quinta-feira, 16 de julho de 2015

Descobertas primeiras causas genéticas da depressão - Ciência - DN

Descobertas primeiras causas genéticas da depressão - Ciência - DN



Descobertas primeiras causas genéticas da depressão
Fotografia © Fernando Fontes / Global Imagens
Os resultados podem ajudar a desenvolver medicamentos mais adequados às verdadeiras causas biológicas da depressão. Um em quatro portugueses diz já ter sofrido da doença.
Um estudo científico histórico confirmou pela primeira vez uma ligação entre algumas sequências genéticas específicas e a depressão. O estudo não tem precedentes, e abre caminho para a compreensão da biologia da depressão, assim como possibilidades para novos tratamentos. Publicado na revista científica Nature, o estudo está a entusiasmar a comunidade científica.
Conforme explica um jornalista da Nature, o resultado do estudo foi surpreendente mesmo para os próprios investigadores envolvidos, que sabiam que, no passado, estudos semelhantes não tinham conseguido encontrar nenhuma sequência genética que estivesse relacionada com o desenvolvimento de sintomas de depressão.
No entanto, esta investigação relativamente pequena, cuja amostra era composta por cerca de 5000 mulheres da etnia chinesa Han, conseguiu encontrar duas sequências genéticas, ou seja, variações específicas no código genético das pessoas, no décimo cromossoma, que estão relacionadas com depressão. Essas sequências são responsáveis por menos de um ponto percentual da hipótese que alguém tem de desenvolver depressão, mas a descoberta em si tem muita importância científica. Estes resultados "podem levar a possibilidades de tratamento que até hoje eram impossíveis", disse à revista The Verge um dos autores do estudo, Kenneth Kendler, da Universidade de Virginia Commonwealth.
A depressão afeta milhões de pessoas no mundo. Em 2011 Portugal era o país europeu com maior taxa da doença, e tinha a segunda maior do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos. Um em cada quatro portugueses admite já ter sofrido de depressão.
Porquê desenvolver o estudo na China?
Encontrar uma causa genética para a depressão não é tarefa fácil, visto que esta doença se manifesta através de sintomas muito heterogéneos, e pode desenvolver-se devido a fatores ambientais que são difíceis de distinguir de outras causas. Foi para reduzir esse efeito que os cientistas se focaram apenas em mulheres de etnia Han, que viviam na China e que tinham procurado ajuda psiquiátrica para lidar com a doença. Visto que a China tem menor prevalência de depressão do que a maioria dos países ocidentais, os fatores ambientais que causam depressão estariam presentes com menor intensidade, permitindo estudar melhor a parte genética da questão.
As duas sequências genéticas encontradas serão uma parte antiga do genoma humano, cujo aparecimento antecede a saída de África. No entanto, quando o grupo de cientistas que realizou o estudo tentou verificar aquilo que tinham encontrado no genoma da população europeia, descobriu que isso não era possível. Uma explicação será a de que essa parte do genoma varia amplamente entre a população europeia e a da Ásia Oriental, pelo que fazer comparações entre etnias diferentes pode ser difícil ou mesmo impossível.
Alguns cientistas estão cépticos acerca da validade do estudo, porém. "Tenho alguma dificuldade em decidir até que ponto acredito nos resultados", disse à Verge o geneticista David Cutler, da Universidade de Emory, que não pertenceu à equipa que desenvolveu o estudo. O cientista critica a estratégia usada para verificar os resultados.
No entanto, Kenneth Kendler está mais otimista. A descoberta, afirma, pode ajudar os cientistas a perceber melhor como funciona a biologia por detrás da depressão, ou seja, a forma como esta altera o funcionamento do corpo humano para causar os seus sintomas, o que possibilitaria o desenvolvimento de medicamentos mais adequados. "A maioria dos antidepressivos que são usados agora baseiam-se em hipóteses biológicas que têm mais de 50 anos", disse o cientista co-autor do estudo à Verve. O estudo foi coordenado pelo cientista Jonathan Flint, da Universidade de Oxford.

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