terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

As razões da renúncia. O Papa está doente ou o Vaticano é ingovernável? | iOnline

As razões da renúncia. O Papa está doente ou o Vaticano é ingovernável? | iOnline

Bento XVI sofre de várias complicações de saúde e não teve vida fácil nos últimos meses, por causa do Vatileaks.

Apesar de inesperada, a decisão de Bento XVI estaria a ser ponderada desde Março do ano passado, segundo o jornal oficial do Vaticano “L’Osservatore Romano”. Bento XVI justificou ontem o afastamento do comando da Igreja com o peso da idade e a exigência do lugar, sendo que o porta-voz do Vaticano se apressou a garantir que o Papa não está doente. Federico Lombardi recordou que Bento XVI tem quase 86 anos, acrescentando ser “normal” que nessas idades “haja uma quebra da força física”. Mas, ao final da tarde, numa entrevista à agência de notícias DPA, o irmão do Papa adiantou que o pontífice terá sido aconselhado pelo médico a afastar-se do trabalho e, sobretudo, de viagens por motivos de saúde.
O certo é que o Papa tem às costas um leque de doenças: desde complicações cardiovasculares, como recordava ontem o “El País”, a problemas de hipertensão – que muitos disseram ter sido a causa de um desmaio durante as férias de 2009. De há uns anos para cá, Bento XVI segue uma dieta rigorosa e os médicos proibiram-no de subir a mais de dois mil metros de altitude. Será essa a razão pela qual, nos últimos anos, o pontífice tem passado sempre as férias em Castel Gandolfo e não na montanha, como sempre fez. Além dos problemas cardíacos, a visão tem-se deteriorado e o Papa praticamente já só vê do olho direito. Por outro lado, desde há algum tempo que tem sido visto a caminhar pela Cúria com a ajuda de uma bengala e os compromissos públicos bem como as viagens diminuíram substancialmente.
Há mais razões que podem ter contribuído para a renúncia. Nos últimos meses, o Vaticano tem sido abalado por uma série de escândalos relacionados com a fuga de documentos secretos, que revelaram uma teia de conspirações e de corrupção na Santa Sé. O Vatileaks – foi assim que ficou conhecido o processo – culminou com a detenção do mordomo pessoal do Papa. A condição de Bento XVI, segundo a imprensa italiana, começou a piorar em virtude dos sucessivos escândalos. É público, por exemplo, que o Papa chorou quando soube que o seu mordomo tinha sido detido por suspeitas de ter contribuído para o vazamento de documentos para a imprensa.
Também se diz que, nos últimos meses, Bento XVI se isolou demasiado, sem saber em quem confiar ou com quem contar. O “L’Osservatore Romano” chegou a escrever, no ano passado, que o Papa se tornou  num “pastor cercado por lobos”, devido às intrigas e às lutas de poder que se desenrolam nos corredores do Vaticano. O autor do livro “Sua Santità”, que contém boa parte dos documentos vazados no âmbito do escândalo Vatileaks, recordou numa entrevista recente ao i que estaria em marcha uma “operação de poder” dentro da Santa Sé, alegadamente levada a cabo pelo seu número dois, o cardeal Bertone e com o objectivo de fazer cair o Papa. “Bento XVI talvez não esperasse encontrar tamanhas resistências no seu papado. Há uma enorme contradição entre os seu estudos enquanto teólogo e a ambição humana de poder que encontrou na Cúria”, garantia Gianluigi Nuzzi. Bento XVI tentou empreender, durante o seu papado, uma série de mudanças e de limpezas dentro da Igreja, que não terão sido vistas com bons olhos por muitos dos membros da Cúria.
Por outro lado, desde o conclave de 2005 que sempre se discutiu se Bento XVI estaria à altura do lugar. As suas capacidades enquanto académico e teólogo sempre foram amplamente reconhecidas, mas muitos temiam que a fraca habilidade que terá demonstrado para as homilias e a enorme timidez, bem como o carácter solitário que sempre revelou pudessem vir a causar-lhe dificuldades no comando da Igreja. 

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