segunda-feira, 9 de setembro de 2013

As propostas mais loucas das autárquicas | iOnline

As propostas mais loucas das autárquicas | iOnline

A crise não explica tudo, mas dá o contexto para que se percebam algumas das mais inovadoras ideias postas à discussão por alguns dos candidatos autárquicos às eleições de 29 de Setembro. Os que saem, os que se recandidatam, os que concorrem pela primeira vez a uma câmara municipal – quase todos já perceberam que a promessa de grandes obras públicas não colhem a simpatia dos eleitores, conscientes de que os modelos autárquicos assentes em filosofias despesistas são uma das causas para um apertar do cinto de que se começou a ouvir falar ainda no tempo em que Manuela Ferreira Leite tomava conta das finanças do país. Com muitas das autarquias do país em situação de pré-falência, e com a gestão dos orçamentos locais sob olhar atento do governo central, os candidatos de 2013 puxam pela imaginação e recorrem a propostas “fora-da--caixa” para captar o voto dos portugueses. Há gostos para tudo. E a soma dos boletins faz-se no final do mês.

Pedro Pinto (PSD/CDS e MPT)
Feira Popular em Sintra
A Feira Popular de Lisboa fechou em 2003, 70 anos depois da sua fundação. Anos depois da última ficha ter possibilitado uma volta nos carrinhos de choque na capital, Pedro Pinto (PSD) quer recuperar o espírito do espaço de diversões – em Sintra. “Este projecto tem um retorno previsto muito, muito grande”, admite o candidato. “O terreno é da câmara, as infra-estruturas serão montadas pelas empresas que venham a explorar os espaços ou pela autarquia, que abate depois esse valor em rendas”, pelo que o projecto representará “custo zero de investimento”. Pedro Pinto, que trouxe para Lisboa o festival de música Rock in Rio, quer apostar no mesmo conceito numa zona que “precisa de ser recuperada” e que conta com um potencial turístico elevado. Um milhão e 400 mil turistas por ano chegam ao concelho para visitar a vila histórica. O social-democrata quer aproveitar esses fluxos para a feira popular, que deverá localizar-se junto à estação de Meleças, na freguesia de Rio de Mouro, num terreno de oito hectares. Os 400 mil habitantes do concelho poderão ser outro contributo. A previsão é a de que o projecto contribua para uma “redução directa do desemprego de cerca de 7%”, refere. Na prática, o espaço teria 30 equipamentos de diversão e entre 35 a 45 espaços de restauração, a maior parte dos quais com valores médios que variam entre os 15 e os mais de 27 euros por refeição. O anúncio oficial do projecto está previsto para os “próximos dias”.

Luís Filipe Menezes (PSD/MPT/PPM)
Porto: a Barcelona Lusa
 Jamais terá Antoni Gaudí, não se antevê que venha a ter umas “Ramblas à moda do Porto” a substituir a avenida dos Aliados e muito menos um passeio litoral com a extensão do de Barcelona, ainda que com vista privilegiada para o Douro. No entanto, a ideia de que o Porto possa transformar-se numa “pequena Barcelona da costa peninsular ocidental” foi a fórmula que Luís Filipe Menezes encontrou para anunciar a intenção de reconquistar população – cerca de 50 mil habitantes – para o coração da cidade a que se candidata pela coligação PSD/MPT/PPM. Menezes concorre ao Porto com o olhar pousado no horizonte lisboeta: a ideia, diz, é “rivalizar com o centralismo da capital, que não queremos destruir. Queremos ombrear com [Lisboa], de igual para igual, ser um contraponto”. E, em ano de anúncios de campanha austeros, o ainda presidente da câmara de Gaia quer fazer obra. Como? Fechando a circulação automóvel em parte da rotunda da Boavista, desviando o tráfego para as traseiras da Casa da Música (pela rua dos Vanzeleres) e criando, assim, uma ligação pedonal entre o edifício e o “jardim dos escultores”, a instalar na zona da rotunda. E os planos poderão não ficar por aqui. Ainda no início do ano, Menezes fez o anúncio bomba: quer unir as cidades de Gaia e Porto e, com isso, criar a maior cidade portuguesa, com 660 mil habitantes.

Fernando Seara (PSD/CDS/MPT)
O túnel de Seara
São sete colinas, logo, sete propostas que Fernando Seara apresenta aos munícipes da capital para conquistar a maioria dos voto nas eleições deste mês, que parece querer fugir-lhe para AntónioCosta. A geografia está estudada, mas no capítulo“história” a lição não pauta pelo mesmo tom. Seara quer avançar com a construção de “um túnel no Saldanha que conclua o desnivelamento do eixo Campo Grande-Amoreiras” e que, diz, é “fundamental para dar solução ao trânsito na cidade”. É certo que o agora candidato a Lisboa – apoiado pelo PSD, CDS e MPT – esteve em Sintra durante todo o processo, mas os nove anos de construção do túnel do Marquês – proposto por Santana Lopes, continuado por Carmona Rodrigues e concluído já por António Costa, na sua versão completa e acabada – e os sucessivos episódios de atrasos e bloqueios não terão passado despercebidos ao autarca. A ideia até nem é nova. Tinha sido apresentada em 2009 pelo mesmo Santana Lopes, então candidato à autarquia, estando a sua concretização dependente da existência de “condições financeiras” favoráveis à empreitada. Em tempo de vacas muito magras, Seara recupera o projecto e faz dele uma das suas sete fórmulas chave para conquistar votos na capital.

João Ribeiro (PS)
Setúbal com moeda própria
O comércio tradicional na baixa de Setúbal está a definhar. Em campanha pela cidade, JoãoRibeiro constatou essa realidade de perto e avançou com uma ideia para tentar salvar as pequenas lojas: uma moeda própria para a cidade, patrocinada pela autarquia e que permitirá, em exclusivo, fazer compras no comércio tradicional da cidade e usufruir dos serviços disponibilizados pela câmara. Em entrevista ao jornal digital “Setúbal na Rede”, o candidato socialista chegou a admitir a hipótese de colocar a moeda no mercado através de um aumento salarial de 10% para os funcionários da autarquia. “A moeda social permitirá que se paguem complementos salariais nas empresas ou aos trabalhadores da câmara, por exemplo, mais 10% do salário”, disse. Essa possibilidade é agora posta de parte, recaindo a introdução da moeda em pagamentos pontuais de empresas e autarquia. Por exemplo, numa distribuição anual de lucros – para as empresas que as façam e para os empregados que aceitem o modelo – ou numa retribuição simbólica da autarquia a quem faça, por exemplo, voluntariado. Só os comerciantes poderiam, se o entendessem, trocar essa moeda pelos habituais euros. No máximo, até um ano após as eleições, JoãoRibeiro quer promover um referendo para que munícipes se pronunciem sobre a ideia apresentada pelo candidato.

José Vitorino (Independente)
Presidente não quer ordenado
José Vitorino quer “salvar Faro, com coração”... e uma lista plena de candidatos de bolsos vazios. O cabeça de lista da candidatura independente “Aliança Cívica – Vamos Salvar Faro, com coração” garante que, caso seja eleito, será líder de uma autarquia em regime de voluntariado: abdicará do vencimento e regalias correspondentes ao cargo público. A medida estende--se a todos os elementos que concorrem consigo às eleições de dia 29 e pretende reforçar o orçamento da autarquia em cerca de um milhão e duzentos mil euros ao longo de todo o mandato. As verbas serão desviadas para “um fundo social destinado a combater a fome, apoio a rendas, bolsas de estudo” e a outros serviços sociais. Mas o “voluntariado autárquico” é apenas parte da“revolução” numa “autarquia falida e intervencionada até 2015”. A par disso, está a ser estudada a criação de uma agência para o investimento e emprego, formada por “25 a 30 pessoas da câmara”. “Como a autarquia não tem dinheiro para ser investidor, temos de trabalhar como promotores” de novos projectos, explica ao i. A trilogia de propostas fecha com a “carta de cidadania”, sob tutela do conselho municipal de cidadania, uma espécie de provedor da autarquia, mas “escolhido de baixo para cima”, para que “deixe de haver cheque em branco em Faro”. 

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