quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Cancro. Hospitais recuam para remédios mais antigos para poupar | iOnline

Cancro. Hospitais recuam para remédios mais antigos para poupar | iOnline

A despesa dos hospitais com remédios para o cancro caiu 5% no primeiro semestre deste ano, tanto como no ano passado. Se a revisão anual dos preços e os descontos comerciais são algumas das explicações invocadas para os medicamentos em que não há novos genéricos no mercado, há pelo menos uma substância em que a causa é o recuo para tratamentos mais antigos. Nos primeiros meses de 2012, a despesa com o medicamento capecitabina, indicado para o cancro do cólon, caiu 10,4%. Os hospitais estão a retomar o uso do medicamento anteriormente indicado para o mesmo tipo de diagnósticos, o 5-fluorouracilo, confirmou o i junto da Roche, a empresa que comercializa a capecitabina, e de médicos.
Ao contrário da opção mais recente – um comprimido –, este medicamento tem de ser administrado por via intravenosa, o que obriga os doentes a deslocar-se ao hospital. Além da menor comodidade do tratamento, quando o Infarmed autorizou a utilização da capecitabina nos hospitais, em 2010, concluiu que havia vantagens económicas, uma vez que os custos (com a diminuição no uso de dispositivos médicos e deslocações) eram inferiores. Porém, os hospitais, ao administrar este medicamento, podem facturar um episódio clínico ao Estado, enquanto na dispensa do medicamento – não havendo um financiamento autónomo desta medicação dispensada nas farmácias hospitalares – saem penalizados no orçamento. Além disso, a capecitabina só agora tem um genérico aprovado (ainda não está à venda) e o 5-fluorouracilo tem quatro apresentações disponíveis, a primeira desde 1993. Este expediente para reduzir custos é, contudo, recente: em 2011, a despesa com capecitabina nos hospitais aumentou 13,8%, para 6,6 milhões de euros. Este ano, no primeiro semestre, os hospitais gastaram só 2,9 milhões com este medicamento.
Este caso de recuo para tratamentos mais antigos não será o único nos hospitais do país, apurou o i. Não é possível, contudo, perceber o significado desta opção. A nível central, não é feita uma análise que avalie se os doentes oncológicos, em função dos seus diagnósticos, estão a ter os tratamentos indicados. Restam, portanto, as suspeitas levantadas pontualmente por doentes, médicos e associações. Também a Apifarma respondeu ao i que não dispõe de dados que permitam avaliar a quebra na despesa.
Os dados do Infarmed, nas monitorizações mensais, são por isso o único balanço disponível. Além da capecitabina, há quebras em seis medicamentos oncológicos. O Infarmed só justifica a maior: o medicamento docetaxel, indicado para diferentes cancros, e que este ano já custou menos 76,9% aos hospitais. Em causa está a introdução no mercado de diferentes apresentações genéricas, este ano obrigadas a apresentar preços 50% inferiores aos medicamentos de marca. O papel dos genéricos na redução da despesa termina, porém, aqui. A despesa com o medicamento sorafenib – indicado, por exemplo, para cancro renal avançado –, sem genérico, caiu 32,5%.
Segundo o i apurou, houve uma alteração nas indicações terapêuticas, mas isso poderá não ser suficiente para explicar a quebra. Contactado, o laboratório que comercializa o medicamento (Bayer) não respondeu. O mesmo aconteceu com outras farmacêuticas responsáveis por outras substâncias com quebras e sem genérico no mercado: Pfizer e Merck.
Só a Roche respondeu ao i, afastando cenários de racionamento de medicamentos. Um dos medicamentos deste laboratório que apresenta uma quebra significativa é o trastuzumab, indicado para 15% a 18% dos novos casos de cancro da mama e 20% dos casos metastizados, explicou ao i o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro e especialista nesta área, Carlos Oliveira. O médico alerta que quebras no consumo deste medicamento, não explicadas por condições comerciais, seriam muito preocupantes, dado que significariam haver doentes a ser mal tratadas. “É um medicamento obrigatório, complementar da cirurgia.”
José Tavares de Castro, porta-voz da Roche, esclareceu ao i que tanto no caso do trastuzumab (que teve uma quebra de 6,1% na despesa) como no medicamento indicado para cancros do sangue rituximab (-4,1%), a explicação está na alteração das condições comerciais, descontos e revisão de preços. O responsável admite, contudo, que possa haver quebras ligeiras nas vendas de ambos os medicamentos, mas que elas também poderão ser explicadas por mudanças na gestão dos stocks nos hospitais.

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