Tesouro português, através da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), vai lançar no segundo trimestre deste ano novos produtos para captar a poupança das famílias. Empresas, seguradoras e fundos de pensões também não serão esquecidos. Dito de outra maneira, o Estado, em vez de se endividar no exterior, vai tentar pedir mais empréstimos dentro de portas, uma forma de não deixar sair do país os recursos existentes e de ajudar ao reequilíbrio da balança de pagamentos.
O presidente do IGCP, João Moreira Rato, explicou ao DN/Dinheiro Vivo que “pequenos aforradores” serão os alvos principais desta estratégia de regresso aos mercados da dívida, mas neste caso com a vantagem de não ter de recorrer ao crédito externo. A estratégia será implementada ao mesmo tempo que Portugal recebe as últimas tranches do empréstimo da troika (faltam receber 18 mil milhões de euros do pacote dos 78 mil milhões) e regressa gradualmente aos mercados globais.
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Segundo Moreira Rato, “estamos a trabalhar em novos produtos de aforro com maturidades fixas”. “Haverá novidades no segundo trimestre”. “Um dos objetivos é relançar um mercado que perdeu vigor nos últimos anos – o da poupança privada – e intensificar a relação com o pequeno aforrador”.
Os dois produtos públicos mais populares para captar essas poupanças são os certificados de aforro e os certificados do tesouro, sendo que estes últimos, lançados pelo anterior ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, foram suspensos em setembro por falta de liquidez e por estarem ligados ao mercado de Obrigações do Tesouro do qual Portugal foi banido no início de 2011. Estavam a sofrer distorções graves já que o país se encontra, por agora, fora dos segmentos de longo prazo.
Os desempenhos dos dois produtos (certificados) referidos e o seu peso no total da dívida mostram bem o afastamento das pessoas.
Quando o euro entrou em circulação, no início de 2002, os certificados de aforro sozinhos (não existiam os do tesouro) permitiam pedir emprestado junto das famílias cerca de 15 mil milhões de euros, cerca de 20% da dívida pública total. Quase 11 anos depois, em novembro de 2012, os dados do IGCP mostram que os dois produtos valem 11,1 mil milhões (5,6% do total da dívida).
“Queremos inverter esta situação, aproveitando o aumento antecipado da poupança interna e o facto de o país [balança externa] poder chegar antecipadamente a uma situação de superávite”. “Por isso vamos inovar e alargar a nossa oferta junto das famílias, mas também do sector institucional”.
Como por exemplo? “Sabemos que existe uma procura específica da parte de empresas e que as companhias seguradoras e os fundos de pensões podem estar interessados em produtos com maturidades mais longas. Estamos a trabalhar nesta base, tomando como referência as experiências de Irlanda, França e Itália neste domínio”, acrescenta Moreira Rato.
Quanto ao risco de o Estado concorrer diretamente com a banca comercial nesta tentativa de angariar fundos dos particulares e empresas, o líder do IGCP assegura que “estamos a ver este assunto com os bancos para não haver distorções”.
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