terça-feira, 12 de março de 2013

Áustria. “A vida não era assim tão má no tempo de Hitler” | iOnline

Áustria. “A vida não era assim tão má no tempo de Hitler” | iOnline

Os antigos demónios estão bem vivos quando se celebra o 75.º aniversário da festejada anexação da Áustria pela Alemanha nazi.

O antigo presidente do Eurogrupo e primeiro-ministro luxemburguês, Jean Claude Juncker, afirmou no fim-de-semana que o ressentimento contra a Alemanha nos países do Sul tem paralelos “arrepiantes” com o que aconteceu em 1913 e que conduziu à Primeira Guerra Mundial.
Juncker disse à “Der Spiegel”: “Quem acredite que a eterna questão da guerra e da paz na Europa já não é um risco está redondamente enganado.”
“Os demónios não desapareceram, estão apenas adormecidos, como mostraram as guerras na Bósnia e no Kosovo. Fico abismado ao ver as semelhanças de muitas condições na Europa em 2013 com as de há 100 anos atrás.”
O contraponto à chamada de atenção de Juncker dá-se quando, no momento em que a Áustria se prepara para comemorar o 75.o aniversário da sua anexação pela Alemanha nazi, uma sondagem de opinião mostra que mais de metade dos austríacos estão convencidos de que os nazis seriam eleitos se fossem autorizados como partido político.
A sondagem do jornal “Standard” indica que, para além disso, cerca de 42% dos austríacos acha que a vida “não era assim tão má sob o regime nazi”, e que 39% da população acredita mesmo ser provável uma nova vaga de anti-semitismo na Áustria.
A sondagem do jornal vienense foi divulgada a propósito dos preparativos do aniversário da anexação da Áustria, uma data ainda muito controversa na história do país.
Milhares de austríacos acolheram entusiasticamente Adolf Hitler e as tropas nazis aquando da invasão do país em Março de 1938.
Por outro lado, a Áustria combateu durante a Segunda Guerra Mundial integrada na Alemanha nazi e os austríacos colaboraram activamente na perseguição aos judeus.
No pós-guerra, os austríacos esforçaram-se por limpar essa imagem e criar outra, segundo a qual o país teria sido uma vítima do nazismo.
O jornal “Der Standard” disse que decidiu promover a sondagem para mostrar como os austríacos de hoje julgam o regime nazi.
“Se os dados forem rigorosos, os resultados são extremamente alarmantes, mas não inteiramente surpreendentes,” disse Efraim Zuroff, director do Centro Simon Wiesenthal. “A Áustria é um país com uma longa tradição de anti-semitismo e que produziu alguns dos maiores criminosos de guerra nazis.”
Por seu lado, a revista vista alemã “Stern” considerou chocantes os dados da sondagem austríaca, que mostra ainda que 61% dos austríacos adultos desejariam ver um “homem forte” à testa do seu governo, e 54% dizem estar convencidos de que os grupos neonazis ganhariam assentos no parlamento se pudessem concorrer às eleições.
Curiosamente, 46% dos inquiridos acham que a Áustria foi uma vítima da opressão nazi, em 1938, enquanto 61% consideram que já foi feito o suficiente para minimizar esse passado nazi do país.
Antes da anexação da Áustria, a sua população judaica era de 195 mil pessoas. Segundo números citados pela Reuters, dois terços dessa população foi exilada em programas de “arianização” dos quais só 2 mil escaparam, tendo os restantes morrido em campos de concentração.
Numa tentativa de melhorar o passado austríaco na época nazi, a Filarmónica de Viena anunciou ontem que vai divulgar detalhes sobre a sua colaboração com os nazis durante o Terceiro Reich. A decisão segue-se a alegações de que a orquestra teria branqueado o seu passado.
Sabe-se que a orquestra deverá revelar que expulsou 13 músicos por estes serem judeus ou por se oporem à anexação nazi, e que cinco dos seus membros eram nazis. Cinco dos músicos expulsos morreram em campos de concentração. Na Europa, os velhos hábitos morrem dificilmente.

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