sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Segurança. Resultados das cirurgias nos hospitais vão ser auditados | iOnline

Segurança. Resultados das cirurgias nos hospitais vão ser auditados | iOnline

DGS vai passar a monitorizar segurança mas também resultados. Em Inglaterra auditorias apuraram grandes disparidades entre hospitais.

A segurança e a qualidade das cirurgias feitas no Serviço Nacional de Saúde vão passar este ano a ser monitorizadas pela Direcção-Geral da Saúde, que prevê também a realização de auditorias internas e externas nesta área. Além do grau de cumprimento dos procedimentos de segurança, instituídos em todos os hospitais em 2010 no arranque do projecto Cirurgia Segura Salva Vidas, a DGS vai passar a recolher semestralmente dados sobre a taxa de mortalidade associada às operações em cada unidade, seja no dia da cirurgia seja após a intervenção, mas também de complicações e casos em que os doentes tiveram de voltar à sala de operações em menos de 24 horas.
O reforço da monitorização das cirurgias é determinado por uma nova norma da DGS publicada esta semana. O documento justifica a necessidade de acautelar a segurança cirúrgica com o crescente volume de actividade nesta área. “Constatou-se, pela experiência de outros projectos relacionados com a sobrevivência materna e neonatal, que a implementação de estratégias simples de monitorização de indicadores-chave melhorava significativamente os resultados finais de saúde com a consequente redução de desperdício de recursos”, lê-se na norma disponível no site da DGS.
Francisco George, director geral da Saúde, adiantou ao i que a perspectiva é ter cada vez mais informação fidedigna sobre o que se passa nos blocos operatórios, em termos de segurança e qualidade. Este processo será centralizado pelo departamento de qualidade da DGS, mas terá o apoio da Administração-Central do Sistema de Saúde, que fará a recolha de informação, disse ao i Pedro Gomes, responsável pelo Sistema de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC). Este sistema da ACSS, criado em 2004, gere as listas nacionais de espera e permite a referência dos utentes de uns hospitais para outros caso as unidades onde estão inscritos para ser operados não consigam cumprir os tempos de espera previstos na lei (no máximo nove meses).
disparidades A importância da monitorização da actividade cirúrgica esteve em discussão em 2012 no Reino Unido após as auditorias de âmbito nacional centradas em algumas operações no SNS inglês terem revelado grandes disparidades nos resultados dos diferentes hospitais. No caso de cirurgias abdominais urgentes, a investigação das autoridades britânicas concluiu que a diferença na sobrevivência dos doentes operados nos hospitais com pior desempenho chegava a ser de 12 vezes face aos melhores: na pior unidade, que não foi identificada, morreram, no período avaliado, quatro em cada dez doentes operados. No melhor, a relação apurada foi de um em 28.
Em Setembro, mês em que o SNS inglês publicou os resultados das auditorias a cirurgias, vários investigadores da Universidade de Londres, na revista “The Lancet”, concluíram que a taxa de mortalidade global nas cirurgias no Reino Unido ronda os 3,6%, o dobro das estimativas anteriores. Em Portugal, o indicador referente à taxa de óbitos no bloco operatório é o único tornado público pelo SNS, embora não exista para já uma análise qualitativa do seu significado, dado que é preciso pesar a gravidade dos prognósticos dos doentes operados mas também a complexidade das intervenções.
Os dados surgem ainda assim anualmente nos relatórios sobre casos de doença tratados nos hospitais, que a DGS quer passar a publicar com menos desfasamento temporal. Em Dezembro foi divulgado o relatório referente a 2010 e esta semana surgiu o relatório referente a 2011. Tendo em conta a informação disponível nestes documentos, a mortalidade associada a cirurgias em bloco operatório ronda em Portugal 1,9%. Ambos os documentos sintetizam o número de óbitos para as 25 intervenções mais comuns em 16 grupos de problemas, por exemplo do sistema nervoso ou do sistema digestivo. Em 2010, num total 1 020 669 de procedimentos cirúrgicos nas unidades do SNS verificaram-se 15 848 mortes. Em 2011, ano em que registou um aumento de 2% nas intervenções cirúrgicas, houve uma subida proporcional no número de óbitos, para 16 244.
Paulo Nogueira, da Direcção de Serviços de Informação e Análise da DGS, explicou ao i que a tendência nesta área tem sido de estabilidade. Quanto a não existir uma apreciação qualitativa dos resultados ou não serem confrontados com metas, o responsável disse que a informação está disponível para ser escrutinada pela DGS, quando oportuno, e por outros investigadores ou peritos na área da saúde que entendam fazê-lo. Os relatórios não fornecem informação por unidade hospitalar, apresentando uma compilação dos resultados por região mas com outra metodologia por base. Sendo necessário pesar o facto de as administrações regionais de saúde terem níveis distintos de actividade cirúrgica, a maior taxa de óbitos nesta área verificou-se em 2011 nas unidades do Algarve (1,64%).
A nova monitorização vai abranger hospitais públicos mas também unidades privadas onde sejam operados doentes do SNS. “A adesão, bloco a bloco, permite a cada profissional, equipa, serviço, instituição e serviços centrais, a obtenção de estatísticas cirúrgicas, as quais se revestem de uma importância fundamental para a melhoria das práticas cirúrgicas e para a segurança do doente”, conclui a norma da DGS.

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