segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Energia de ondas. Limpa, sem riscos e com futuro. Mas ainda subaproveitada | iOnline

Energia de ondas. Limpa, sem riscos e com futuro. Mas ainda subaproveitada | iOnline

Ondas têm o potencial para alimentar 20% do nosso consumo energético. Mas Portugal só pode utilizar 1/7 da sua costa para explorar esta fonte de energia.

Portugal tem quase tudo para tirar mais proveito das energias renováveis. “Uma costa ocidental longa e muito bem infra--estruturada, em termos de rede eléctrica, de transporte e com um bom número de portos e estaleiros navais”, enumera Nuno Matos, especialista português em energias renováveis marítimas. Todas estas vantagens estão porém subaproveitadas, alertam investigadores portugueses e estrangeiros, estimando que as potencialidades existentes só na costa ocidental dariam para produzir cerca de 20% da energia eléctrica que hoje consumimos. Apesar disso, um estudo recente preferiu antes destacar o Reino Unido como o país que está a subestimar a quantidade de energia que pode gerar com a exploração de fontes maremotrizes, ou seja, de energia gerada pelo aproveitamento de ondas e marés.
Às ondas que chocam na costa britânica foi reconhecido o potencial de alimentar mais de 20% das necessidades energéticas do Reino Unido. O estudo, publicado no jornal “Philosofical Transactions of the Royal Society A”, esqueceu-se de mencionar o país que tem sido pioneiro em projectos de exploração de energia proveniente de ondas. Historicamente, Portugal sempre se inclinou para o mar, e esta preferência é justificada pelo potencial concentrado na área marítima à disposição dos portugueses.
A área litoral de Portugal chega quase aos 1800 quilómetros, e a sua Zona Económica Exclusiva é a terceira maior da Europa, ficando apenas atrás de França e, precisamente, do Reino Unido. E as qualidades não ficam por aqui. “Portugal tem boas condições de clima e não possui correntes marítimas particularmente intensas”, destacou ao i o responsável pela área de Políticas e Disseminação da WavEC, uma entidade sem fins lucrativos dedicada às energias renováveis marinhas.
O tal estudo em causa sugeriu que os britânicos podiam satisfazer 20% do total do seu consumo energético caso desenvolvessem meios viáveis para explorar energia através do aproveitamento da força das marés. Nesta corrida, Portugal sai a perder, já que “o potencial para [a sua] utilização é quase nulo”, argumenta António Sá da Costa, presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN). “A amplitude das marés em Portugal está na ordem dos quatro metros, e por razões económicas e técnicas, são necessários oito metros”, explicou. Mas quando a conversa chega às ondas, “a história é outra”.
Potencial português “A energia das ondas tem um potencial de produção de energia eléctrica muito substancial, estimando-se que, apenas na costa ocidental de Portugal Continental, se possa produzir cerca de 20% da energia eléctrica que consumimos actualmente”, defende Nuno Matos. Esse potencial é sublinhado pela Direcção-Geral de Energia e Geologia. No seu site, a entidade tutelada pelo Ministério da Economia e do Emprego estima em 30 kW (killowatts) o potencial energético de cada quilómetro da costa portuguesa. Mas dos quase 1800 quilómetros de extensão, esse recurso, porém, resume-se a apenas 250 quilómetros de costa – distância que nem chega aos 15% da área costeira do país.
 Mesmo assim, e para Nuno Matos, o país tem à disposição “um recurso médio--alto em termos de energia de ondas”. Este recurso energético ainda não tem “exploração e desenvolvimento comercial no mundo”, algo que apenas deve suceder “a partir da próxima década”. Mas enquanto não chegamos lá, Portugal “é um dos países pioneiros” na experimentação de tecnologia.
A Central de Ondas, localizada na ilha do Pico, nos Açores, é um de dois projectos actualmente em funcionamento no país. Construída em 1999, está sob a exploração da WavEC, sendo um dos poucos planos na área que foi parcialmente financiado pelo Estado (25%). A central “produziu acumuladamente cerca de 52 mil Kwh” de energia em 13 anos de “funcionamento intermitente”, pois a infra-estrutura tem servido “especialmente para estudo de investigação científica e desenvolvimento”, segundo Nuno Matos. Em 2011, de acordo com os dados da PORDATA, o consumo energético per capita em Portugal rondou os 4600 kWh – logo, a energia que a central do Pico produziu em 13 anos só seria suficiente para satisfazer as necessidades energéticas anuais a pouco mais de 11 mil portugueses.

Do pico para peniche A tecnologia dedicada à exploração de energia das ondas só agora vai dando os seus primeiros passos. “As energias renováveis oceânicas estão ainda em fase prematura”, lamenta o dirigente da WavEC. Além da central açoreana, existe apenas mais outro projecto de exploração de recursos marítimos em Portugal Continental. A cerca de 900 metros ao largo de Peniche, a força das ondas já produz electricidade graças a um instrumento plantado no fundo do mar.
O Wave Roller é um protótipo comercial, ainda em fase experimental, que aproveita a aceleração repentina da água, de uma zona funda para uma rasa, causada pela passagem de uma onda. A massa de água leva as pás gigantes do sistema a movimentarem-se, o que subsequentemente produz energia. O projectou chegou a Portugal fruto de uma cooperação a nível europeu, que implicou investimentos superiores a seis milhões de euros.

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