segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Moeda para uma cidade: o que se ganha em Setúbal fica em Setúbal - Dinheiro Vivo

Moeda para uma cidade: o que se ganha em Setúbal fica em Setúbal - Dinheiro Vivo

Não existe em Portugal. Mas há mais de 2500 casos em todo o mundo. Só em França, a moeda social já foi implementada em 15 cidades, encontrando-se a movimentar o comércio local. Agora, o candidato do PS à Câmara de Setúbal, João Ribeiro, quer trazê-la para cá.
Qual é a ideia? O objetivo do autarca é a reanimação económica da Baixa de Setúbal e do comércio tradicional, através da criação e utilização de uma moeda local, de modo que o dinheiro fique sempre na cidade em vez de ser desviado para o sistema monetário internacional - com todos os inconvenientes deste, explicou ao Dinheiro Vivo o impulsionador do projeto.
Por enquanto, ainda tudo ou quase tudo está em aberto: modelo, alcance, quantidade de moeda a emitir e até mesmo o nome - que João Ribeiro gostaria que fosse sados (refletindo o nome rio que ali passa), mas “são os cidadãos que vão decidir”. “Estamos a lançar um debate, haverá uma ampla discussão pública e todo o processo culminará num referendo, porque é a sociedade que decidirá se se deverá ou não implantar o projeto”, explicou ao Dinheiro Vivo o candidato autárquico, enfatizando que “nada será imposto”.
A concretizarem-se, os sados valeriam o mesmo que os euros, mas só poderiam ser utilizados localmente, no comércio tradicional ou para o pagamento de serviços, ou ainda numa determinada zona, garantindo que a moeda não voaria para outras paragens, perdendo-se-lhe o rasto.
Como vantagens, o seu impulsionador aponta “um redirecionamento da procura, reintrodução de liquidez na economia local e financiamento indireto de projetos sociais”. Quanto a inconvenientes, João Ribeiro tem dificuldade em encontrá-los, a não ser a possibilidade de, “se não for na exata medida, poder condicionar a liberdade de escolha dos cidadãos” - o que, em absoluto, não quer.
Por trás da ideia do candidato autarca, está uma tentativa de combater “a depressão económica da Baixa de Setúbal e do comércio tradicional. A moeda social permitiria reorientar a procura para um sector ou mesmo para uma determinada zona”, explica.
Para pôr em prática o sistema dos sados, existem vários modelos, que poderão passar pela criação de um banco comunitário, ou pela elaboração de um sistema de descontos, à semelhança dos tickets de refeição, por exemplo.
O emissor da nova moeda seria, desejavelmente, a Casa da Moeda, a menos que exista algum impedimento legal. E a quantidade de dinheiro a emitir teria de ser criteriosamente estudada, para evitar perturbações na economia, antecipa o impulsionador da ideia.
João Ribeiro calcula que todo o processo de discussão e decisão poderá ser fechado num ano, podendo então a nova moeda arrancar no terreno.
Uma forma de obter os sados poderia ser através das empresas locais que no fim do ano distribuem uma percentagem dos lucros pelos seus funcionários. “Estes bónus poderiam ser atribuído parcialmente em sados, para utilização no comércio local, sempre com a aceitação dos trabalhadores”, exemplifica João Ribeiro. Outra possibilidade seria a própria Câmara Municipal de Setúbal desviar parte do financiamento destinado a projetos sociais para o banco comunitário, recebendo em troca sados que distribuiria pelos funcionários.

A avançar mesmo a ideia, esta será a primeira moeda social em Portugal. Um modelo que já conta com “muitos casos de sucesso” em todo o mundo. Ao nível nacional, o mais parecido que há é um projeto que ganhou vida em Rio Maior, que se materializa num sistema de trocas de produtos para uso local - mas que não passa, contudo, pela emissão e circulação de moeda.

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