terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Taguspark. Paulo Penedos entra em contradição com o que disse no inquérito | iOnline

Taguspark. Paulo Penedos entra em contradição com o que disse no inquérito | iOnline

O homem cujas escutas deram origem ao caso disse ontem que o apoio de Figo a Sócrates não era uma contrapartida.

Paulo Penedos, principal testemunha arrolada pelo Ministério Público no processo Taguspark, acabou ontem, na segunda sessão do julgamento, por indirectamente passar um atestado de inocência aos três arguidos do processo. O advogado que esteve sob escuta no Verão de 2009 no âmbito do processo Face Oculta e cujas conversas telefónicas – com elementos do Partido Socialista (PS) ou Rui Pedro Soares, ex-administrador do pólo tecnológico de Oeiras – deram origem ao processo Taguspark, disse ontem ter a certeza de que, afinal, não há nenhuma razão para estabelecer uma relação entre o contrato de cedência de imagem de Luís Figo ao Taguspark, no valor de 750 mil euros, e o apoio que o ex-futebolista deu a José Sócrates na campanha para primeiro-ministro nas legislativas de 2009. Foi esta razão que motivou a acusação do Ministério Público: a 9ª secção do DIAP de Lisboa entendeu que as conversas, emails e outros documentos apreendidos durante a investigação mostravam haver indícios de que a Taguspark teria dado alegadas contrapartidas a Luís Figo, por intermédio de Rui Pedro Soares, para que este apoiasse a campanha de Sócrates. Por esse motivo, Rui Pedro Soares, ex-administrador não executivo do pólo tecnológico de Oeiras, Américo Tomatti, à data presidente da comissão executiva do Taguspark, e João Carlos Silva, antigo administrador do pólo, foram acusados de corrupção passiva para acto ilícito.
Paulo Penedos, que fazia a assessoria jurídica de Rui Pedro Soares, repetiu e voltou a repetir ontem em julgamento não acreditar que Luís Figo apoiasse uma candidatura política pro bono, ou seja, sem ter uma contrapartida. Mas na hora em que o procurador Luís Eloy insistiu em saber se isso significava que o apoio a José Sócrates só teria existido como consequência do contrato de 750 mil euros, Rui Pedro Soares negou. E voltou a fazê-lo à saída do tribunal, em conversa com os jornalistas: “Tenho a certeza de que não havia uma relação directa, porque me foi dito [por Rui Pedro Soares] que não havia. O que quis dizer foi que alertei para o facto de aquele apoio poder ter outra leitura. Por isso, falei da mulher de César. A prova de que os meus receios tinham fundamento é que estamos aqui”, alegou o advogado.
Durante a sessão de julgamento – a primeira em que prestou declarações –, confrontado pelo procurador com algumas das escutas telefónicas, Paulo Penedos repetiu a mesma versão: elas eram “um equívoco” e tinham de ser contextualizadas, não se podendo estabelecer a relação que o Ministério Público fazia.
Confrontado com a conversa telefónica em que terá dito a Marcos Perestrello que o que estava em causa era uma coisa de carácter pornográfico, Paulo Penedos sublinhou que o adjectivo se aplicava ao valor do contrato e não às alegadas contrapartidas.”Se me dissessem que o George Clooney ia fazer uma campanha para o Taguspark por 750 mil euros eu não achava caro, agora o Luís Figo...”, ironizou.
No entanto, Paulo Penedos nunca desmentiu categoricamente na fase de inquérito o teor da acusação. Nem sequer referiu que o que era pornográfico era o valor que Luís Figo iria receber. Noutra escuta que praticamente não foi abordada ontem em julgamento Rui Pedro Soares conversa com Paulo Penedos, dizendo-lhe que ia a Milão ter com o Figo. Fica subentendido que o apoio de Figo a Sócrates dependeria de quatro factores: um deles era o contrato de 3 anos, a 250 mil euros por ano. Nessa conversa, Rui Pedro Soares dirá que até Tomatti já estaria convencido depois do que teria acontecido na segunda-feira de manhã: segunda-feira tinha sido o dia após as eleições europeias.

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