segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Paraplégicos reconquistam sensibilidade e movimento através de "treino cerebral" - DN.pt


Realidade virtual e computação avançada permitiram a recuperação do controlo de músculos que, há décadas, não eram dominados por estes pacientes
Depois de dez meses de "treino cerebral", oito paraplégicos conseguiram mexer as pernas e recuperar alguma sensibilidade nessa região do corpo. Esta conquista inédita resulta de um prática experimental que recorreu a um exoesqueleto artificial, dispositivos de realidade virtual e sistemas não invasivos que ligam o cérebro a um computador para reintroduzir nesses pacientes a consciência da decisão do movimento.
A descoberta parece sugerir que, mesmo quando a rotura da espinhal medula é considerada total, os tecidos nervosos dessa região permanecem abertos aos estímulos, explicam os cientistas no artigo publicado na Scientific Reportscitado pelo The Guardian. A experiência foi realizada no Brasil, em São Paulo.
Todos os pacientes relataram a restauração parcial dos movimentos musculares e da sensibilidade e, embora nenhum deles consiga andar sem ajuda, alguns conseguem fazê-lo com a simples ajuda de muletas e de equipamento que apoie as pernas.
Cada participante foi equipado com um conjunto de elétrodos que permitiram o registo dos sinais dos eletroencefalogramas (avaliação da atividade bioelétrica do cérebro), durante os quais os cientistas pediram aos pacientes que "pensassem" em mover as pernas. Inicialmente, nenhum deles conseguia fazê-lo.
A introdução dos dispositivos de realidade virtual, aparelhos de auxílio dos movimento (usados na fisioterapia comum) e arneses completos marcaram o estágio seguinte da pesquisa que integra o programa internacional Walk Again.
O uso de realidade virtual acabou por permitir a produção da ilusão do movimento das pernas e simulou sensações distintas como andar na relva ou na areia. Gradualmente e a ritmos diferentes, os participantes começaram assim a sentir reações musculares voluntárias abaixo da área da rotura da espinhal medula.
"Tropeçamos nesta recuperação clínica, o que é quase um sonho, porque levou a abordagem para um nível totalmente novo", conta Miguel Nicolelis, co-diretor do Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke e investigador na Associação de neuroreabilitação Alberto Santos Dumont em São Paulo.
Agora, dez meses depois, um dos pacientes foi já capaz de sair de casa e conduzir um carro. Outra de dar à luz, sentindo, efetivamente, as contrações. Alguns foram requalificados como "parcialmente paralisados".

O ensaio clínico cujo objetivo original era melhorar a eficácia das próteses robóticas comandadas pelo cérebro submeteu os oito participantes a mais de duas mil sessões de "treino cerebral" num total que mais de duas mil horas. Embora tenham registado melhorias significativas (e surpreendentes), estes pacientes continuam o treino inovador.

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