domingo, 22 de março de 2015

Perguntas e respostas. Bilderberg explicado aos mortais | iOnline

Perguntas e respostas. Bilderberg explicado aos mortais | iOnline



Pouco de oficial há para contar sobre o mais restrito e elitista clube do mundo. Sabe-se que foi fundado em meados da década de 1950 e pouco mais. Apesar disso, os Bilderberg garantem que não são uma sociedade secreta porque os lugares das reuniões e a lista de convidados são públicas. Porém, o que acontece nessas reuniões é segredo. Os convidados têm de se sujeitar à “Regra de Chatham House”, que os obriga a não revelar nomes nem contar quem disse o quê nas conferências. É claro que o sigilo é quebrado, volta e meia. Mas não tantas vezes como se poderia imaginar para um clube que já convidou milhares de personalidades para o seu megaevento anual, cuja organização ronda sempre os 2 milhões de euros. Também por isso, o que mais há para contar sobre Bilderberg são as teorias da conspiração: há quem diga que querem controlar o mundo, que inventaram os Beatles e, mais recentemente, que fabricaram a crise europeia
Que é o clube Bilderberg?
Oficialmente é uma conferência anual que tem por objectivo fomentar o diálogo entre a América do Norte e a Europa. “Não há agenda de trabalhos, não são propostas resoluções nem há declarações políticas”, explica o site oficial, que esclarece ainda que todos os anos entre 120 e 150 líderes políticos, académicos e especialistas das áreas da finança, media e indústria são convidados a participar: “Cerca de dois terços dos participantes são provenientes da Europa e os restantes da América do Norte.” Um terço são políticos e governantes e os restantes convidados dedicam-se a outras áreas.
“A conferência é um fórum de discussão informal sobre as principais tendências e assuntos do mundo”, continua o site. Porém, há quem garanta que se trata de um clube exclusivo e secreto onde são construídas conspirações e onde é decidido o futuro do mundo. Até porque só são convidados líderes políticos, banqueiros influentes, empresários milionários e donos de grandes grupos de comunicação social.
Se é só uma conferência, porque  é que se diz que é um clube?
Porque alguns participantes são frequentadores regulares e também pelo carácter secreto dos temas discutidos durante os encontros.
Quando foi fundado?
O Bilderberg existe desde 1954 e a participação portuguesa está documentada desde 1988, ano em que Francisco Pinto Balsemão foi vice--presidente da reunião anual.
O nome foi inspirado no Hotel de Bilderberg, na Holanda, local da primeira reunião. O encontro foi proposto pelo conselheiro político polaco Jósef Retinger, preocupado com o crescimento do antiamericanismo na Europa ocidental. A ideia foi proposta ao príncipe da Holanda e ao primeiro-ministro belga e a lista de convidados deveria contemplar duas pessoas por país, de diferentes posições políticas. A conferência passou a realizar-se todos os anos e Retinger foi nomeado secretário permanente.
Que outros líderes teve o clube?
Retinger foi substituído em 1960 por Erns van der Beugel, que em 1976 se afastou por causa do escândalo Lockheed, de subornos e favorecimento na compra de aviões militares. Desde 1977 o presidente das reuniões é Alec Douglas-Home, ex-primeiro-ministro britânico. Walther Scheel, ex-presidente da Alemanha, Eric Roll, ex-presidente do banco SG Warburg e Lorde Carrington, ex-secretário-geral da NATO foram outros dos presidentes.
Quantas vezes se reúne?
Uma vez por ano, em Maio ou Junho, em diferentes partes do mundo e de quatro em quatro anos nos EUA ou no Canadá.
Onde é o encontro deste ano?
Este ano, a 63.ª reunião do clube acontecerá nos Alpes austríacos, no Interalpen-Hotel Tyrol, um luxuoso hotel próximo de Telfs. O encontro decorrerá entre os dias 11 e 14 de Junho, logo a seguir à reunião do G7, que acontece na Alemanha, em Schloss Emau, a 3 quilómetros da Áustria. A operação de segurança será conjunta para os dois eventos. As autoridades austríacas já revelaram que uma zona de 30 milhas em torno do hotel estará interdita a voos.
Os convidados podem revelar o que viram e ouviram?
Não. Os participantes nos encontros têm de se sujeitar à “Regra de Chatham House”, uma espécie de regulamento que estabelece que são “livres” de utilizar a informação que receberam nas reuniões, mas não podem, porém, revelar a identidade e a afiliação dos palestrantes ou dos restantes convidados. Os organizadores defendem que o sigilo promove a livre expressão. Nas regras lê-se que “o convidado deve aparecer sozinho, sem mulher, marido ou companheiros. O pessoal de segurança não pode assistir à conferência, devendo aguardar pelos convidados em salas separadas. Os convidados estão explicitamente proibidos de dar entrevistas ou divulgar o que quer que seja que tenha acontecido nas reuniões”.
O que se discute?
Desde há uns anos, a agenda de temas é publicada no site oficial. No ano passado, por exemplo, a lista de tópicos incluía vários capítulos dedicados à crise, nomeadamente a sustentabilidade da recuperação económica ou o poder da China no tabuleiro da política e da economia. No encontro de 2013, que aconteceu no Hertfordshire, Inglaterra, o clube debateu assuntos que incluíram o cibercrime, a política externa americana, “desenvolvimentos no Médio Oriente” e “os desafios africanos” – apesar da ausência de representantes destas regiões. Há cinco anos os temas andaram à volta da reforma financeira, de segurança, energia, Paquistão, Afeganistão, aquecimento global, escassez mundial de alimentos, além do tema favorito: as relações entre a União Europeia e os Estados Unidos.
Que países participam?
Só podem participar residentes na Europa ou na América do Norte. Nas reuniões dos últimos anos estiveram representados pouco mais de 20 países.
Que personalidades actuais já passaram pelas reuniões?
Seria mais fácil dizer quem ainda não foi convidado porque a lista, ao longo dos últimos 60 anos, é extensa e engloba figuras que vão da alta finança ao mundo empresarial, passando pela politica, pela comunicação social e por organismos intergovernamentais. O presidente Obama já passou por lá, claro, tal como Bill Clinton, em 1991 – dois anos antes de ser eleito presidente dos Estados Unidos. Mario Monti, antigo primeiro-ministro de Itália, a chanceler Angela Merkel, Nubuo Tanaka, director executivo da Agência Internacional de Energia, Bill Gates, da Microsoft, ou Nicolas Beytout, editor do jornal francês “Le Figaro”, também já passaram pelas reuniões do clube. O rei de Espanha, Juan Carlos, a rainha Sofia e o príncipe Carlos foram algumas figuras da realeza que também passaram pelo encontros anuais.
E personalidades históricas?
O banqueiro e filantropo americano David Rockefeller esteve nas reuniões três anos consecutivos, entre 2008 e 2011, Margaret Thatcher foi convidada pelo menos três vezes, em 1975, 1977 e 1886. Henry Kissinger, o diplomata americano que mais influência teve na política estrangeira nos anos 60, esteve 13 vezes nas reuniões de Bilderberg. São apenas alguns exemplos.
Qual é a estrutura do clube?
Do pouco que se sabe, existirá um círculo exterior, composto por quem participa só nos encontros e não está filiado. Já o círculo interior, chamado Steering Comitte, é composto só por Bilderbergs. Existirá ainda um terceiro núcleo, mais restrito: o Advisory Comitte, constituído por nove elementos, entre os quais Giovanni Agnelli e David Rockefeller. É a partir do segundo congresso, realizado em França entre 18 e 20 de Março de 1955, em Barbizon, que a ideia de tornar estes encontros anuais vai ganhando força e surge a necessidade de criar um secretariado permanente. O presidente do clube contou durante muito tempo com a ajuda de dois secretários-gerais, um para Europa e outros para os Estados Unidos. Cabe ao Steering Comitte preparar o seminário com antecedência e definir a lista de convidados.
Quem faz parte dos comités organizadores?
Josef Ackermann, banqueiro suíço e director do Deutsche Bank, Roger C. Altman, banqueiro americano e ex-
-conselheiro das campanhas eleitorais de John Kerry e de Hillary Clinton, Francisco Pinto Balsemão, fundador da SIC e único português membro permanente, ou J. Martin Taylor, ex-deputado britânico e presidente do gigante da química e da actividade agro-alimentar Syngenta, são alguns dos 32 nomes que compõem o conselho.
Quais são as teorias da conspiração mais vezes apontadas?
O mistério é o melhor aliado das teorias da conspiração e ao longo das últimas décadas foram construídas dezenas em torno do exclusivo clube. A mais referida é que o clube pretende governar o mundo. Para o conseguir vai colocando membros em lugares-chave. Já a teoria mais recente responsabiliza Bilderberg pela crise da Europa, que terá sido provocada. Há também quem garanta que, há 50 anos, Nixon e Henry Kissinger persuadiram a China a aliar-se aos EUA. Mas há mais: o 11 de Setembro terá sido planeado pelos Bilderberg (que, para alguns, são uma seita de adoração do Diabo), que também estiveram por trás da ascensão dos Beatles e dos Rolling Stones e fizeram eclodir o caso Watergate. Enfim, um dossiê inteiro não chegaria para descrever todas as teorias de conspirações.
Há provas de que tenham influência nos destinos do mundo?
Não propriamente, apesar dos muitos rumores sobre coincidências entre temas discutidos na reunião anual e medidas posteriormente implementadas e com impacto mundial. Em 2010, o ex-
-secretário-geral da ONU Willy Claes admitiu, numa entrevista de rádio, que os participantes são na realidade obrigados a implementar as decisões que forem formuladas durante a conferência. O clube nega terminantemente que assim seja.
Quem são os principais críticos do clube?
Daniel Estulin, jornalista, investiga o clube há quase 20 anos. No livro “The True Story of the Bilderberg Group” – que terá tido dificuldades de publicação em Portugal – conta como o clube tenciona dominar o mundo.  Estulin tem-se dedicado a dar conferências um pouco por todo o mundo denunciando os objectivos dos “senhores do mundo” e garante que tem sofrido represálias. Diz que é vigiado 24h por dia por equipas de antigos agentes especiais do KGB. Também contou que uma mulher vestida de vermelho tentou seduzi-lo num hotel para depois se atirar de uma janela e o implicar num caso de homicídio. Antes disso, alguém já teria tentado matá-lo sabotando um elevador. A ele juntou-se, mais recentemente, a jornalista espanhola Cristina Martín Jiménez. No livro “O Clube Secreto dos Poderosos – os Planos Ocultos de Bilderberg”, explica como a crise europeia terá a mão do clube. Ao longo do último meio século foram publicadas dezenas de livros pouco abonatórios para Bilderberg. O primeiro foi escrito por um antigo suboficial dos serviços secretos da Marinha americana. Em “Behold a Pale Horse”, de 1964, Milton William Cooper denunciava um plano de criação de um governo global.
Como é que os bilderberg tencionam dominar o mundo, segundo as teorias da conspiração?
Daniel Estulin garante que os Bilderbergs querem subjugar o mundo a um único governo, uma única moeda, um único exército e um só sistema judicial e de educação. Tudo com o apoio da ONU – que servirá de instrumento de domínio. O poder mundial seria composto pelos “controladores”, agentes conscientes (partidos políticos) e agentes inconscientes. A dominação, explica o jornalista, é feita através da ideologia e, se necessário, com recurso ao terrorismo. Da lista de controladores constam, entre outros, o FMI, o Vaticano e a OCDE. Uma parte importante do plano passará por conseguir o comando dos países emergentes e subdesenvolvidos que detêm reservas minerais – da água ao petróleo. É aqui que entram uma série de ONG ambientalistas que, no terreno, vão desaculturando os povos e semeando a discórdia e a fome.
O euro terá sido planeado pelos bilderbegs?
Há quem garanta que sim. Nos documentos divulgados pelo Wikileaks, o clube é apontado como responsável pela construção da moeda única europeia. Essa hipótese terá sido referida nas reuniões logo na década de 1950. E o presidente Bilderberg Étienne Davignon ter-se-á até gabado de que o euro foi, de facto, uma construção do clube.
Como se defendem os bilderbergs?
Para o belga Étienne Davignon, antigo vice-presidente da Comissão Europeia, é um delírio pensar que o mundo pode ter um único comando. “Não creio que exista uma classe governante global”, respondeu em 2005 a um jornalista da BBC, justificando a reunião anual como um encontro de “pessoas influentes interessadas em conversar com outras pessoas influentes”. O ex-primeiro-ministro britânico Denis Healey, umas das presenças mais constantes nestes encontros, só tem elogios para o clube: “O Bilderberg é o grupo internacional mais útil no qual participei. A confidencialidade permite às pessoas falarem honestamente, sem medo das repercussões.

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