quarta-feira, 31 de julho de 2013

Estudo. Os genes sabem quando está a fazer o bem | iOnline - Notícias de Portugal, Mundo, Economia, Desporto, Boa Vida, Opinião e muito mais.

Estudo. Os genes sabem quando está a fazer o bem | iOnline - Notícias de Portugal, Mundo, Economia, Desporto, Boa Vida, Opinião e muito mais.

Prazer pelo prazer. É bom? É. Mas pode fazer-lhe mal à saúde e não é por causa de eventuais excessos. A conclusão é de um estudo dos EUA

É um refrão fora de época, mas a conversa lembra a canção que diz que o Pai Natal sabe se nos portámos bem ou mal, por isso é favor portarmo-nos bem. Steve Cole, investigador da Universidade da Califórnia (UCLA), é o autor de um estudo publicado esta semana que conclui que a felicidade parece ter um efeito benéfico no nosso sistema imunitário, mas só se resultar de propósitos nobres. "É uma boa forma de pôr as coisas", diz ao i, concordando com a música natalícia para explicar a descoberta. "Aparentemente os genes sabem quando estamos a fazer o bem mais do que a sentirmo-nos bem."
O estudo publicado na revista "Proceedings of National Academy of Sciences" (PNAS) relaciona pela primeira vez níveis de felicidade com a actividade dos genes. O objectivo era identificar mecanismos moleculares que possam estar por detrás de o facto do bem-estar psicológico ser uma vantagem para a saúde do ser humano, tese que tem vindo a ser explorada mais numa vertente epidemiológica.
Mas antes, porque a psicologia e filosofia dizem que a felicidade não é toda igual, submeteram 80 cobaias a testes de personalidade para perceber se os seus níveis de felicidade eram mais do tipo hedónico ou eudemónico, para usar as terminologias da academia. Trocando para miúdos, exemplificam, se as experiências de bem-estar dos participantes estavam mais vezes relacionadas com acontecimentos em que existe uma auto-gratificação pontual, como ter uma boa refeição ou, em contrapartida, se resultam de prosseguir um objectivo ou sentido de vida. É o caso do estar envolvido em voluntariado.
A conclusão, do ponto de vista psicológico, não foi inesperada. Apenas 22% dos participantes experienciavam mais vezes situações de bem-estar eudemónico que hedónico. Com este perfil em mente, os investigadores analisaram então genoma dos participantes e sobretudo a actividade de 53 genes com um papel determinante na inflamação, resposta antivírica e geração de anticorpos. Depois, foi só cruzar a informação, subtraindo eventuais impactos de outras características individuais como índice de massa corporal, consumo de tabaco ou álcool. Se ambos os tipos de felicidade já tinham sido associados a melhorias na saúde mental, reduzindo stress e depressão, no caso de doenças como o cancro ou problemas cardiovasculares, onde interferem a actividade dos genes analisados, o caso parece ser diferente, descrevem os autores no artigo. Se o bem-estar eudemónico foi associado a um perfil de actividade genética menos susceptível a stress celular, o bem-estar hedonista tem o efeito contrário. Isto independentemente de os participantes poderem sentir-se igualmente satisfeitos, o que prova que as células fazem uma distinção que pode escapar à consciência.
Barbara Fredrickson, co-autora e investigadora da Carolina do Norte, avança mesmo com uma comparação do campo das dietas para explicar a conclusão: as pessoas que têm mais vezes experiências de bem-estar hedónico consomem o equivalente, em termos emocionais, às chamadas calorias vazias, que enchem mas têm poucos nutrientes. "As suas actividades diárias dão-lhes felicidade a curto prazo, contudo têm consequências físicas negativas a longo prazo."
O comunicado da UCLA dá até um exemplo do que é um bem-estar eudemónico: pensem na Madre Teresa de Calcutá, sugere a universidade. Os efeitos negativos que encontraram nos genes dos hedonistas são semelhantes aos que já tinham associado a situações de stress, ameaça ou incerteza, situações que não geram bem-estar. Com este estudo percebe-se, contudo, que estar satisfeito não basta para inverter esse prognóstico, porque a felicidade hedonista tem um efeito semelhante a nível molecular aos níveis de bem-estar reduzidos.
Coles acredita que o bem-estar pode influenciar mecanismos que têm vindo a ser associados a resposta imunitária, seja em doenças neurodegenerativas, cardiovasculares ou cancro, o que diz corroborar de certa forma a teoria embrionária de que o materialismo pode ser um factor de risco para a saúde. E estarmos mais materialistas poderá ser um factor acrescido para termos mais doenças como cancro do que os nossos antepassados? "É possível", admite. Mas para o provar são precisos mais estudos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário