segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Passos recua mas manifestações vieram para ficar | iOnline

Passos recua mas manifestações vieram para ficar | iOnline

Partidos reconhecem o impacto das recentes manifestações no recuo da Taxa Social Única.

A abertura do governo para negociar as medidas de austeridade alternativas em substituição da subida da TSU para os trabalhadores pode vir tarde de mais. As repercussões dos protestos de 15 e 21 de Setembro mostraram aos portugueses que vale a pena sair à rua e que as manifestações têm um efeito rápido e prático nas decisões políticas.
“Não tenho dúvidas que esta mudança em relação à TSU aconteceu, não por causa do Conselho de Estado, do governo, da coligação, do PSD ou do CDS/PP, mas por causa das manifestações. Quem provocou este recuo foi um milhão de pessoas que saiu à rua e disse que não aceitava esta medida”, afirma ao i, João Semedo, deputado do Bloco de Esquerda. Mas o bloquista discorda que tenha sido só esta medida a despertar indignação. “O que levou as pessoas à rua não foi só a TSU, foi o conjunto de medidas de austeridade porque as pessoas têm noção que a austeridade é inútil” acrescenta o deputado.
Luís Campos Ferreira, deputado do PSD, considera que os protestos tiveram impacto na “abertura” do governo, “até porque não se pode meter a cabeça na areia e fingir que não aconteceu nada”. O social-democrata louva o “despertar de consciências da sociedade civil”, considerando este tipo de mobilizações “positivo. Não só se vê que as pessoas querem intervir, mas temos também dado uma lição de cidadania e democracia a muitos países europeus com as nossas manifestações”, acrescenta Campos Ferreira ao i.
Joaquim Dionísio, da CGTP, reconhece que a subida da TSU para 18% foi uma das medidas mais mobilizadoras, mas “as pessoas não se podem deixar iludir por este recuo”. “Há razão para as pessoas continuarem alerta” avisa o sindicalista, que considera que “a retirada destas medidas pode ser só para arrefecer os manifestantes”.
Em vez da TSU Luís Campos Ferreira explica que o governo procura agora “uma medida que possa substituir a subida da TSU e que tenha um consenso mais alargado” e confessa que gostaria que o ambiente acalmasse. “É preciso construir com a sociedade civil, com os parceiros sociais, mas também com a oposição, especialmente com o PS, um ambiente de moderação e serenidade para podermos resolver os problemas do país”, diz o deputado do PSD.
No entanto, as alternativas à subida da TSU até agora avançadas parecem continuar a insistir na diminuição do rendimento disponível dos trabalhadores, do público e do privado. “As pessoas quando metem a mão ao bolso e não sentem lá dinheiro, saem à rua. Nada vai serenar”, garante José Junqueiro, vice-presidente da bancada parlamentar do PS. O deputado socialista afirma que “as pessoas continuam a ser tratadas como números por Vítor Gaspar”.
Mariana Avelãs, tradutora e uma das organizadoras da manifestação de 15 de Setembro, considera que a queda da TSU não vai abrandar as demonstrações, até porque os protestos eram num sentido mais lato. “Ninguém estava na manifestação especificamente por causa da TSU, somos contra a degradação da qualidade de vida dos portugueses e neste momento não me parece que o corte nos subsídios vá aparecer como uma medida menos gravosa. E por isso as pessoas vão continuar a manifestar-se”, diz Avelãs. A organizadora do 15 de Setembro assegura “que mais do que nunca as pessoas perceberam que não estavam sozinhas” e por isso, “os protestos são para continuar”.
João Semedo também considera que mesmo que a medida mude, se se insistir no mesmo caminho, este só vai trazer mais pessoas para a rua. “Aqueles que se manifestaram a 15 e a 21 não vão aceitar mais austeridade, seja de que forma for”, denota o bloquista que assegura que “os portugueses se recusam a mais sacrifícios inúteis e desiguais”.

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