terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Estados Unidos. Rede secreta canaliza milhões para desacreditar alterações climáticas | iOnline

Estados Unidos. Rede secreta canaliza milhões para desacreditar alterações climáticas | iOnline

Esquema oculto nos Estados Unidos terá sido financiado com quase 90 milhões de euros para disseminar dúvidas em torno de causas ambientais.

“Lóbi” é uma palavra que se aplica a quase tudo o que se digne ser sério, ou pelo menos tente. É um termo popular que a língua inglesa criou para resumir a pressão a favor ou contra uma determinada causa. Nos Estados Unidos, a palavra saltita entre quase tudo o que é discussão pública ou política. Agora sabe- -se que é também aliada da causa anti- clima. Uma rede criada com o objectivo de financiar grupos e institutos para descredibilizar teses ambientalistas foi recentemente denunciada pela imprensa britânica. A organização terá canalizado quase 90 milhões de euros para disseminar dúvidas e alimentar o cepticismo em torno de questões relacionadas com alterações climáticas.
Ao todo foram descobertos dois fundos, mas a identidade de quem os financia ainda não é conhecida. Pouco se sabe sobre um esquema que só agora começa a ser revelado. Em Janeiro, o “The Independent” noticiou que duas entidades financeiras, Donors Trust e Donors Capital Fund, estariam a direccionar milhões de dólares para sustentar o lóbi anticlima. A verba estaria destinada a 102 grupos e institutos norte-americanos, encarregados de denegrir a credibilidade dos argumentos científicos e de organizações ambientalistas, como a Greenpeace. As estratégias vão de criticar o papel dos combustíveis fósseis no fenómeno do aquecimento global, até negar a influência do homem nas alterações climáticas.
O jornal “The Guardian” estimou em quase 90 milhões de euros a quantia canalizada pelos dois fundos entre 2002 e 2010. Além de garantirem o financiamento deste tipo de organizações, o Donors Trust e o Donors Capital Fund, que prezam “ideais de um governo limitado e da liberdade de negócio”, asseguram o anonimato dos seus credores, que a imprensa britânica acredita serem multimilionários com ligações ao Tea Party – movimento mais conservador do Partido Republicano.
E lóbi que se preza, claro, não pode fugir às implicações políticas. Em 2008, uma semana depois de vencer as eleições presidenciais nos EUA, Barack Obama definiu o aquecimento global como uma prioridade para o seu mandato. Quatro anos volvidos, o presidente democrata regressou ao tema logo no primeiro discurso após a sua reeleição: “Sou um crente firme de que o aquecimento global é real, fruto do impacto do comportamento humano e das emissões de carbono.” Ou seja, tudo o que o lóbi conservador anticlima desmente, com argumentos empurrados por milhões de dólares. Por enquanto, o único nome avançado como financiador da rede é Charles Koch, o sexto homem mais rico do mundo e proprietário da Koch Industries, uma gigante petrolífera listada pela revista “Forbes” como a segunda maior empresa privada dos Estados Unidos.
lóbi tímido Em Portugal, contrariar causas e grupos ambientalistas é algo que “nunca foi sentido de forma descarada”, conta Nuno Sequeira, presidente da maior organização ambiental do país, a Quercus. “A nível climático, decide-se a uma escala muito pequena”, justifica. Como termo de comparação, basta referir que a pegada poluidora dos EUA é a segunda maior do mundo: só fica atrás da China na lista de países que mais emissões de carbono libertaram para a atmosfera em 2012. Já houve vezes, contudo, em que o lóbi antiambientalista tentou infiltrar-se nas trincheiras do inimigo. Uma fonte da Liga para a Protecção da Natureza contou ao i que “há cerca de dez anos”, uma multinacional alemã a operar em Portugal na área da engenharia electrónica “invadiu a LPN com espiões” através de uma lista de sócios que se candidataram à presidência da instituição. O objectivo passaria por converter a LPN numa organização pró-nuclear – numa altura em que o tema era largamente debatido no país –, mas a tentativa “foi desmascarada”, recorda a mesma fonte.

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