quarta-feira, 20 de março de 2013

Medicina florestal. Cheirar a natureza é combater o cancro | iOnline

Medicina florestal. Cheirar a natureza é combater o cancro | iOnline

Estudo mostra que inalar partículas libertadas por plantas e árvores estimula a produção de células anti-cancerígenas.

Viver rodeado por uma selva de betão e cimento tem desvantagens. A poluição, o stress ou o ruído são os problemas mais falados e a solução óbvia seria fugir para refúgios junto à natureza, mas é na cidade com mais habitantes no mundo, Tóquio, que se está a desenvolver o estudo que diz que inalar partículas produzidas por plantas e árvores reduz a pressão arterial e estimula a produção de células anti-cancerígenas no corpo humano. E nem é preciso estar no meio da natureza - basta cheirá-la. Mesmo que na cidade.
As conclusões da investigação, ainda a decorrer na Escola de Medicina Nipónica de Tóquio, capital japonesa, estão ligadas à medicina florestal. A prática ainda não é aceite no país como um tratamento médico, mas há muito que reúne popularidade como um método de prevenção de problemas de saúde.
Em 1982, a Agência Florestal do Japão aconselhou à sociedade nipónica o banho florestal como prática de relaxamento. Os japoneses chamam-lhe Shinrinyoku, e existem já várias empresas do país a incentivarem os seus trabalhadores a ocasionais passeios no bosque. Isto, porque segundo a Sociedade Internacional da Natureza e Medicina Florestal (Infom), sedeada no Japão, o contacto com a natureza reduz os níveis de adrenalina e cortisol no organismo, substâncias relacionadas com o stress e ansiedade.
A ciência provou que o stress é um dos factores que diminui a produção de natural killer cells - células exterminadoras naturais (CEN), em tradução livre. E foi este tipo de célula a suscitar a curiosidade de Qing Li, presidente da Inform e coordenador do estudo da Escola de Medicina Nipónica, que explicou ao i como funcionam ao certo estas células: “São um tipo de linfócito [um glóbulo branco mononuclear presente na medula óssea], e desempenham um papel importante na vigilância imunitária” do corpo humano, resumiu. Este tipo de células, continuou o especialista em imunologia ambiental, “protege [o organismo] contra o de-senvolvimento, a proliferação e a formação de metástases em tumores, além da prevenir doenças infecciosas”.
Qing Li quis saber mais. Em Dezembro, numa entrevista à revista “Outside”, lembrou a primeira dúvida que o levou a dar início à investigação: se a natureza reduz o stress, poderia ajudar também a aumentar a produção destas células exterminadoras naturais. A medicina florestal deu-lhe razão.
Ao fim de três dias a passear num bosque e a respirar fitoncidas (substâncias orgânicas, anti-microbianas e anti-bacterianas), aerossóis (partículas microscópias presentes no ar) e aromas de óleos libertados por plantas e árvores, o Infom concluiu que, em média, o número de células CEN no sangue de uma pessoa pode aumentar até 56%. Até que Li voltou a questionar-se: poderia a produção de células exterminadoras ser estimulada por aromas produzidos pela natureza, mas inalados fora dela? Uma vez mais, a experiência provou que sim.
O investigador convidou 12 pessoas a passarem três noites num hotel, hospedadas em quartos individuais. Ao longo da estadia, em alguns dos quartos, Li vaporizou o ar com óleo de Hinoki, uma espécie de cipreste comum no Japão. No final da estadia, os participantes dos quartos vaporizados evidenciaram um aumento de 20% no número de células CEN no sistema sanguíneo. Quanto aos restantes, as alterações foram quase nulas. “É uma droga quase milagrosa”, diz Qing Li. E conselhos não faltam: “Quando é altura para ir de férias, não escolham uma cidade, vão para uma área rural. Visitem um parque pelo menos uma vez por semana e, em passeios citadinos, tentem andar sempre perto de árvores.”

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