sábado, 14 de novembro de 2015

Cimeira do clima. A última cartada pela sobrevivência do planeta - ionline.pt

É considerada a derradeira cimeira sobre alterações climáticas. Se não se chegar depressa a um acordo, só nos resta esperar pelo fim apocalíptico.

Secas extremas, fome, sede, refugiados a procurar por água ou a fugir da subida dos mares. Cidades inteiras engolidas pelas cheias, falhas energéticas, colheitas arrasadas, economias paradas, escassez de alimentos, para não falar da sustentabilidade das espécies, entre as quais a humana está incluída. O cenário é apocalíptico e assemelha- -se ao fim do mundo que muitos realizadores já imaginaram na sétima arte. E é já um dado adquirido que as alterações climáticas provocadas pela acção humana nos últimos séculos não fazem só parte da ficção.
O problema é antigo e não vai afectar apenas os que habitam hoje o planeta Terra – caso contrário o alarme soaria mais alto –, mas sobretudo as gerações futuras, que vão ser as principais vítimas das mudanças climáticas e do aquecimento global.

A Cimeira do Clima (COP 21), que este ano acontece em Paris a partir do dia 30, é já considerada pelos especialistas a última oportunidade para chegar a um acordo universal, um consenso principalmente entre as grandes potências mundiais, que suavize o fenómeno. Sim, porque já ninguém consegue impedir a mudança climática. Essa batalha já está perdida, avisou recentemente a responsável pelas alterações climáticas da ONU, Christiana Figueres. É que a enorme quantidade de gases do efeito de estufa – principalmente o dióxido de carbono (CO2) – que a humanidade expeliu para a atmosfera torna o aquecimento irreversível e as consequências já se começam a sentir. 
Recordes de temperatura A subida dos termómetros é um dos efeitos que já estamos a enfrentar. Segundo uma previsão do Met Office (o instituto meteorológico britânico), as temperaturas médias globais à superfície terrestre vão superar este ano, pela primeira vez, um grau Celcius os níveis verificados na era pré-industrial. Apesar de todos os esforços e de 20 cimeiras dedicadas ao clima, a concentração de gases de efeito de estufa bateu em 2014 um novo recorde, tendo-se registado níveis nunca alcançados nos últimos 30 anos, alertou a Organização das Nações Unidas. 

Entre temperaturas mais altas que o normal para a época (quem não se começa já a habituar aos Verões fora de tempo?), enxurradas devastadoras, como as últimas cheias de Albufeira, no Algarve – falando apenas do nosso país – e a subida do nível das águas que em poucas décadas farão desaparecer cidades inteiras, como Miami e Nova Orleães, já todos percebemos que algo tem de ser feito. Não para impedir que isso venha acontecer, mas para atrasar a chegada desse momento.

Acordo à vista? Em cima da mesa da derradeira cimeira, a 21.a, vão estar várias formas de compromisso – entre os 195 países que vão estar presentes – para conseguir, pelo menos, reduzir as emissões de dióxido de carbono, tornando o problema um pouco menor. O grande objectivo é chegar a um acordo internacional que mantenha a subida da temperatura global do planeta abaixo dos 2oC até 2100, contrariando a provável subida de 5oC que irá acontecer se nada for feito.
Discórdias A maneira como nos podemos preparar para as já inevitáveis calamidades será outro dos tópicos discutidos em Paris até 12 de Dezembro. Mas impor limites de emissão de dióxido de carbono tem estado longe de reunir consensos num mundo minado de interesses económicos, sobretudo dos principais poluidores (China, Estados Unidos, Rússia e Índia) e de grandes empresas multinacionais, a que custa abdicar do negócio em prol das questões ambientais. Disso é exemplo o mais recente escândalo da Volkswagen, que descurou por completo a emissão de gases poluentes.

A boa notícia é que durante o período que antecede a cimeira parisiense, 156 países, incluindo os Estados Unidos e a China, já apresentaram propostas de metas nacionais para reduzir as emissões de gases, geradas pela queima de combustíveis fósseis na indústria, nos transportes e no sector agrícola. Depois do fracasso da cimeira de 2009, em Copenhaga, onde se pretendia substituir o Tratado de Quioto (do qual os EUA e a Rússia deixaram de fazer parte), e da Cimeira do Peru no ano passado, em que esse objectivo voltou a não concretizado, as propostas que vão a Paris podem ser um sinal de que desta vez pode mesmo chegar-se a um acordo amplo nesta matéria. Algo que nunca aconteceu em 20 anos de negociações. 

É pelo menos essa a vontade reiterada de Barack Obama, que pediu a todos os líderes mundiais que não poupem esforços na missão de atingir um “forte acordo”, avisando que “todos os países serão afectados pelas alterações climáticas, mas serão os mais pobres a carregar com o fardo”.

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