quarta-feira, 27 de março de 2013

Ponte Vasco da Gama falhou objectivo de tirar trânsito à 25 de Abril | iOnline

Ponte Vasco da Gama falhou objectivo de tirar trânsito à 25 de Abril | iOnline

Quinze anos depois de ter sido construída, a ponte Vasco da Gama falhou o objetivo principal de retirar carros à 25 de Abril, tendo mesmo registado no ano passado o tráfego médio diário mais baixo dos últimos 12 anos.
Segundo dados do Instituto de Infra-Estruturas Rodoviárias (INIR), desde que a Vasco da Gama foi inaugurada, a 29 de março de 1998, o tráfego na ponte 25 de Abril apresentou sempre crescimentos anuais até 2007.
Nem a inauguração do comboio na ponte, em 1999, retirou trânsito àquela infraestrutura.
Apenas em 2002 a 25 de Abril registou um decréscimo do tráfego médio diário (144.802 contra os 156.525 de 2001), mas no ano seguinte os valores voltaram a subir (150.753).
O tráfego na ponte 25 de Abril começou a registar quebras anuais desde 2007 e até aos dias de hoje, mas os dados do INIR mostram que o mesmo se passa na Vasco da Gama, pelo que os carros não estão a sair de uma ponte para irem para a outra e a resposta para esta diminuição pode estar na crise, no desemprego e no aumento dos combustíveis.
De acordo com o INIR, a taxa de crescimento na ponte 25 de Abril foi de "cerca de 6% ao ano entre 1987 e 1997", mas "reduziu para cerca de 1% ao ano entre 1997 e 2007".
Estes valores ficam muito aquém do esperado há 15 anos, quando estudos apontavam para "um desvio natural" do tráfego da ponte 25 de Abril para a Vasco da Gama - com portagens a preços iguais - de 15%.
Com o comboio na 25 de Abril, o desvio natural subiria para 17% e, na melhor das hipóteses, para 25%.
Os estudos feitos apontavam ainda para um total de 25 mil automóveis/dia a circular na Ponte Vasco da Gama, numa primeira fase, e cerca de 132 mil veículos/dia no ano 2020.
Segundo dados do INIR, a ponte Vasco da Gama registou, até setembro de 2012 [ainda não há dados disponíveis do último trimestre], um tráfego médio diário de 54.359 veículos, naquele que é o valor mais baixo desde o ano 2000, quando passaram diariamente por aquela ponte uma média de 51.969 carros.
No ano em que foi inaugurada, a Vasco da Gama teve um tráfego médio diário de 34.210 veículos e o seu ano de glória foi em 2004, com um tráfego médio diário de 67.680 carros.
Quanto ao valor da portagem, no ano em que foi inaugurada os condutores de automóveis ligeiros (classe 1) pagavam pelos 17 km da ponte 320 escudos (1,60 euros).
Quinze anos depois, o valor subiu um euro e hoje um veículo ligeiro paga 2,60 euros.
Passar a ponte custava 780 escudos (3.90 euros) para os veículos de classe 2, 1.180 (5,90 euros) para os da classe 3 e 1.530 escudos (7,65 euros) para os da classe 4.
Hoje, estes valores subiram para 6,05 euros (classe 2), 8,95 euros (classe 3) e 11,55 euros (classe 4).
Ponte Vasco da Gama continua a dividir autarcas e ambientalistas
Quinze anos depois de ter sido construída, a ponte Vasco da Gama continua a dividir autarcas e ambientalistas, com uns a aplaudirem o desenvolvimento que trouxe e outros a tecerem críticas por ter causado mais "malefícios do que benefícios".
"Foi uma obra fundamental (...) tornou o país mais próximo, tendo sido importante para a Área Metropolitana de Lisboa e, em concreto, para o concelho de Alcochete que aproveitou esse fator de desenvolvimento para ele próprio se desenvolver aos mais variados níveis: no plano demográfico, mas também no plano do desenvolvimento económico", disse à agência Lusa o presidente da câmara de Alcochete.
A ponte abriu caminho ao crescimento populacional naquela zona, tendo Alcochete sido um dos concelhos que mais cresceu nos últimos 10 anos, com um aumento de 35% da população (passou de 12 mil para 17.565 habitantes), segundo o Censos de 2011.
Rejeitando que a ponte tenha "dado prejuízo", Luís Franco defendeu que "os malefícios só poderiam resultar se o município não estivesse preparado, no domínio do planeamento, para assumi-la como um desafio".
Questionado sobre as muitas casas construídas na sequência da ponte e que continuam por vender, o autarca eleito pelo PCP disse que resultam da "gravíssima crise económica e financeira" e não "de um mau planeamento no que respeita à expansão urbanística".
No concelho vizinho do Montijo, a presidente da câmara também faz um "balanço muito positivo" da construção da ponte Vasco da Gama, afirmando que em 1998 aquela cidade "era uma espécie de enclave, com dificuldade grande de acesso".
"Com a abertura da ponte Vasco da Gama ficámos a dois passos do Marquês de Pombal e revelou-se, no plano das acessibilidades, fundamental e decisivo para desenvolvimento do Montijo", sublinhou Maria Amélia Antunes (PS).
Segundo a autarca, muitas pessoas foram viver para o Montijo, atraídas pelas novas urbanizações e pelos novos investimentos na área do comércio e da logística.
"De acordo com os Censos 2011, entre 2001 e 2011, a população cresceu 30,78 por cento", indicou.
Contudo, a presidente admitiu que o desenvolvimento e progresso trouxeram também aspetos negativos, como o trânsito, "que aumentou significativamente, o ruído e alguma poluição".
Questionada sobre as casas que permanecem por vender, a autarca disse que é consequência da "expectativa excessiva" criada com a construção da ponte.
"Temos urbanizações por acabar e que são um custo para a câmara, com a manutenção das infraestruturas e dos espaços públicos, há ainda dezenas de fogos por construir e outros por habitar", afirmou.
Do lado dos ambientalistas, todos são unânimes em dizer que a ponte Vasco da Gama não atingiu os objetivos propostos na altura e que teve como consequência um grande desordenamento do território.
"Contribuiu para a expansão populacional para a periferia, quando aquilo que se pretendia era recentrar a população nos centros urbanos", disse a vice-presidente da Quercus, Carla Graça.
A ambientalista lembrou que está por cumprir o "grande objetivo", que era retirar trânsito à ponte 25 de Abril, e criticou a Vasco da Gama por "nunca ter contemplado a travessia ferroviária", lembrando que esse foi o motivo das principais críticas da Quercus, que chegou a apresentar queixas juntos das instâncias europeias contra a construção daquela ponte.
Em declarações à Lusa, o presidente da GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e do Ambiente), disse que a ponte agravou "um problema que é do país todo: o excesso de construção".
"Não trouxe grande desenvolvimento económico à zona, trouxe mais confusão, maior percentagem da população não servida de transportes públicos e não se resolveu problema das travessias do Tejo em Lisboa, que continuam congestionadas", disse João Joanaz de Melo.
Do lado da Liga para a Proteção da Natureza, Eugénio Sequeira frisou que "o impacto que causou foi superior aos benefícios que trouxe".
"Ela não tirou o trânsito da 25 de Abril, o que fez foi aumentar a pressão na zona de Alcochete e Montijo e criou uma apetência para o desenvolvimento da asneira crassa que é o aeroporto de Alcochete, que não foi para a frente porque houve a crise", afirmou.
A ponte Vasco da Gama, com 17,2 quilómetros, foi inaugurada a 29 de março de 1998, e representou um investimento de 897,8 milhões de euros.

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