quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Há tantos licenciados desempregados quantos com a quarta classe - Dinheiro Vivo

Há tantos licenciados desempregados quantos com a quarta classe - Dinheiro Vivo

Há tantos desempregados licenciados quanto pessoas com a quarta classe completa nessa situação – cerca de 138 mil de um lado e de outro –, indicam dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados pelo gabinete de estudos do Ministério da Solidariedade.E no capítulo do desemprego de longa duração (há um ano ou mais), os diplomados são, de longe, os mais penalizados pelo fenómeno: desde o início de 2011 que este grupo engordou 84% (quase duplicou), atingindo agora 70,4 mil pessoas, quase tantos quanto os 74,6 mil indivíduos na mesma situação, mas com apenas o ciclo preparatório (2º ciclo do ensino básico) concluído.
É, justamente, no grupo dos licenciados que o número de desempregados de longa duração subiu de forma mais agressiva quando comparado com os restantes níveis de ensino (mais baixos). Atualmente, metade dos licenciados desempregados está nessa situação há mais de um ano.
“O diagnóstico do problema está feito há já alguns anos, mas com o agravamento da crise alastrou-se às qualificações que dantes tinham mais procura pelas empresas”, diz Manuel Caldeira Cabral, professor de Economia da Universidade do Minho.
Para o economista, “atualmente a esmagadora  maioria das empresas, mesmo as mais competitivas e com os chamados negócios de futuro, no sector dos transacionáveis [exportadores] está com grande dificuldade em assumir compromissos de curto e médio prazo a nível do emprego e, no caso em apreço, na contratação de pessoas qualificadas, em áreas como engenharias, economia, gestão”.
“Mesmo nestes casos, para haver contratação tem de haver aumento de capacidade instalada – por exemplo, comprar máquinas novas, atualizar tecnologias, evoluir para a oferta de produtos melhores - e isso só se faz com um acesso normal ao financiamento que não existe. O mesmo em relação ao acesso a fundos de tesouraria. Conheço imensos exemplos de boas empresas, algumas exportadoras, mas em sectores sazonais, que estão a ser simplesmente travas pelo custo do crédito para tesouraria”.
Caldeira Cabral acrescenta que, para além da questão do crédito, “as empresas defrontam-se com um problema de expectativas muito pobres para a atividade económica e para a procura externa, sobretudo as que estão viradas para o mercado europeu”.
Crise de crédito e expectativas mínimas
Ou seja, continua, no tempo em que Portugal ainda crescia ligeiramente “existia um desfasamento crónico entre os tipos de formação superior disponíveis no mercado e os perfis que as empresas mais procuravam. As formações superiores mais técnicas ou assentes em áreas de matemáticas e engenharias estavam em falta quando os empresários decidiam munir os projetos de investimento com pessoas mais qualificadas, sobretudo os ligados a áreas de exportação como tecnologias de informação ou serviços consultoria em engenharia e construção”. Mas agora nem esses estão a salvo.
Com a crise da dívida e a interrupção dos fluxos normais do crédito à economia, muitos projetos foram suspensos ou ficaram pelo caminho. Os empresários queixam-se de que até mesmo as atividades exportadoras estão com dificuldade em fazer caminho, referem com insistência João Vieira Lopes, da CCP (comércio e serviços) é António Saraiva, da CIP (indústria).
Depois, a recessão económica e a forte quebra na procura interna ditaram simplesmente o encerramento de muitas empresas, arrasando com o tecido das micro e pequenas empresas (a maioria em Portugal, responsável por quase 80% do emprego total) e os postos de trabalho associados, mostram as estatísticas oficiais.
Assim, mesmo os mais qualificados deixaram de encontrar facilmente trabalho, o que tem motivado muitos a emigrar e a procurar oportunidades fora de portas.
Governo também sente falta de resposta por parte das empresas
O Governo reconhece que há uma falta de resposta interna. Por exemplo, os programas lançados para combater o desemprego das pessoas entre os 18 e os 35 anos, caso do Impulso Jovem, que arrancou em junho, tiveram resultados “bastante aquém” do esperado, admitiu já o próprio ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.
O programa estava desenhado para apoiar a contratação de 90 mil jovens, mas a resposta das empresas acabou por ser fraca. Até finais de 2012, tinha apoiado apenas mil pessoas, apesar de um orçamento de 344 milhões de euros para apoiar as empresas com uma redução da Taxa Social Única (TSU) de 90%, até ao montante máximo de 175 euros, na contratação a termo (pelo menos durante 18 meses) de jovens desempregados de longa duração.

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