quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Noruega não sabe o que fazer a 750 mil milhões de petrodólares do seu fundo soberano | iOnline

Noruega não sabe o que fazer a 750 mil milhões de petrodólares do seu fundo soberano | iOnline

Que percentagem da riqueza do petróleo deve ser injectada na muito rica economia do país é o tema que divide trabalhistas e conservadores

A Noruega vive dias agitados em plena campanha eleitoral. Os dois principais partidos candidatos à vitória não sabem quanto gastar do gigantesco fundo soberano do petróleo de 750 mil milhões de dólares (570 mil milhões de euros). Este é o dilema dos noruegueses no mar da crise em que quase toda a Europa está mergulhada.
O que divide os dois principais partidos concorrentes às eleições neste rico país escandinavo parecem meros pormenores insignificantes quando vistos do Sul da Europa.
Tudo aponta para a vitória da conservadora Erna Solberg, com promessas de mais cortes nos impostos, melhoria dos cuidados de saúde e maior utilização do dinheiro do fundo do petróleo. O seu partido do Progresso propõe-se utilizar uma maior fatia desses recursos para financiar a redução dos impostos, medida considerada perigosa pelos trabalhistas e praticamente inútil pelos economistas.
A poucos dias da eleição, os trabalhistas do primeiro-ministro Jens Stoltenberg lideram as sondagem com 31,8% das intenções de voto, contra 26,8% para Erna Solberg que terá de se aliar ao Partido Populista, de extrema-direita, e cuja oposição à imigração é a principal motivação.
O país tem uma pujante economia de mercado e simultaneamente uma elevada intervenção estatal. O Estado controla sectores e empresas chave ligadas ao gás e ao petróleo, e exerce grande influência regulatória sobre a maioria das actividades.
Graças à riquezas naturais que o país possui, os noruegueses juntaram um fundo gigantesco, avaliado em 750 mil milhões de dólares em Janeiro deste ano, alimentado permanentemente por gigantescas receitas petrolíferas que não cessam de crescer.
Ora, Erna Solberg que, caso vença a eleição, será governo pela primeira vez desde a criação do seu partido em 1973, propõe acabar com a regra que limita a utilização a 4% das receitas anuais do fundo petrolífero. Essa regra foi aprovada e adoptada pelos trabalhistas no ano 2000.
Os noruegueses não se têm mostrado muito favoráveis a intenção dos conservadores, pelo que a candidata deste partido prometeu ser parcimoniosa na gestão e utilização dos fundos.
Apesar da sua imensa riqueza, a Noruega, cuja economia arrefeceu ligeiramente, verá ainda assim, segundo a OCDE, o seu PIB crescer 2% em 2014, contra 0,7% na zona euro.
Quanto ao limite de 4% de gastos das receitas petrolíferas, o partido Trabalhista, caso vença a eleição, propõe-se gastar 3,4% desse total para reduzir o défice. Mas as receitas do fundo não param de crescer, pelo que a medida trabalhista corresponderia a uma subida de 19% do Orçamento do Estado face ao ano anterior.
Com uma economia com uma performance tão boa não admira que os noruegueses sejam cada vez mais avessos a uma adesão do país à União Europeia. Em 1972 e em 1994 já haviam rejeitado essa adesão. A última sondagem de opinião sobre o tema, publicada ontem pelo diário "Nationen", mostra que 79,8% dos noruegueses se opõe a uma hipotética adesão. Apenas 12,6% dos inquiridos é favorável e 7,6% mostram-se indecisos.
Uma prova de que os norugueses querem distância da zona euro e menos exposição à crise foi a recente decisão de se desembaraçarem de dívida pública portuguesa e irlandesa e de concentrarem os investimentos em economias emergentes, como o Brasil e a Índia.
O fundo norueguês, dotado de 750 mil milhões de dólares, equivale a 150 mil dólares por cada um dos cinco milhões de habitantes.

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