quinta-feira, 4 de abril de 2013

Aurora Dourada. Extrema-direita grega quer ser exemplo para o mundo | iOnline

Aurora Dourada. Extrema-direita grega quer ser exemplo para o mundo | iOnline

Grupo extremista, com ligações desde a sua formação aos neonazis britânicos, está a abrir filiais na Alemanha, na Austrália, no Canadá e nos EUA.

A promessa do partido neonazi grego, Aurora Dourada, de se expandir e assumir protagonismo num cenário político e social mais vasto, “criando células em todos os cantos do mundo”, é para levar a sério. Os ultranacionalistas têm galvanizado uma fatia cada vez mais significativa da população desesperada com a crise em que a Grécia se afundou, e, encorajado por uma ascensão meteórica, o partido já está a abrir escritórios na Alemanha, na Austrália, no Canadá e nos EUA.
Depois de 18 elementos desta formação terem penetrado no parlamento no ano passado, eleitos deputados pelos 6,97% dos votos conquistados pelo Aurora Dourada, as sondagens recentes apresentam os extremistas de direita como a terceira maior força política grega, com 11,5% de apoio, segundo uma das últimas pesquisas. E a tendência é para seguir em crescendo. O movimento reclama orgulhosamente o legado do nazismo germânico e, além de o símbolo do partido se assemelhar muito à suástica, os seus membros imitam até a saudação nazi. A retórica inflamada alia-se agora à ideia de que aquela é a única força disposta a reformar um “Estado podre”. Mas esta empresa não se ergue apenas no lugar dos velhos fantasmas; há rumores de financiamento por parte de armadores abastados, dinheiro que terá permitido ao Aurora Dourada estabelecer escritórios por toda a Grécia.
E agora, o porta-voz do partido, Ilias Kasidiaris, veio afirmar que o objectivo passa por concertar uma estratégia global, estabelecendo células “onde quer que haja gregos”. Depois de, no mês passado, ter aberto um escritório na Alemanha, o movimento planeia lançar filiais na Austrália. “As pessoas já perceberam que Chrysi Avgi [Aurora Dourada] diz a verdade”, afirmou o líder a um jornal de língua grega em Melbourne. “No nosso horizonte e planos está a criação de um escritório e de uma organização local em Melbourne. E está, aliás, agendada para breve uma visita dos nossos deputados à Austrália.”
Com uma comunidade de cerca de 300 mil gregos, a segunda maior cidade australiana assume uma importância capital na constelação das áreas com maior concentração dos perto de 7 milhões de gregos espalhados pelo mundo. Acontece que a diáspora grega, representante de comunidades nos hemisférios norte e sul, pode não ter tanta paciência com a campanha nacionalista, e algumas das suas figuras mais preeminentes têm já expressado desprezo - e até nojo - perante o movimento. “Não vemos ouro nenhum na Chrysi Avgi [literalmente Aurora de Ouro]”, afirmou o padre Alex Karloutsos - membro destacado da comunidade greco-americana. “O nacionalismo, o fascismo, a xenofobia não fazem parte da nossa herança espiritual ou cultural”, protestou.
Mas a oportunidade de ouro que o partido neonazi está ansioso por explorar são os sentimentos de frustração e fúria que afectam também os gregos que vivem no estrangeiro, ao ver o seu país devastado pelo descontrolo da dívida, com políticas de austeridade que estão a arrasar a estrutura social do país.
Na Grécia, o Aurora Dourada já começou a recrutar pessoas nas escolas e há quem tema a complacência com a acção do grupo. O paralelismo claro com o período de Weimar, na década de 1930, e a ascensão do Partido Nacional-Socialista de Hitler já foi apontado. E o historiador Mark Mazower alertou recentemente para o perigo de se subestimar a ameaça representada por um movimento político que recorre frequentemente à violência. “Infelizmente, o Estado grego parece não perceber a importância da situação”, disse perante uma audiência em Atenas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário