quarta-feira, 17 de julho de 2013

Portugal terá menos gente a trabalhar do que no tempo de Salazar - Dinheiro Vivo

Portugal terá menos gente a trabalhar do que no tempo de Salazar - Dinheiro Vivo

O período do programa de ajustamento da troika apagou do mercado de trabalho cerca de 500 mil empregos, sendo que já este ano Portugal terá menos pessoas empregadas do que em 1960. E em 2014 a situação deve piorar novamente. A destruição de emprego atingirá este ano proporções históricas: deverá cair 4,8% em 2013, o maior recuo anual desde 1960, pelo menos.
De acordo com o boletim económico de verão do Banco de Portugal, ontem divulgado, a transformação estrutural em curso, feita, sobretudo, com base na destruição do tecido produtivo mais virado para o mercado doméstico, irá colocar o número de empregos nos 4.432.000 este ano e 4.375.000 no próximo, abaixo dos valores do início da década de 60 do século passado (4.465.000 em 1960, por exemplo), estava o ditador António Oliveira Salazar no poder.
O mínimo histórico neste mais de meio século em análise aconteceu em 1986, ano da entrada do país na então CEE (hoje União Europeia) e depois de dois ajustamentos estruturais do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Portugal “precisa de mais investimento e exportações para sair da crise”, disse ainda ontem o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, mas à luz do que se perfila no investimento privado, a situação está cada vez mais sombria.
A recessão prevista para este ano pelo Banco de Portugal é ligeiramente mais leve do que a projetada pelo Governo, com o investimento a tombar quase 9% (depois de ter afundado 14,5% em 2012). Relativamente a 2014 o banco central admite que a reforma do Estado a começa a fazer estragos na retoma frágil, embora a instituição sublinha que só pode ser este o caminho para a confiança e para reduzir a incerteza, que bloqueia o financiamento da economia.
O cenário macro do boletim económico aponta assim para uma recessão de 2% em 2013 (as Finanças apostam em -2,3%). O banco governado por Carlos Costa refere que esta revisão em alta reflete "uma forte queda da procura interna e um aumento significativo das exportações” que vão crescer 4,7% em vez dos 2,2% projetados há três meses, na primavera.
O consumo das famílias cai um pouco menos, cerca de 3,4%, mas o recuo no investimento arrasará o mercado de trabalho, outra vez. A destruição de empregos de quase 5% fica assim bem longe já dos 3,9% estimados pelo Governo para este ano.
Reforma do Estado esmaga a retoma
O cenário para 2014 surge agora mais sombrio. A retoma de 1,1% prevista na primavera transforma-se num crescimento projetado de apenas 0,3%, também pior do que espera o governo (0,6%). "A projeção para 2014 foi revista 0,8 pontos percentuais em baixa, traduzindo, no essencial, o impacto da incorporação de medidas de consolidação orçamental entretanto conhecidas com maior detalhe" no orçamento retificativo e na sétima avaliação da troika, refere o BdP.
Assim, em 2014, emprego vai cair mais do dobro do esperado: 1,3% em vez de 0,6%.
Mas não fazer a reforma é pior, diz BdP
O estudo do banco central deixa implícito, no entanto, que se não houver um compromisso político que responda às exigências da troika para a reforma do Estado vai ser ainda pior. Os riscos para 2014 são "descendentes" pelo que poderá não ser de excluir uma nova recessão.
"As projeções para a economia portuguesa encontram-se rodeadas de uma incerteza particularmente elevada, associada aos recentes desenvolvimentos internos, que se adiciona às exigências da indispensável implementação do programa de ajustamento económico e financeiro", insiste.
E pior porquê? Porque sem um compromisso de médio e longo prazo para reduzir a dívida e o défice, regressará a incerteza que deitará por terra o reforço da capacidade de financiamento da economia e do Estado e de restauração da confiança, prejudicando seriamente o investimento privado e a criação de emprego, acredita-se na autoridade.
Este cenário em que a economia cresce 0,3% pressupõe que o Governo aplica os cortes previstos no Estado social em 2014, como prometido na sétima avaliação, levando a uma queda muito acentuada do consumo público, a um redução da despesa dos ministérios e a uma nova redução de salários dos funcionários públicos.

Sem estes sacrifícios, a incerteza voltará e será ainda mais destruidora, advoga o Banco de Portugal, que integra um dos elementos da troika - o Banco Central Europeu.

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