quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Afinal, o que dizem os estudos sobre o melhor povo do mundo? | iOnline

Afinal, o que dizem os estudos sobre o melhor povo do mundo? | iOnline

Vários estudos falaram dos portugueses. Um povo que corta na comida, mas gasta mais que os alemães no Natal.

Todos os anos se enchem páginas e páginas de jornais com conclusões de estudos sobre os portugueses. Em Novembro ficámos a saber que a crise tira o sono a muitos, mas logo em Dezembro um outro estudo concluía que os pais portugueses tencionavam dar prendas mais caras aos filhos que os alemães – os naturais da potência europeia que mais contribuiu para o pacote de ajuda financeira a Portugal em 2011.
Mas as análises à portugalidade não se esgotam na economia. Segundo dizem os estudiosos, somos um povo bem de sexo – 54% dizem ter relações sexuais mais de duas vezes por semana, mais que a média global –, ainda que às vezes ainda sejamos complicados: 2% preferem planear o acto com 15 minutos de antecedência.
Grande parte dos países da União Europeia envergonha-nos quando o tema é bem-estar. Em Abril o Relatório Mundial sobre Felicidade atirou-nos para o lugar 73, em 156 países analisados e atrás de 22 membros da União Europeia.
Os mimos dados no Natal às crianças são talvez uma forma de os pais compensarem o futuro que as espera. Isto a julgar por um outro estudo, de Setembro, que dá conta de que os portugueses estão entre os europeus que mais preocupados se mostram com o futuro dos filhos.
Enquanto todos estes medos subsistem, vamos cortando nos bem alimentares, desconfiamos da democracia – sobretudo dos políticos – e agarramo-nos à religião (oito em cada dez são católicos).
Em Outubro a historiadora Raquel Varela veio confirmar o que já todos desconfiávamos: que não devemos nada ao Estado. Nesta pesquisa, o i apenas não encontrou referências ao estudo em que Vítor Gaspar se baseou para, nesse mesmo mês, afirmar que “os portugueses são o melhor povo do mundo”.

Os êxitos de um país mergulhado em problemas económicos
Os números apresentados há dias pelo Instituto Nacional de Estatística dão força aos portugueses que usam a expressão “vai-se andando” para descrever o estado do país. É que se por um lado existe uma cada vez maior esperança média de vida à nascença, a verdade é que há também cada vez menos nascimentos.
Os dados mostram que em 2011 os casos de sida diagnosticados e os óbitos por VIH diminuíram. Por outro lado, revelam que aumentaram as mortes por doença cancerígena.
De positivo, estes dados referem que as crianças portuguesas fogem cada vez menos das escolas: em 2011 o abandono precoce de educação e formação manteve a trajectória de redução. Melhor que isso, aumentou o número de pessoas inscritas nas universidades e institutos politécnicos.
As autoridades policiais registaram menos crimes, as famílias têm cada vez mais acesso a um computador, à internet, e até à banda larga. Os inquiridos revelam ainda que esse acesso é cada vez mais conseguido a partir de casa.
No entanto, a crise económica trouxe os seus malefícios e os portugueses têm mesmo razões para andar preocupados. O INE revela que ao mesmo tempo que todos estes avanços foram acontecendo, passou a haver menos dormidas em hotéis e menos viagens ao estrangeiro para lazer ou férias. O produto interno bruto por habitante diminuiu em termos reais, assim como o consumo final da famílias e o montante dos empréstimos para compra de habitação.

Crise tira o sono, mas não tira o apetite para o sexo
Um estudo da seguradora Zurich referia no ano passado que a crise estava a tirar o sono a metade dos portugueses.
Mas o inquérito sobre a disfunção eréctil, realizado a mais de mil portugueses, revela que a crise fica à porta do quarto quando se trata de relações sexuais. É que aí os portugueses estão acima da média: 54 por cento dizem ter relações sexuais mais de duas vezes por semana, acima da média global.
Talvez porque quem corre por gosto não cansa, mais de metade dos inquiridos disseram ainda que “as probabilidades de ter relações sexuais são as mesmas aos dias de semana e ao fim-de-semana”.
No entanto, à hora de dormir é que as coisas pioram e os problemas não regressam à cabeça. A análise da relação entre o sono e a crise da Zurich – realizada em oito países europeus – dá ainda conta de que além da situação económica do país, 47% dos portugueses não dormem bem por estarem preocupados com os filhos.
E há os que alegam problemas na gestão familiar (37%), pressões no trabalho ou na escola (30%) e até mesmo a situação política (28%). Só 1% admite não dormir porque o vizinho ressona.

Portugal. A típica sociedade do Sul com hábitos do Norte
A sociedade portuguesa pode até já ser parecida com as do Norte da Europa no que refere ao uso dos smartphones, mas continua a ter famílias muito conservadoras e o homem continua a fazer muito pouco em casa.
Um relatório da OCDE publicado em Maio revelava que no que respeita ao equilíbrio familiar e profissional Portugal é dos países que apresentam maiores diferenças entre homens e mulheres na divisão de tarefas. “Os homens em Portugal dedicam 96 minutos por dia a cozinhar, limpar ou cuidar de crianças, menos 131 minutos que a média da OCDE e menos de um terço do que passam as mulheres portuguesas”, ou seja, 328 minutos.
É por este e outros indicadores que neste relatório – que avalia o bem-estar em 36 países – Portugal se ficava pela 29.a posição. Em Abril já um relatório da ONU sobre a felicidade também deixou Portugal atrás de 22 dos 27 países da União Europeia e na posição 73 em 156 países, ou seja, um “bem-estar moderado”.
Ainda assim há estudos que colocam o país perto dos mais evoluídos da Europa. A fabricante russa de antivírus Kapersky fez uma análise em que concluiu que 85 por cento dos portugueses têm já um smartphone e que desses quase 70% o usam para aceder à internet.
O grau de dependência é tal que, segundo os mesmos dados, 19% dos portugueses já não dormem se não tiverem o dispositivo ao lado da cama; é aliás o quarto objecto essencial atrás da almofada, do despertador e da televisão.

Contradições. Portugueses poupam ou desperdiçam?
Na alimentação, assim como no poder de compra, os estudos chegam a conclusões contraditórias: segundo a ONU, Portugal é um país onde em média cada habitante desperdiça por ano 97 quilos de comida, mas onde, segundo um estudo da Compal, mais de metade das pessoas se queixa de ter sido obrigada a cortar nos bens alimentares para reduzir despesas em tempos de crise. Alguns investigadores portugueses confirmaram no início de Dezembro os números que já haviam sido avançados pela Organização das Nações Unidas e que dão conta de que em Portugal se desperdiça um milhão de toneladas de comida por ano, uma média de 97 quilos por pessoa. O mesmo estudo revela que 81% dos portugueses admitem ter necessidade de cortar nas despesas com alimentação e bebidas “por causa da crise” e que “são as famílias com crianças que mais reduzem estas despesas” (48%). Mas há outros estudos que dão os portugueses como mais consumistas que os alemães. Segundo um inquérito da cadeia de brinquedos Imaginarium – feito em Dezembro –, os pais portugueses são mais generosos que os espanhóis ou que os alemães no Natal. A poucos dias da grande noite, 20,7% dos portugueses tencionavam gastar mais de 150 euros em presentes para os mais pequenos, mais que em Espanha e na Alemanha. No país vizinho só 16,1% disseram que iriam gastar esse montante e na Alemanha só 14,1% iam gastar 150 euros. E como estudos há muitos, um outro, realizado pela empresa Cetelem, concluiu que em média cada português gastou 126 euros com prendas.

Acreditar, só em Deus e na polícia. Na democracia não
Os portugueses estão muito reticentes quanto ao que vai acontecer nos próximos anos e o Barómetro Europeu do Observador Cetelem divulgou dados em Setembro que mostram que são dos que mais se preocupam com o futuro dos filhos. Este ponto era aliás a principal preocupação para 64% dos inquiridos, percentagem acima da média dos 12 países analisados: 55%.
Um futuro que consideram tão negro que até já põem em causa o sistema democrático. No estudo “A qualidade da democracia em Portugal: a perspectiva dos cidadãos” verifica-se que apenas 56% dos portugueses consideram que a “democracia é preferível a qualquer outra forma de governo”. Resposta que talvez encontre justificação no livro – publicado em 2012 – “Quem Paga o Estado Social em Portugal”, de Raquel Varela. Esta historiadora defende que “os trabalhadores pagam mais do que recebem do Estado”.
Já um estudo do Centro de Religiões e Culturas (CERC) da Universidade Católica revela que oito em cada dez portugueses são católicos – o que ainda assim representa uma descida de 7% face a 1999. Ainda assim, não é só a Igreja que continua a ter muitos crentes, as forças de segurança também.
Portugal é o país europeu onde as pessoas mais confiam nas forças de segurança no caso de haver um colapso financeiro ou uma catástrofe natural. As conclusões são de um trabalho da consultora GfK realizado em 16 países para a revista “National Geographic”.

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