domingo, 21 de outubro de 2012

E se o governo tiver uma “enorme” queda? | iOnline

E se o governo tiver uma “enorme” queda? | iOnline

Não há saída para a crise isenta de riscos. Cavaco terá a decisão mais difícil desde que chegou a Belém.

Se Passos concretizar a ameaça de se demitir (em plena crise política ponderou bater com a porta) ou Portas mandar o governo a baixo nos próximos tempos, abrem-se diversas hipóteses, mas sobretudo uma “enorme” confusão no país. O Presidente da República ficará no centro da vida política e será a partir de Belém que tudo se decidirá.
A primeira consequência é a entrada em gestão do governo de coligação. Cavaco terá de, com todas as cautelas, ponderar as hipóteses que tem à sua disposição: avançar com um governo de salvação nacional, fazer novas eleições ou nomear um novo governo que lhe seja proposto pelos partidos. São aliás cenários que têm precedentes nos países mais afectados pela crise.
Em Itália, o presidente Giorgio Napolitano nomeou o economista Mário Monti para o governo e na Grécia o país foi para eleições, depois de uma crise política provocada pela austeridade do programa da troika. Por cá não existe a tradição recente de governos de iniciativa presidencial. Os três que existiram nos tempos de Ramalho Eanes – no final da década de 70 – foram de curta duração e estiveram longe de trazer as soluções que o país esperava. E Belém também parece não simpatizar com um governo de salvação nacional, que já foi defendida por figuras como Mário Soares. Alexandre Relvas, director de campanha de Cavaco Silva, já disse ao “Expresso” que “um governo de iniciativa presidencial seria dramático para o país”.
A presença da troika em Portugal não é um pormenor se o Presidente tiver de avaliar os caminhos possíveis a seguir à queda do governo, mas os notáveis do PSD apostam antes numa remodelação e nalgumas correcções ao rumo do governo. “Não há alternativa ao actual governo”, diz Mira Amaral. “Se houver eleições, agora ou em 2013, teremos um novo resgate e mais sacrifícios”, avisa Marques Mendes.
Certo é que este governo tem dado tudo menos sinais de estabilidade e as divergências profundas entre o PSD e o CDS fazem prever o pior. O investigador e professor de Ciência Política António Costa Pinto diz que a solução clássica seria a realização de eleições antecipadas, mas apresenta outra possibilidade: “Uma grande coligação com o apoio
dos dois maiores partidos ou dos partidos que assinaram o Memorando. Ou um governo mais tecnocrático com pessoas do PS e do PSD, porque este tipo de crise pode comprometer as metas mínimas do programa da troika.” Nenhuma destas saídas para uma crise política conta aparentemente com o apoio do PS.
António José Seguro já disse várias vezes que qualquer solução tem de passar por eleições, mas também não é uma hipótese isenta de riscos. Seria muito provável que nenhum partido conseguisse a maioria absoluta, e nesse caso a “grande coligação” de que fala Costa Pinto poderia ser inevitável. Outro contratempo seria ficar durante três meses com um governo condicionado a “actos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos”.
Seja como for, o PS acompanha o processo com todas as cautelas e há quem admita que, perante a gravidade da situação, não se possa descartar nenhuma hipótese. Mas “se o Presidente da República chamasse os partidos a Belém para se entenderem nunca poderiam estar em cima da mesa os nomes de Passos Coelho ou Paulo Portas”, diz um deputado e dirigente socialista. Nos bastidores da política fala-se em nomes como Rui Rio, Bagão Félix ou Vítor Bento, mas, para já, tanto no PSD com no PS, a maioria ainda pensa que a solução passa por salvar este governo. Um dos trunfos que Passos ainda tem é a remodelação e tudo indica que vai usá-lo. Se esta carta será suficientemente forte para inverter a agonia em que o governo mergulhou só o tempo dirá.

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