quinta-feira, 14 de março de 2013

Advogado de neonazis diz que mendigos são “cancros” | iOnline

Advogado de neonazis diz que mendigos são “cancros” | iOnline

Angel Pelluz defendeu no Tribunal de Madrid que os indigentes“não são seres humanos” e causam “repulsa a quem cumpre as leis”.

Angel Pelluz, o advogado espanhol que está a conduzir a defesa de dois supostos neonazis acusados de agressão a um sem-abrigo, na Moncloa, insistiu ontem que “há que afastar [os indigentes] da sociedade” depois de, na terça-feira, ter dito que se trata de “cancros da sociedade” e que “não são seres humanos”. Segundo Pelluz, não lhes pode ser permitido fazerem das ruas a sua casa.
O advogado de 90 anos repetiu assim o que havia já defendido, por escrito, na segunda sessão do julgamento no Tribunal de Madrid - que teve início esta terça-feira, e no qual quatro jovens são acusados de espancar violentamente um sem-abrigo que encontraram a dormir numa cabina fotográfica do parque da Moncloa, no dia 23 de Agosto de 2009.
Na defesa dos seus clientes, Pelluz expôs a tese de que “a ocupação de terreno público por quem não procura uma existência digna é motivo de repulsa para as pessoas que cumprem as leis”, explicando que é isso o que conduz a uma “nostalgia dos tempos passados”, quando vigorava a lei dos vagabundos e meliantes, de 1933.
A citada norma foi aprovada por consenso entre todos os grupos políticos da segunda república para, segundo rezava o texto, “controlo de mendigos, rufiões sem ofício conhecido e proxenetas”.
“Hoje começa a ressurgir nos círculos políticos uma tendência para proibir a mendicidade, uma praga nas nossas cidades, porque há uma nostalgia dos tempos passados”, afirmou o advogado na declaração perante o tribunal, reconhecendo a saudade que sentia daquela lei.
“Se trabalhar é um direito, também é um dever, e a preguiça não é protegida pela nossa Constituição”, argumentou Pelluz antes de explicar que ninguém quer ver acumular-se à sua porta o papelão e as roupas cheias de percevejos, pulgas, piolhos e, em alguns casos, até ratos.
Processo Disciplinar Repisando a sua declaração, Pelluz disse que esta tinha sido mal interpretada, salientando que o seu argumento se limitava a defender que é necessário que os mendigos sejam afastados das ruas.
Depois de sublinhar que não concorda com a agressão que a vítima sofreu e destacar que nunca a havia considerado legítima, antes um acto “execrável”, o advogado fez questão de lembrar que aquele homem devia receber assistência da sociedade, mas “que nem a ele nem a nenhum outro deve ser permitido viver nas ruas”. “Essa é a minha tese”, reiterou.
Entretanto, no fim da exposição da acusação, o magistrado do Ministério Público pediu ao juiz que fosse instaurado um processo para que se possa determinar se Pelluz cometeu algum delito nas opiniões que expressou quanto aos indigentes.
Tendo tomado conhecimento do assunto, a Ordem dos Advogados de Madrid manifestou já o seu repúdio contra esta visão “extremista”, adiantando que irá avançar com um processo disciplinar contra Pelluz por considerar que as suas palavras “atentam gravemente contra a dignidade das pessoas e da advocacia”.
Prisão para os skinheads O sem-abrigo agredido pelo grupo de skinheads é de opinião que não merecia o espancamento de que foi vítima. O “indigente” sofria já de um desvio de personalidade e confessou que mal se lembra do que lhe aconteceu às três horas da madrugada de 23 de Agosto de 2009, recordando-se apenas de ter sido largado na calçada e de acordar, depois, já no hospital.
“Não merecia aquilo que me aconteceu”, disse Rafael Santamaría, que pernoitava na rua Arcipreste de Hita, no bairro madrileno da Moncloa, e sofreu um traumatismo cranioencefálico com contusão hemorrágica, cujo tratamento se prolongou por 541 dias e lhe deixará sequelas para o resto da vida.
Entretanto, a vítima negou ser um mendigo, explicando que tinha sido obrigado a passar a noite na rua depois de o seu carro ter sido rebocado e porque não tinha dinheiro para o recuperar. Rafael revelou também que reside em Zamora, onde tem casa e mantinha um emprego de massagista antes da agressão. Agora sim, diz Rafael, não consegue encontrar trabalho devido às lesões que sofreu.

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