quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Juros da dívida sobem 41% a três meses e 43% a 18 meses | iOnline

Juros da dívida sobem 41% a três meses e 43% a 18 meses | iOnline

Portugal colocou ontem 1250 milhões a três e 18 meses com os custos mais elevados do ano. S&P ameaça rating

Os números falam por si. Portugal foi ontem aos mercados colocar dívida a três e 18 meses. Os investidores compraram 500 milhões com vencimento em Dezembro e exigiram um juro de 1,081. Em Agosto, numa emissão semelhante, os juros foram de 0,766. Num mês, os juros subiram 41%. Os 750 milhões com vencimento em Março de 2015 foram colocados com juros de 2,293%. Em Junho, os investidores tinham exigido 1,603% - um aumento de 43% no espaço de três meses.
JUROS A DEZ ANOS NOS 7,1% Também ontem, no mercado secundário, os juros da dívida a dez anos estavam nos 7,146, acima da linha vermelha, a cinco anos nos 6,629% e a dois anos nos 5,637% - valores insustentáveis em qualquer parte do mundo e que mostram bem como os mercados não acreditam na recuperação de Portugal no curto e médio prazo. O regresso aos mercados a 23 de Setembro, como desejava o governo, tornou-se uma ficção. E para agravar a situação, a agência de notação financeira Standard & Poor's colocou ontem o rating da dívida portuguesa em vigilância negativa, considerando que há 50% de probabilidade de vir a reduzir o actual rating BB, que está já abaixo da categoria considerada lixo. A justificar esta decisão estão os riscos orçamentais.
AJUDA DO BCE EM PERIGO Pior do que isso: o país está cada vez mais longe de poder beneficiar do chapéu-de-chuva do Banco Central Europeu a partir de Junho de 2014, fim do actual programa de ajuda dos credores internacionais. Sem um país mostrar que é capaz de emitir dívida a médio e longo prazo a juros razoáveis e sustentáveis, a instituição liderada por Mario Draghi não compra dívida nem serve de garantia aos investidores.
SEGUNDO RESGATE À VISTA Com esta situação, resta a Portugal solicitar à troika um segundo resgate, que traz sempre associado um plano de austeridade, normalmente mais duro do que o primeiro. Foi assim na Grécia, será assim em Portugal. É neste quadro que a oitava e nona avaliações em curso são decisivas. O governo, pela voz de Paulo Portas, insiste na flexibilização do défice para 2014. Basicamente, quer mais 0,5%, o que equivale a mais 800 milhões de despesa pública. E quem fala num défice de 4,5%, já para não falar dos 5% falados pelo PS, fala em mais 7443 milhões de dívida pública, que já atinge neste momento os 130% do PIB. Mais défice, mais dívida, mais juros num país que já paga anualmente oito mil milhões de juros aos credores, o mesmo que gasta com o Serviço Nacional de Saúde. Os mercados olham para o défice, para a dificuldade do governo em reduzir a despesa pública, para a carga fiscal, para o desempenho da economia e fazem as contas à viabilidade do país. E Portugal só tem sinais negativos, até do ponto de vista da estabilidade política.
SEMPRE A DESPESA PÚBLICA Os cortes na despesa, os já famosos 4700 milhões de euros, estão comprometidos pelos chumbos do Tribunal Constitucional, já concretizados ou anunciados. Os apelos à flexibilização, tanto do governo como da oposição, começam a ser vistos externamente como uma incapacidade real de cortar na despesa pública. E mesmo o discurso culpabilizador da austeridade para justificar o fraco desempenho económico não colhe, pelo historial do país na moeda única. De facto, na primeira década do século XXI, sem austeridade, com crédito abundante e juros baixos, a economia portuguesa rastejou com um crescimento médio de 0,4%. O mal, para os mercados e muitos analistas, não está na austeridade. Está na despesa pública que, mesmo com uma carga fiscal enorme sobre famílias e empresas, supera sempre em muitos mil milhões as receitas do Estado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário