segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Urbanismo. É preciso pensar “a grande tarefa que temos pela frente” | iOnline

Urbanismo. É preciso pensar “a grande tarefa que temos pela frente” | iOnline

Foi inaugurado esta semana em Londres o novo centro para planificar as cidades do futuro. Um investimento de 35 milhões de euros.
Em todo o mundo, cinco em cada dez pessoas – metade da população mundial – vivem actualmente em cidades. Até 2050, o número de moradores urbanos poderá subir para os 70%. “A solução”, defende David Cadman, “não pode passar por contrariar esta tendência”. Até porque “é nas cidades que se cria riqueza”, acrescenta o presidente do ICLEI – Local Governments for Sustainability. O objectivo é encontrar soluções para aquilo que Joan Clos, director executivo da UN Habitat e antigo presidente da câmara de Barcelona, define como “a gigantesca tarefa que temos pela frente”: conseguir arrumar toda a gente nas cidades, sem que a vida nos grandes centros urbanos se transforme num caos e sem que esgotemos os recursos do planeta pelo caminho. Foi esse o ponto de partida para os vários debates que a Siemens e a UN Habitat promoveram em Londres, na inauguração do novo edifício de 3500 metros quadrados da empresa – o Crystal. Um espaço que vai servir de referência para o diálogo sobre a sustentabilidade urbana.
tarefa árdua Joanesburgo (África do Sul), Toronto e Vancouver (Canadá), Trondheim (Noruega), Estugarda (Alemanha). A lista não é exaustiva, mas serve de referência para os exemplos para os quais os agentes políticos poderão olhar, ao planificarem a evolução dos espaços onde a grande maioria da humanidade vai viver nas próximas décadas.
Durante muito tempo, o debate andou à volta dos grandes decisores, chefes de governo e presidentes dos diferentes países. Mas a voz desta discussão foi sendo dada a novos protagonistas, e é nos decisores locais, naqueles que desempenham uma acção directa sobre o espaço, que recaem agora as responsabilidades. “É bom que tenhamos tido um Rio+20. Mas é preciso trazermos os objectivos para o nível europeu, nacional e, em última análise, para o nível local”, defende o presidente de Estugarda.
Joan Clos refere que “são precisos 20 anos para construir uma cidade. E temo--nos preocupado, sobretudo, com construir edifícios, não cidades”. Num continente em que a geografia das grandes urbes está definida há décadas, a tarefa de reabilitar o espaço não está perdida, mas representa investimentos acrescidos. “Este problema torna-se económico, mas também político, porque ninguém quer, por exemplo, ser expropriado”. Num cenário de orçamentos restritivos, como aqueles com que se deparam hoje muitas cidades europeias, pôr em prática mudanças que impliquem grandes investimentos não será a opção mais fácil. Mas há ganhos que resultam dessa aposta, como explica Rita Ottervick, presidente de Trondheim, que em 2003 deu fôlego à transformação do município numa “cidade inteligente”: “Nós começámos com um pacote global de mudanças que incidiam sobre o consumo de energia e sobre os transportes. Mas à medida que o processo foi evoluindo, tivemos de fazer algumas mudanças. Procurámos ser transparentes e deixar que as pessoas acompanhassem o processo, mas também tentámos dar algo em troca de cada nova restrição”. Pelo novo imposto que começou a cobrar, a autarquia tentou apresentar um ganho. “Passámos a usar menos energia, o que para o município significa mais verbas disponíveis para aplicar em diferentes sectores, como na construção de novas estradas, na compra de novas bicicletas comunitárias e na oferta de transportes mais baratos e mais frequentes. São ganhos que as pessoas sentem no seu dia-a-dia”.
Unir esforços “Ou surge uma nova fonte de energia, ou temos de baixar substancialmente a quantidade que consumimos”, defende Joan Clos. Para que esta mudança ocorra, é preciso que haja, sobretudo, um compromisso dos habitantes das cidades, para que se façam usos mais racionais dos bens disponíveis. “As pessoas estão desconfiadas em relação à política. Por isso, no final, a única forma de motivação que pode existir tem de basear-se no indivíduo e naquilo que ele deseja”, explica o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Giovanni Allegretti. “Numa sociedade individualista, a motivação individual passa por querer melhorar o ambiente da sua vida”. Uma área em que a experiência do Orçamento Participativo desempenha um papel importante e que pode ser transposta para o nível regional. “Tem de começar-se do nível mais pequeno para que se estabeleça a confiança e para que se amplie a discussão. Em França e Itália começa a haver exemplos de grande êxito desta experiência a nível regional, mas em Portugal ainda falta uma representação institucional a nível regional, que não ajuda a dar esse salto e que leva a que se fique pelo nível micro municipal”.
Mas há outros intervenientes no tema que podem dar o seu contributo e levar a que haja melhorias. “As instituições cívicas vão ter o papel de suscitar o debate sobre os temas e levar os responsáveis políticos a tomar decisões”, sublinha David Cadman. “É preciso trazer à planificação das cidades todos os intervenientes no processo”, acrescenta Tom Wright, director executivo da Associação para o Planeamento Regional norte-americana.

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