quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Lisboa. Ar de salas de aula do 1.º ciclo potencia alergias | iOnline

Lisboa. Ar de salas de aula do 1.º ciclo potencia alergias | iOnline

Todas as escolas monitorizadas pela Universidade de Aveiro ultrapassaram limites legais de poluição no ar, potenciando doenças como rinites ou asma

O ar que os alunos respiram nas salas de aula do 1.o ciclo em Lisboa é perigoso, potenciando o desenvolvimento de doenças alérgicas e respiratórias como asma ou rinite. O alerta surge num estudo da Universidade de Aveiro que, durante um ano, monitorizou os níveis de dióxido de carbono em 14 escolas públicas do ensino básico da capital e concluiu que todas ultrapassaram os limites permitidos por lei. Cerca de um terço dos estabelecimentos apresentaram quase o dobro "e algumas salas" atingiram o triplo dos valores legais, havendo até um "caso alarmante", em que as taxas de poluentes subiram sete vezes acima das recomendações impostas na legislação, avisa Célia Alves, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da universidade.
Além do dióxido de carbono, os medidores captaram valores elevados de monóxido de carbono ou a presença de bactérias e fungos: "O dióxido de carbono por si só não é um poluente, mas os níveis altos registados são um indicador de que na maioria dos casos a ventilação é muito má e que por isso se acumulam outros poluentes." A qualidade do ar nas escolas resulta de um cocktail em que entram outros ingredientes explosivos, que vão de salas de aula sobrelotadas a produtos de limpeza impróprios ou mobiliário desadequado.
Ventilação deficiente e turmas "grandes em salas pequenas" são os principais responsáveis pela má qualidade do ar, mas Célia Alves avisa que há outros factores a ter em conta, como a selecção de materiais usados nos móveis escolares ou trabalhos de remodelação feitos com os alunos na escola. A prova disso são os níveis encontrados de formaldeído, um químico emitido por produtos usados diariamente, como as tintas de parede ou o mobiliário, e que, quando inalado, pode provocar múltiplas alergias. Dependendo das concentrações e do período de contacto permanente com o químico, o formaldeído pode mesmo provocar cancro.
"Verificámos que em algumas salas os níveis de formaldeído eram preocupantes", diz Célia Alves. Isso significa que, por um lado, não houve uma selecção criteriosa do mobiliário e dos materiais de construção e, por outro, os espaços não tiveram ventilação adequada depois de se instalar o novo equipamento ou fazer obras: "Uma parte dos problemas ficariam resolvidos por exemplo se houvesse o cuidado de abrir as janelas várias vezes por dia ou se os trabalhos de remodelação fossem marcados para as pausas lectivas."
Outra parte da solução, contudo, implicaria maior investimento por parte da autarquia no parque escolar. O caso mais alarmante, aliás - uma escola que ultrapassou sete vezes os valores legais -, tem uma explicação simples, esclarece a investigadora. Ao contrário de outras salas com alunos entre as 9h30 e as 15h30, a sala de aula com o recorde na taxa de poluentes tem um uso intensivo com alunos de anos diferentes de manhã até às 19 horas.
Das cerca de 30 escolas que fazem parte do parque escolar do 1.o ciclo, a equipa de investigadores seleccionou 22 por uma parte delas estar em obras e poder enviesar os resultados. No entanto, só 14 direcções escolares é que autorizaram a presença dos investigadores da Universidade de Aveiro.
As escolas de Lisboa, no entanto, não são casos isolados. A equipa do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar recorreu a um projecto europeu para de- senvolver outros estudos em escolas do 1.o ciclo do Porto, Gaia e Aveiro e verificou que os resultados "foram muitos semelhantes aos de Lisboa", contou Célia Alves, que diz não poder divulgar ainda as conclusões enquanto a investigação não for oficialmente apresentada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário