda que muitos autores ressalvem que as amostras são pequenas. Um estudo publicado em Agosto por investigadores da Universidade de Pittsburg, nos EUA, sugere melhoria na qualidade de vida nas mulheres com piores indicadores de bem-estar após seis semanas de práticas.

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