sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Catroga: "Estado é como família que se endivida e vende as jóias" - Dinheiro Vivo

Catroga: "Estado é como família que se endivida e vende as jóias" - Dinheiro Vivo

O presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) da EDP, Eduardo Catroga, falou ao Dinheiro Vivo sobre a venda dos 4,14% que a Parpública ainda detinha na EDP, uma operação que marca a saída definitiva do Estado da empresa. Para Catroga, este é apenas "um acto simbólico" porque o Estado abandonou a empresa - ao deixar de nomear o presidente do CGS - aquando da venda dos 21,35% aos chineses da Three Gorges.Com a venda dos últimos 4,14%, o Estado sai definitivamente da EDP. É um marco importante para a empresa? Hoje o Estado já tinha uma posição residual na empresa e por isso esta operação tem mais um valor simbólico. O Estado já tinha perdido o controlo da empresa há uns anos e a saída mais relevante deu-se no final de 2011 com a venda à Three Gorges, por isso este é um acto simbólico de saída da EDP porque de facto já tinha saído.
A EDP já atuava como uma empresa privada?
Sim. Já há anos que a empresa atuava como totalmente privada. Houve oito fases de privatização e a empresa, após o inicio desse processo, funcionou sempre como uma empresa guiada por principios de racionalidade económica e não política.
O Estado não interferia?
Estou ligado à empresa como elemento do Conselho Geral e de Supervisão, primeiro como vogal durante dois mandatos, ou seja, seis anos, e agora, há um ano, como presidente e a grande mudança ocorreu no último ato de privatização em que o Estado deixou de estar representado directamente no Conselho, embora a Parpública ainda tivesse continuado a estar representada. Antes disso, o anterior presidente do Conselho era indicado pelo Estado e deixou de o ser em fevereiro de 2012, há portanto um ano, e nessa altura o presidente passou a representar todos os acionistas.
Portanto havia alguma interferência?
O Estado estava representado no Conselho Geral e deixou de estar quando vendeu a tranche de 21,35% e só não vendeu este cerca de 4% porque, na altura, eles estavam comprometidos. O ato substancial ocorreu quando o Estado passou a ter uma posição residual e esta venda representa um ato simbólico. Na realidade podemos ir até mais atrás, quando os Governos anteriores venderam o controlo da EDP e ela passou a ser maioritariamente privada.
É a favor das privatizações?
Historicamente sempre defendi que o Estado deveria ter mantido uma posição em empresas estruturantes para a economia portuguesa como a PT, a EDP, a Galp ou de outroas empresas, mas para com o único objetivo de ajudar a formar um núcleo acionista estável e coerente nas empresas, mas sem que o Estado tomasse uma posição maioritaria que condicionasse a gestão das empresas. Esta era a minha posição há 20 ou há 10 anos, mas agora, infelizmente, deixámos cair o nosso Estado num Estado sem autonomia financeira e portanto não há outra alternativa. O Estado tem de vender para diminuir uma dívida pública que deixou acumular nos últimos 15 anos. É como uma família que se endivida e que tem de vender as jóias da família para pagar as dívidas. Foi o que aconteceu ao nosso Estado.
E se não estivesse cá a troika…
Se não tivessemos a troika ainda teria sido pior porque para ter acesso a financiamento teriamos de vender ao desbarato.

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