terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eles já não passam sem o Facebook. Mas será que sabem comunicar? | iOnline

Eles já não passam sem o Facebook. Mas será que sabem comunicar? | iOnline

Estar no Facebook é já uma necessidade para os políticos. Mas especialistas afirmam que ainda não encontraram a melhor forma de comunicar

Os políticos portugueses já não passam sem o Facebook: comunicar em tempo real para um grande número de cidadãos é uma oportunidade e também uma necessidade. Mas daí a saberem comunicar numa rede social vai um passo. Especialistas contactados pelo i consideram que os políticos ainda não encontraram a melhor forma de “estar online”.
Duarte Marques, líder da JSD e deputado, diz que esta é uma “ferramenta fundamental de trabalho”. “Na Assembleia há quem esconda que está no Facebook, mas eu faço questão de mostrar. Recebo muitos contactos via Facebook”, afirma. E dá um exemplo: numa audição do ministro da Educação recebeu, através da rede social, queixas de alunos de uma Faculdade em Aveiro que já tinham pago as dívidas, mas ainda não tinham tido direito a bolsa de estudo. O líder da jota questionou o ministro na hora, com este a garantir que ia resolver a situação.
Também José Ribeiro e Castro, do CDS, afirma que já fez perguntas e requerimentos no parlamento a partir de questões colocadas por cidadãos no seu Facebook. O deputado usa a rede social essencialmente para divulgação da actividade política. “Permite o contacto regular com pessoas que me queiram seguir e, apesar de não ser uma amostra estatística, dá para ter uma ideia das reacções que uma ou outra coisa provoca”, explica.
Duarte Marques tem duas páginas: uma mais pessoal, onde coloca fotos de férias e músicas, e outra mais profissional. Mas ambas servem para divulgar a sua actividade política. “Acho que com o Facebook as pessoas acabam por perceber que os políticos são pessoas normais”, diz. Já Miguel Tiago, deputado do PCP, afirma que usa o Facebook “um pouco como um grupo de amigos” e não como um “canal oficial”. “Quando me fazem perguntas que tenham mais a ver com o partido ou o grupo parlamentar peço para me enviarem um email para o meu endereço da Assembleia”, diz. E duvida que a rede social de Mark Zuckerberg seja o “canal ideal” para a comunicação política porque “a esmagadora maioria do povo não tem acesso ao Facebook”.
Para João Quelhas, presidente da Associação Portuguesa de Comunicação e Marketing Político, a maioria dos políticos ainda usa o Facebook de “forma amadora”. “Utilizam-no com o formato da política tradicional, vários colocam discursos por inteiro, muitos adoptam uma linguagem formal e têm fotos de fato e gravata”, refere. A rede social é um meio de comunicação informal e por isso os políticos, se querem cativar os cidadãos, devem saber adaptar-se: “Não podem só debitar, têm de saber interagir.”
Também António Costa Pinto afirma que o Facebook “não é utilizado como uma plataforma de interacção e debate” pelos políticos, o que é um erro. Contudo, o politólogo acrescenta que trouxe à classe política uma “maior democratização da visibilidade”. Partidos pequenos ou dirigentes com menos notoriedade podem agora aproveitar a rede social para se fazer ouvir.
Foi via Facebook que o líder do BE, Francisco Louçã, anunciou que ia deixar a liderança do partido. E foi também por este meio que Cavaco Silva instou o BCE a comprar dívida de Portugal e da Irlanda. Há quem conteste o facto de uma figura institucional, como o Presidente da República, lançar uma mensagem exclusivamente através do Facebook. “Acaba por ser o mesmo que uma opinião dada à margem de uma qualquer inauguração, simplesmente não tem perguntas, não é espontâneo, não se arrisca a gaffes nem tem um carácter tão formal”, considera Costa Pinto.
Em perfis institucionais, como o do Presidente da República ou do primeiro-ministro, é usual que não seja o próprio a fazer a gestão da conta e por isso não há uma resposta às perguntas que lá são deixadas. “Seria impensável o primeiro-ministro estar sempre no Facebook, mas também seria impensável ter alguém a responder que não o primeiro-ministro. A esquipa não poderia inventar respostas pelo próprio nem dar respostas standard. Em comunicação isso não funciona, só irritaria o cidadão”, explica Marta Sousa, responsável pela comunicação digital do governo. João Quelhas refere que ainda há páginas “muito conservadoras” que não permitem publicações no mural ou comentários: “Ainda há receio do tipo de exposição que o Facebook possa ter.”
Quanto a comentários insultuosos, Marta Sousa é peremptória: “São apagados todos os comentários ofensivos. Todos os outros, mesmo que não sejam abonatórios, não são apagados.” Duarte Marques, Ribeiro e Castro e Miguel Tiago concordam nesta questão: quando recebem insultos ou ofensas, apagam esses comentários.

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