sexta-feira, 26 de julho de 2013

António Barreto: Políticos exigiram sacrifícios mas não sacrificaram os seus interesses - Dinheiro Vivo

António Barreto: Políticos exigiram sacrifícios mas não sacrificaram os seus interesses - Dinheiro Vivo

Os partidos políticos portugueses "exigiram à população enormes sacrifícios", mas, chamados a negociar, "foram incapazes de fazerem, eles próprios, o sacrifício dos seus interesses", analisa o sociólogo António Barreto.
António Barreto falava à Lusa, a propósito do segundo encontro "Presente no Futuro", agendado para 13 e 14 de setembro.
"Era necessário que todos os partidos, ou alguns deles, fizessem sacrifício das suas posições partidárias e dos seus interesses, e não o fizeram. Tendo, todavia, exigido que os portugueses ganhassem menos, pagassem mais impostos, ficassem desempregados, tivessem problemas muito sérios do ponto de vista social, económico e financeiros", criticou o sociólogo e ex-deputado.
   
A convicção de que "o interesse nacional é igual ao do partido" terá um preço, acredita o presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que está a ultimar a conferência "Portugal europeu. E agora?", agendada para 13 e 14 de setembro.
"Isto paga-se, no longo prazo, no médio prazo, paga-se. Quase ninguém hoje respeita os políticos, os partidos políticos, a não ser as tribos, a tribo do PS, a tribo do PSD, a tribo do CDS, a tribo do Bloco ou do PC, [que] respeitam o seu partido, como as claques de futebol", compara.
Comentando a relação entre Portugal e a União Europeia, o sociólogo afirma que esta passou de "remédio santo" a "responsável por todos os males", afirma.
António Barreto considera que "o pecado original na relação entre Portugal e a Europa reside no facto de nunca o povo português ter sido chamado a votar em referendo" sobre a integração, recordando que "quase todos" os outros europeus "um dia votaram a pertença" à UE.
Durante alguns anos, a Europa foi "receita para todos os males" e solução para todas as faltas. "Era um atalho para todas as nossas deficiências", resume.
E, na verdade, "Portugal progrediu imenso nestes 30 anos, em rendimento, bem-estar, conforto, alfabetização, saúde, segurança social", mas, à medida que foi crescendo, começou a ver "o lado de trás", as fragilidades da indústria e da economia, para além de uma "sociedade civil muito fraca" e de um "Estado muito pesado, muito gordo, muito taralhouco na sua organização e eficiência", retrata.
O sociólogo comentou ainda a Lei das Fundações, adotada pelo atual Governo, considerando-a "inaceitável" e defendendo regras diferentes para organismos públicos e privados.
   
Barreto critica o atual Governo por, apesar de dizer "que é muito favorável à sociedade civil", ter imposto às fundações privadas uma lei "inaceitável" e que coarta a "liberdade fundacional".

À frente da fundação criada em 2009 pelos descendentes de Francisco Manuel dos Santos, António Barreto dá um exemplo sobre a lei aprovada a 18 de fevereiro: quando redige os seus estatutos, uma fundação tem que inscrever um endereço; se quiser mudar de localização mais tarde, terá de mudar os estatutos, para mudar de estatutos terá de fazer uma assembleia geral, porque a lei a isso obriga, e para fazer essa assembleia geral terá de "pedir ao senhor Governo que autorize".
   
Portanto, para além de cumprir com várias regras legais, fiscais e notariais, uma fundação, para existir, precisa de "pedir o reconhecimento" do Executivo.

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