quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Já só resta um terço do tempo habitável na Terra | iOnline

Já só resta um terço do tempo habitável na Terra | iOnline

Equipa britânica calcula que restem no máximo 3,25 mil milhões de anos de condições habitáveis na Terra, e no pior dos cenários, que podem agravar-se com alterações climáticas, só 1,75 mil milhões de anos. A boa notícia é que entretanto (falamos de 1,5 mil milhões de anos) Marte pode tornar-se um lugar mais agradável
Não é fácil perceber logo se é muito ou pouco. Restam pelo menos 1,75 mil milhões de anos habitáveis na Terra ou, no melhor dos cenários, 3,25 mil milhões. As contas são de uma equipa de investigadores da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, que trata de traduzir o significado para que não restem dúvidas: pensando que o planeta é habitável há cerca de 4 mil milhões de anos, já deu cerca de 70% do que tinha a dar como palco da vida como a conhecemos.
Andrew Rushby é um dos autores do artigo publicado ontem na revista "Astrobiology". Ao i, diz que o objectivo da análise, por agora, é fornecer pistas de investigação, já que além de cálculos para a Terra começaram a desbravar o catálogo de 974 planetas descobertos fora do sistema solar para perceber, entre os 12 que estarão à distância certa da sua estrela para ter água líquida, que prazo de habitabilidade terão à partida. O conceito de base é o de zona habitável: a distância a que um planeta deve estar da sua estrela para que as temperaturas permitam a existência de água em estado líquido e que varia consoante a composição do planeta e o brilho da estrela, que se altera ao longo da vida do astro.
Em primeiro lugar, fica um alerta em particular para a Terra. "As emissões tendem a aumentar a temperatura global, baixando o período habitável, mas não conseguimos dizer quanto", diz Rushby, adiantando desde já que no modelo deste estudo usaram uma concentração constante de 300 partes de C02 por milhão, quando o valor actual já supera as 400.
Fora do sistema solar, e sem estarem necessariamente à procura de alternativas, analisaram oito planetas que se pensa estarem à distância certa da sua estrela, alguns por confirmar e todos ainda muito pouco estudados. Usando essencialmente informação sobre o brilho das suas estrelas, calculam que dois planetas do sistema Gliese 581, promissores por terem uma massa maior que a Terra mas mais parecida com esta que a dos gigantes gasosos do sistema solar, terão um prazo de habitabilidade bastante superior ao do planeta azul - no caso do Gliese 581d, 54,7 mil milhões de anos. Caso os planetas do sistema Gliese sejam confirmados, poderiam ser boas opções para segunda casa da humanidade? Rushby lembra que, por agora, e no meio de outras incertezas, como de que serão compostos, há um problema tecnológico de fundo. "A distância até ao Gliese 581 são 20,3 anos--luz e a nossa nave mais rápida, a Voyager 1, dá 63 700 km/h. Íamos precisar de 356 mil anos para lá chegar com a actual tecnologia. Até inventarmos qualquer coisa muito melhor, está bastante além das nossas possibilidades."
O passo mais lógico, admite, seria explorar e eventualmente colonizar Marte, planeta que a equipa também avaliou. Segundo os investigadores, passa a estar na zona habitável dentro de 1,5 mil milhões de anos, mais ou menos a coincidir com o fim do prazo da Terra - neste caso, não tanto pela distância ao Sol, que se manterá nos actuais 227 milhões de quilómetros, mas porque, mais distante, estará menos vulnerável ao brilho crescente da estrela. Rushby e os colegas estimam que se manterá assim mais 6 mil milhões de anos, até ao final da vida do Sol. Se será habitável, é uma incógnita, embora Rushby admita que seria sempre possível pensar em condições artificiais, isto se o efeito de estufa na Terra se tornasse incomportável. "Se algum dia precisarmos de nos mudar, Marte será possivelmente a nossa melhor aposta."
Fora de ficção, ou do pensamento a muito longo prazo, que há a concluir? Por um lado, diz Rushby, o quão difícil será achar vida extraterrestre: mesmo planetas com um grande prazo de vida habitável podem só estar nesse intervalo há poucos milhões de anos. Na Terra, com um passado de 4 mil milhões de anos habitáveis, os primeiros insectos apareceram há 400 milhões de anos, os dinossauros há 300 milhões e o homem moderno há 200 mil. Ainda assim, diz o investigador, nem isto é uma certeza: "Não sabemos se espécies inteligentes como os humanos não poderiam emergir mais depressa, só porque nós demorámos 75% do nosso tempo." Acima de tudo, sublinha, sobressai a ideia de que a Terra permanece única. "Devemos pensar no futuro, mas se calhar não vale a pena considerar outros planetas antes de conservarmos o nosso."

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