segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ex-quadros do BPN recuperam lixo tóxico do banco que foi nacionalizado | iOnline

Ex-quadros do BPN recuperam lixo tóxico do banco que foi nacionalizado | iOnline

Parvalorem lança concurso onde exige um mínimo de 30 técnicos recuperadores de créditos. Mas é preciso mais para ir atrás das offshores ligadas ao banco.

O caderno de encargos para a recuperação dos lixos tóxicos do BPN reflecte uma abordagem de cobrança tradicional, que levanta dúvidas a fontes contactadas pelo i sobre a eficácia na recuperação deste tipo de créditos, onde há dissimulação do património e utilização de offshores.
No anúncio de procedimento 244/2013, a Parvalorem, entidade emissora e onde estão alocados os lixos tóxicos do BPN a concurso, exige aos concorrentes terem contratos de trabalho celebrados com um mínimo de 30 técnicos recuperadores de créditos/asset managers. E que estes estejam a prestar serviços de gestão e recuperação de créditos no âmbito de contratos de gestão de créditos com terceiros e, pelo menos 50%, tenham mais de dois anos de experiência na prestação de serviços de gestão e recuperação de carteira de créditos.
Outros requisitos passam por ter uma carteira de créditos sob gestão com, no mínimo, 20 mil processos/devedores nos últimos dois anos e uma carteira de créditos sob gestão com, no mínimo, 500 processos/devedores com créditos garantidos por hipoteca sobre imóveis no mesmo período. A Parvalorem contribuiu em 2012 para a subida do emprego nas empresas públicas reclassificadas: 600 trabalhadores transitaram do BPN para a sociedade onde ex-quadros continuam a ter cargos de direcção e estão a recuperar lixo tóxico.   
Recuperação tradicional João Coriel, da sociedade de advogados Valadas Coriel&Associados, considera que só uma equipa de investigadores e contabilistas forenses conseguirão seguir o rasto do dinheiro. “Todo o concurso foi construído para empresas tradicionais de recuperação de crédito”, disse ao i.”Das que estão habituadas a lidar com pessoas que deixaram de pagar as casas ou os carros. Ora a lista das 10 empresas que mais devem – acima de 700 milhões de euros – mostra que vai ser muito difícil encontrar os bens desses devedores”. Emídio Catum, Duarte Lima e Fernando Fantasia são alguns dos empresários ligados a estas empresas.
Devedores fora do país Já no grupo dos maiores alegados devedores privados estão José Oliveira Costa (acusado e detido), Dias Loureiro, Arlindo de Carvalho, José Neto, Luís Caprichoso (arguido), Joaquim Coimbra e Carlos Marques (arguido), alguns dos quais ex-ministros de Cavaco Silva e outros empresários e políticos com ligações ao PSD e PS.
“Só pessoas com muita experiência em offshores e investigação de património dissimulado é que eventualmente conseguirão recuperar algum deste dinheiro”, acrescenta João Coriel. Muitas destas pessoas saíram entretanto de Portugal, como é o caso de alguns arguidos que foram dispensados de participar no julgamento iniciado em Dezembro de 2010 por viverem em países como Angola ou a Suécia.
Lehman Brothers A Whitestar, ex-gestora do Lehman Brothers e empresa de recuperação de créditos a operar em Portugal, juntou-se recentemente à lista de interessados em gerir os activos tóxicos do BPN, conforme o i noticiou a semana passada. A companhia integra hoje a massa falida do Lehman Brothers, o banco cuja falência em 2008 marca o pico da crise mundial do crédito hipotecário.
Recorde-se que o governo teve de injectar em Dezembro mais mil milhões de euros nas sociedades-veículo do BPN, a Parvalorem e a Parups, criadas pelo anterior executivo de José Sócrates para absorverem o lixo tóxico do banco de Oliveira Costa.

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