quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Itália é mais um risco. Governo quer “prémio” por ser “credível e estável” | iOnline

Itália é mais um risco. Governo quer “prémio” por ser “credível e estável” | iOnline

Governo admite contágio da instabilidade em Itália mas pede aos amigos europeus “prémio” por bom comportamento.

O cenário pós-eleitoral em Itália fez com que o governo português tivesse sentimentos contraditórios: se por um lado a instabilidade italiana provocou um agravamento dos juros da dívida, por outro lado permitiu ao governo dizer ontem que, com a estabilidade e a “credibilidade” que alcançou nos últimos dois anos, tem “créditos” para pedir “um prémio” aos “amigos” europeus.
Nesta faca de dois gumes, Passos Coelho e Paulo Portas até fizeram questão de comentar as eleições italianas. Sem falarem das questões internas, ambos defenderam que é necessária estabilidade governativa no geral. E estabilidade é mesmo por estes dias a palavra de ordem no executivo. Comentando a situação em Itália, o primeiro-ministro usou a palavra para deixar implícito que, em Portugal, essa estabilidade está garantida e que isso dá “créditos” ao país. Por outro lado – num recado indirecto para a oposição –, frisou que a instabilidade política em outros países, como Itália, tem o dom de se tornar contagiosa e assim aumentar os “elementos [ou riscos] de carácter sistémico” aos restantes Estados europeus.
E como em Portugal existe uma solução estável, o governo, pela boca do ministro dos Negócios Estrangeiros, acredita que o país merece “um prémio” da Europa. Numa visita a Espanha, Paulo Portas pôs preto no branco o trunfo que joga nas conversas nos bastidores europeus e disse que a margem de manobra de Portugal é a sua “credibilidade” e, uma vez que o país é “credível e cumpre o essencial”, tem margem de manobra para pedir um “sinal de confiança e este prémio” – prémio esse que deve passar por um prolongamento da meta do défice e por um alargamento da maturidade do empréstimo.
A par disto, Paulo Portas lembrou ontem que é preciso uma “velocidade” diferente no programa e que este deve ter em conta os últimos indicadores económicos, como o aumento do desemprego e a prevista queda mais acentuada do PIB. Todas estas questões estão em cima da mesa durante a sétima avaliação da troika ao cumprimento do Memorando, que se iniciou esta segunda-feira com a preparação do corte permanente na despesa de cerca de quatro mil milhões de euros, mas também a nível europeu – ontem, Passos apenas referiu cortes além de 2014; não referiu a parte a cortar este ano e não falou nem de valores nem das áreas mais afectadas.
No executivo há quem defenda que o valor deve ser menor, tendo em conta que o PIB também o é, e que deve ser mais espaçado no tempo.
Se Portas lhe chamou “prémio”, Passos lembrou que o país tem um “crédito muito grande” que pode jogar a seu favor no tabuleiro europeu. A situação em Itália ajuda a que o governo peça assim melhores condições numa altura em que é evidente que “há mais dificuldade” para cumprir as metas traçadas, disse Passos, sustentando que essa dificuldade não é um exclusivo português – isto porque uma parte dos pedidos que o executivo faz agora – mais tempo para cumprir o défice – é um assunto da exclusiva responsabilidade da Comissão Europeia, uma vez que decorre do procedimento de défices excessivos e não do Memorando. E para argumentar a esse favor, Passos lembra que, “apesar de haver menos impostos e mais subsídios de desemprego a pagar”, a “verdade é que o Estado diminuiu estruturalmente a sua despesa. E isso os nossos parceiros internacionais sabem e é um crédito que joga a nosso favor numa altura em que se está a fazer uma avaliação de qual é a melhor trajectória a seguir”.
Desta vez, o governo alinhou o discurso. Horas antes, Paulo Portas tinha defendido que os programa de assistência têm de “ter em atenção a realidade económica e a sua evolução”, mas também a “deterioração das condições económicas na Europa” a que Itália veio agora juntar mais um risco. Além da meta do défice, Portas focou-se sobretudo na reestruturação dos próximos pagamentos a fazer: “Estava uma excessiva concentração de reembolsos em 2014 e no ano seguinte. E se queremos ajudar os que cumprem, dar um prémio aos que se esforçam, então pedimos aos nossos parceiros europeus para apoiar este pedido de extensão de maturidades”, concluiu.

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